EDITORIAL
Joacine e o Livre
livraram-se
Caso aceite a
retirada de confiança e ceda o seu lugar no Parlamento, Joacine Katar Moreira
não se poderá vitimizar por ser mulher, negra e gaga. Só se poderá lamuriar de
si própria.
17 de Janeiro de
2020, 6:30
Joacine Katar
Moreira livrou-se do Livre e o Livre livrou-se de Joacine Katar Moreira. A dois
dias da convenção partidária que irá eleger a nova direcção, a assembleia do
partido (o órgão máximo entre congressos) partilhou com os militantes uma
proposta de retirada da confiança política à sua única deputada — aprovada
unanimemente pelas quatro dezenas de membros que a compõem. A argumentação
espelha bem a divergência insanável entre o partido e a deputada, acusada de
não “ter qualquer vontade em entender a gravidade da sua postura, nem a
intenção de a alterar”, pelo que o exercício do seu mandato já não será feito
em representação do Livre. Já se adivinhava.
Joacine não
consta da lista de candidatos à nova direcção do Livre, o que significa a sua
intencional exclusão da cúpula partidária, e entre as moções sujeitas a votação
no congresso deste fim-de-semana há uma que propõe a retirada da confiança
política à deputada e outra que questiona a participação horizontal dos
militantes na tomada de decisões, processo pelo qual Joacine foi escolhida para
encabeçar a lista ao Parlamento, o que só pode significar arrependimento. Na
verdade, Joacine já se representava mais a si própria do que ao partido. Ora,
das duas uma: ou o Livre fica sem representação ou Joacine prolonga o seu
mandato como deputada não inscrita. Não seria inédito.
É pouco provável
que Joacine — que nem sequer está inscrita no congresso — se candidate à
liderança do partido. Caso aceite a retirada de confiança e ceda o seu lugar no
Parlamento, a deputada não se poderá vitimizar por ser mulher, negra e gaga. Só
se poderá lamuriar de si própria. E caso permaneça como deputada isso só poderá
ser compreendido como a confirmação de que sempre se considerou mais importante
do que o partido que transformou em barriga de aluguer.
O partido
europeísta, verde e que se quer despojado dos principais dogmas ideológicos do
património da esquerda, como alternativa ao PCP e ao BE, não coincide com a
agenda da deputada que elegeu, e cujo trabalho parlamentar tem estado abaixo
das expectativas. Deste caricato episódio quem mais se poderá lamentar são os
militantes do Livre, que dificilmente terá uma segunda oportunidade após este
contratempo político que o descredibilizou. Joacine não confia no Livre e este
não confia em Joacine. Isso ficou claro. Agora, falta saber em quem confiam
mais os eleitores.
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