OPINIÃO
A consciência de
Pinóquio da democracia
Nos dois assuntos
que tratei em que Isabel dos Santos estava diretamente interessada nada ocorreu
que fosse censurável no seu comportamento, nada me pediu que fosse ilegal ou
não ético. Dava jeito a qualquer grilo falante que assim não fosse
João Miguel
Júdice
31 de Janeiro de
2020, 7:00
João Miguel
Tavares criou um fonds de commerce de que vive. Assumiu-se como uma espécie de
consciência de Pinóquio, que distribui ad hominem estatutos, papéis e
reputações. Como é inteligente e escreve bem, sabe que desse modo gera
respostas, alimenta a discussão e alimenta-se disso. É a vida dele e desejo que
seja muito feliz. E, reconheço, gosto de o ler quando concordo e mesmo quando
discordo. Por isso aqui estou a dar para o peditório. Mas só uma vez. Com
resignação aceito que a inevitável réplica dele e as futuras mais pequenas
réplicas (por exemplo quando lhe falte tema) fiquem a pairar no éter sem
contraditório. Será para desconto dos meus pecados.
Antes do mais um
desmentido. Não é verdadeira a sua frase de que “acusei o toque” de ele me ter comparado
a Daniel Proença de Carvalho. No seu texto que ressuscitou dos arquivos essa
comparação orgulhava-me, pois ele é um dos advogados mais brilhantes do nosso
tempo. Quem acusou o toque do que ele escreveu foi um amigo comum, que me
conhece e fez questão em nos convidar para um almoço para que JMT me ficasse a
conhecer melhor. Com isso, quem sabe, talvez ele tivesse uma micro Estrada de
Damasco e percebesse que eu não merecia que para aumentar o seu fonds de
commerce me transformasse num dos seus “Bey de Tunes”. Pelo visto não valeu a
pena, mas a conversa com o justiceiro foi divertida e a comida era boa. Não se
perdeu tudo, realmente.
Dito isto, JMT
tem direito à sua opinião, e a achar que eu tenho de pagar um preço
reputacional (que ele fixará sem apelo nem agravo quando quiser, como é
óbvio) por ter dito sobre Isabel dos
Santos coisas óbvias como “estamos longe
de saber tudo”, “era prudente que houvesse mais prudência” e “não podemos olhar
para o passado com os olhos do presente”; e também por, há anos, ter dito que
Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava eram “excelentes
profissionais em qualquer parte do mundo”. Aceito pagar esse preço
reputacional, como muitos outros que estarão na lista de JMT e ao menos um ou
outro admirado por e admirante de JMT. Mas, seja como for, como não o pagar o
preço que o plumitivo me impuser, se é isso que penso?
Do alto do seu
nariz de Pinóquio, diz também que o meu comentário há dias “desmereceu a
[minha] própria inteligência” e que lhe dei “a visão deprimente de um homem
muito esperto a fazer-se passar por muito lerdo”. Peço desculpa por o ter
deprimido (não era essa a intenção do que disse na SIC Notícias); mas acho que
a depressão lhe passou rápido ao investir nisso. Devia ter-me agradecido por
com isso ter podido reforçar o seu fonds de commerce. Mas fico contente em ter
ajudado.
Uma última
palavra. Nos dois assuntos que tratei em que Isabel dos Santos estava
diretamente interessada nada ocorreu que fosse censurável no seu comportamento,
nada me pediu que fosse ilegal ou não ético. Dava jeito a qualquer grilo
falante que assim não fosse. Mais uma vez peço desculpa por causar outra
depressão.
Eu sei que o
original grilo falante acharia que não deve ser defendido quem o grilo achasse
que não o merece. Mas JMT não pode estar de acordo com isso. O que seria, nesse
caso, do seu fonds de commerce?
Árbitro de conflitos; ensaísta
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