Resposta de Sturgeon à carta de Johnson |
Johnson fecha a
porta a novo referendo independentista na Escócia
Primeiro-ministro
britânico enviou carta a Sturgeon, argumentando que o referendo de 2014 foi
algo que só acontece “uma vez numa geração” e rejeitou transferência de poderes
para o parlamento escocês. Líder do SNP fala em “inevitabilidade”.
António Saraiva
Lima 14 de Janeiro de 2020, 16:12
O
primeiro-ministro britânico formalizou esta terça-feira a recusa do Governo em
permitir que a Escócia realize um novo referendo independentista num futuro
próximo. Numa carta enviada à primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon,
Boris Johnson remeteu a decisão para a rejeição popular da separação do Reino
Unido em 2014 – por 55% –, declinando, ao mesmo tempo, a transferência de
poderes para a convocação de referendos secessionistas para o parlamento
escocês.
“A população escocesa votou decisivamente na
promessa de manter o nosso Reino Unido. O Governo britânico continuará a
defender essa decisão democrática”, escreveu Johnson numa missiva em que
recorda que Sturgeon e o seu antecessor, Alex Salmond, “fizeram uma promessa
pessoal” de tratar o referendo de 2014 como um evento “que só acontece uma vez
numa geração”.
Em resposta, a
líder do Partido Nacional Escocês (SNP) acusou o Partido Conservador de estar
“aterrorizado” com a possibilidade de a Escócia “ter o direito a escolher o seu
próprio futuro” e garantiu que um novo referendo é uma “inevitabilidade”.
“O problema do
Governo britânico é que quanto mais tempo dedicar a tentar bloquear o referendo
(…) maior será o crescimento do apoio à independência [da Escócia]”, reagiu
Sturgeon. “A única questão é saber quanto tempo demorará até que os tories e o
resto do sistema de Westminster aceitem esta inevitabilidade”.
A estratégia da
líder do SNP para a independência alterou-se na sequência do referendo de 2016
sobre o “Brexit”. A Escócia votou maioritariamente pela permanência na União
Europeia (62% contra 38%) e o partido acredita que a saída do Reino Unido do
mercado único corresponde a um “hard-‘Brexit’” que não representa nem os
interesses nem a vontade da população.
A vitória
convincente do Partido Conservador nas legislativas de Dezembro tornou, no
entanto, inevitável o divórcio com os 27, nos moldes definidos por Johnson, ou
seja, com o abandono de todo o território britânico do mercado único e da união
aduaneira europeia.
Um desfecho
eleitoral que, aliado ao excelente desempenho do SNP na mesma eleição, depois de
fazer campanha com a bandeira da independência – conquistou 47 dos 59 lugares
escoceses na Câmara dos Comuns de Westminster –, levou Sturgeon a declarar que
tem agora um mandato claro para novo referendo e a enviar uma primeira carta ao
primeiro-ministro britânico, que lhe respondeu agora.
Nessa primeira
comunicação, a first minister escocesa anexou um documento de 38 páginas,
intitulado “O direito da Escócia a escolher”, onde, para além de formalizar um
pedido ao Parlamento britânico para agendar um novo referendo à independência,
exigiu que essa fosse transferida, com carácter permanente, para Holyrood – o
parlamento em Edimburgo.
“Não posso
concordar com qualquer pedido de transferência de poderes que possam levar a
posteriores referendos independentistas”, respondeu-lhe, porém, Boris Johnson
que, na carta desta terça-feira, não deixou de dar uma alfinetada à estratégia
política do SNP.
“Outro referendo contribuiria para a
estagnação política que a Escócia tem enfrentado na última década, onde as
escolas, os hospitais e os postos de trabalho escoceses têm sido abandonados
por causa da campanha para a separação do Reino Unido”, atirou o
primeiro-ministro.
Enquanto prepara
nova investida para alcançar o seu objectivo, o SNP será, naturalmente, um
espectador atento ao desenrolar das negociações entre Londres e Bruxelas, tendo
em vista um novo acordo comercial entre os dois blocos.
O Reino Unido vai
abandonar a União Europeia no final do dia 31 de Janeiro e o período de
transição – durante o qual o país continuará a beneficiar de todos os direitos
e a respeitar todas as obrigações do mercado único – decorrerá até ao final de
Dezembro. As negociações formais para a nova parceria económica e política
arrancam a 1 de Março.
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