Funcionários da
Boeing conheciam falhas do 737-MAX: “Desenhado por palhaços”
“Este avião é
desenhado por palhaços, que por sua vez são supervisionados por macacos”, lê-se
numa mensagem de um funcionário, sobre o avião envolvido em acidentes que
causaram a morte a mais de 300 pessoas.
Lusa 10 de
Janeiro de 2020, 9:17
“Ainda não fui
perdoado por Deus pelo que escondi no ano passado”, escreveu um funcionário da
Boeing, numa mensagem datada de 2018. “Este avião é desenhado por palhaços, que
por sua vez são supervisionados por macacos”, lê-se noutra mensagem, numa
aparente referência à Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla inglesa).
Estas são apenas duas das centenas de mensagens de texto que a Boeing
disponibilizou ao Congresso dos Estados Unidos, em que os seus funcionários
descredibilizam o processo de certificação do modelo 737 MAX e denigrem o
regulador de aviação norte-americano.
Nas mensagens,
consultadas pela agência France-Presse (AFP), os pilotos dão conta de falhas
nos simuladores do modelo 737 MAX , envolvido em dois trágicos acidentes: o
primeiro aconteceu em Outubro de 2018, na Indonésia, quando um avião com 189
pessoas a bordo se despenhou no Mar de Java, poucos minutos depois de ter
levantado voo; menos de seis meses depois, outro aparelho despenhou-se apenas
seis minutos depois de ter partido de Addis-Abeba, na Etiópia, sem
sobreviventes.
Noutra mensagem,
um funcionário admite a um colega que não deixaria a família voar numa aeronave
737 Max. Noutra mais antiga, um funcionário admite que seria necessário fazer
pressão “ao mais alto nível” para evitar que o regulador obrigasse os pilotos a
fazer treino em simuladores de voo.
Estas mensagens
foram disponibilizadas por congressistas norte-americanos que estão a
investigar o processo de certificação do 737 MAX.
“Algumas destas
comunicações dizem respeito ao desenvolvimento e qualificação dos simuladores
Boeing 737 MAX, em 2017 e 2018”, esclareceu a Boeing, acrescentando que
forneceu as mensagens em nome da “transparência”. “Estas comunicações não
reflectem a empresa que somos e que precisamos de ser, e são completamente
inaceitáveis”, admitiu a Boeing em comunicado.
No final de
Dezembro, o presidente-executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, foi afastado do
cargo devido a tensões com a reguladora, tendo sido substituído por David
Calhoun. A Boeing suspendeu entretanto a produção do 737, pela primeira vez em
vinte anos.
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