LIVRE
Renunciar ao
mandato de deputada? Joacine diz que “está fora de questão”
Já arrancou o
congresso do Livre, o primeiro desde que o partido se estreou no Parlamento e
aquele que pode decidir que o Livre perde a sua representação na Assembleia da
República.
Liliana Borges e
Sónia Sapage 18 de Janeiro de 2020, 10:46
Joacine Katar
Moreira garante que não irá sair do Parlamento
O suspense durou
pouco. Passavam 20 minutos das 10 da manhã, hora marcada para o início do IX
Congresso do Livre, quando Joacine Katar Moreira entrou no Centro Edmundo
Pedro, na Junta de Freguesia de Alvalade, em Lisboa, onde será votada, dentro
de horas, a decisão da assembleia do partido sobre a proposta de retirada de
confiança política à deputada.
No início da
reunião magna, e numa intervenção que não estava prevista na ordem de
trabalhos, Joacine Katar Moreira falou - em muitos momentos exaltada e aos
gritos - durante aproximadamente 30 minutos, num discurso repleto de críticas à
direcção e no qual se queixou de ter ficado com a sua “honra ferida”.
A deputada
rejeitou renunciar ao mandato em São Bento, dando resposta a uma moção que será
votada durante o conclave e que propõe a sua renúncia. “Vim aqui porque quero
fazer parte”, disse, garantindo que não é sua intenção separar-se do Livre. A
parlamentar insistiu que a resolução da 42.ª assembleia do Livre “fere” a sua
“honra” e está cheia de “inverdades e omissões” e queixou-se de que a
“restrição” da sua “liberdade de escolha, começou imediatamente com a definição
do gabinete na Assembleia da República”.
“Entendo que haja
muito ruído, ódio, manipulação interna ou externa. (…) A minha consciência está
traquilíssima. Não houve falha nenhuma no cumprimento dos ideais do partido. É
facilmente comprovável”, sublinhou, acrescentando que o seu trabalho no Parlamento
foi “de excelência”, além de ter sido “trabalho regular diário e fora de
horas”.
A seguir a
Joacine Katar Moreira, e a fechar as intervenções de abertura, o palco foi
ocupado por Pedro Mendonça, membro da direcção (grupo de contacto). O dirigente
do Livre fez o balanço dos últimos dois anos de mandato, começando por dar
conta dos inúmeros convidados estrangeiros que o partido trouxe a Portugal –
como Yanis Varoufakis – com o intuito de organizar redes de solidariedade de
luta contra o populismo.
Ao longo do seu discurso, não houve nem uma
palavra sobre a deputada única - nem uma vez o nome de Joacine Katar Moreira
foi referido – houve apenas um desabafo sobre os “últimos meses” que “não têm
sido fáceis”, e um agradecimento aos apoiantes espalhados por todo o país pelo
seu sacrifício e contributo para o resultado histórico nas legislativas.
“Em 2015, anunciaram a morte do Livre. Dois
anos depois, estamos aqui vivos e de saúde”, disse Pedro Mendonça, anunciando
que nenhuma das campanhas em que o Livre participou desde então “deixou um
cêntimo para pagar”.
“Este foi o
mandato em que conseguimos resolver o problema da dívida das eleições de 2015.
Esta dívida estará saldada, posso dizê-lo aqui, a 10 de Fevereiro”, revelou o
dirigente.
Joacine diz que
não renuncia ao mandato
À chegada ao
centro cívico, a deputada única eleita pelo Livre deixou logo claro que não
tenciona abdicar do seu mandato. Se o Livre não quiser continuar a ser
representado por Joacine Katar Moreira, então o congresso deste fim-de-semana –
ou os novos órgãos eleitos – terá de aprovar a retirada de confiança política.
“Renunciar ao mandato? Está fora de questão”, asseverou.
Com sete
abstenções, incluindo a de Joacine Katar Moreira, do assessor Rafael Esteves
Martins, e os votos contra de 14 congressistas, a resolução da assembleia do
Livre foi incluída na ordem de trabalhos com os votos a favor da larga maioria
dos congressistas (69 novos a favor).
Joacine Katar
Moreira chegou já quando a maioria dos dirigentes do Livre estavam no interior
da sala do congresso, evitando encontrar-se com alguns dos nomes que assinam a
resolução que propõe a retirada de confiança política após três meses de
desencontros entre a direcção e Joacine.
Já depois da
chegada de Joacine Katar Moreira foi a vez de Rui Tavares, um dos fundadores do
partido, se juntar aos congressistas. Fora da lista de direcção, Rui Tavares
concorre neste congresso à assembleia do Livre.
A decisão será
votada pelos congressistas, isto é, pelos membros e apoiantes inscritos no
Livre que tenham as quotas em dia. Serão também os congressistas que irão
escolher os nomes que conduzirão o partido durante os próximos dois anos. Na
ordem do dia estão a votação das 18 moções apresentadas pelos membros do
partido e a eleição para três órgãos: o grupo de contacto [a direcção], o
conselho de jurisdição e a nova assembleia.
Sá Fernandes diz
que retirada de confiança é “suicídio político"
Para Ricardo Sá
Fernandes, actual membro e recandidato ao conselho de jurisdição, a aprovação
da retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira será “o suicídio do
partido”. “Esta ruptura pode ser o suicídio do partido. E eu estou aqui hoje
para ver se evito que esse suicídio aconteça”, declarou também à chegada.
O advogado e
membro do Livre adiantou que existirá “pelo menos uma proposta” à proposta da
assembleia do Livre “no sentido não se decidir hoje qualquer retirada de
confiança”, reencaminhando a decisão para os novos órgãos internos do partido,
que serão eleitos durante o congresso.
Joacine:
“Elegeram uma mulher negra que gagueja e deu jeito para a subvenção”
A deputada subiu
ao palco pela segunda vez para voltar a acusar a direcção de mentiras.
Confirmou que recusa sair do Parlamento.
Sónia Sapage e
Liliana Borges 18 de Janeiro de 2020, 12:25
Num tom
visivelmente exaltado, Joacine Katar Moreira falou pela segunda vez ao
congresso para se queixar de uma perseguição e intimidação por parte da
direcção. “Elegeram uma mulher negra que gagueja e que deu jeito para a
subvenção”, acusou. “Vocês não sabem da missa a metade.”
“Isto é ilegal, eu acho que isto é ilegal”,
disse no final da intervenção. E depois, já fora do palco e longe dos
microfones, continuou aos berros. “É ilegal, ilegal, não se faz isto a ninguém.
Como é que é possível, isto? Mentira!”, gritou, quase já sem voz, rouca, mas
sem gaguejar.
“Isto é uma época
de imensa iniciativa, mas a iniciativa mais importante de hoje é felicitar o
facto de se terem deslocado até aqui hoje. Eu nunca vi tantas pessoas do
partido unidas. Nunca vi e efectivamente não faço ideia de onde vieram a maior
parte dos indivíduos aqui. Isto é fundamental para qualquer partido que queira
alguma resiliência, união. Infelizmente o elemento desta união não é
necessariamente a união”, notou, durante a intervenção.
“É irónico. Mas
não é anormal numa democracia. É hábito no nosso partido, no PS, no CDS e
noutros. Isto é a normalidade democrática. Mas o elemento fundamental tem de
ser a ética e a verdade. Sem a ética e sem a verdade nós nunca estaremos na
normalidade”, declarou antes, no seu primeiro discurso no congresso [que não
estava previsto na ordem de trabalhos] e também naquela que foi a sua primeira
declaração pública sobre o assunto nos últimos dias.
“A proposta
apresentada pela assembleia fere a minha honra”, disse Katar Moreira. “Vim aqui
porque o meu objectivo era fazer parte, ser igualmente uma agente de acção, de
mudança absoluta. Foi por isto que cantámos a ironia de vamos dar um pontapé no
estaminé, de que não íamos ser iguais aos outros e que as estruturas melhorem”,
acrescentou.
“Nunca me foi
retirada a confiança em toda a minha existência”, gritou Joacine. A deputada
diz que sente que a sua liberdade de escolha tem sido limitada desde a
definição do seu gabinete parlamentar, logo após as eleições.
“No Livre ninguém
toma decisões por ninguém”, atirou. “Muita gente reclamou que as pessoas do meu
gabinete parlamentar, um deles é fundador do partido [Rafael Esteves Martins],
recolheu assinaturas, algo que muito de vocês aqui não fizeram. A outra foi
candidata às eleições. Se ela é boa para ser candidata por que não é boa para
ser do gabinete?”, continuou Joacine, cada vez mais exaltada.
“Não houve falha
nenhuma no cumprimento das ideias e do programa do partido. Em todas as áreas.
Isto é facilmente comprovável”, garante. Para Joacine Katar Moreira, a crise do
partido acontece porque “nacionalmente e internacionalmente o Livre não está preparado
para os votos dos portugueses”.
tp.ocilbup@egapas.ainos
tp.ocilbup@segrob.anailil
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