'Guerra'
religiosa na Mouraria. "Há risco para a segurança", avisa perito
A luta por um
novo líder religioso da comunidade do Bangladesh estará na origem da rixa deste
sábado à noite na Mouraria, que provocou quatro feridos. O especialista em
segurança José Manuel Anes alerta para o "risco" de uma comunidade
"desintegrada"
José Manuel Anes,
perito em islamismo radical e ex-presidente do Observatório de Segurança,
Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), subscreve as afirmações deste
responsável. "O que se passa ali é um autêntico barril de pólvora em
termos de segurança. A comunidade está profundamente desintegrada e fechada, a
maior parte nem fala português. Acabam por importar os problemas do seu país,
neste caso a contenda muito violenta que existe entre o partido do governo e a
oposição, sempre com o risco de fações mais radicais se poderem sobrepor",
assinala.
Valentina
Marcelino
19 Janeiro 2020 —
00:31
A PSP foi chamada
à Rua do Terreirinho, na Mouraria, Lisboa, pouco depois das nove da noite de
sábado. O alerta dava conta de uma desordem de larga escala nesse local,
envolvendo cerca de 40 pessoas ligadas à comunidade do Bangladesh. Havia já
quatro homens com ferimentos provocados por armas brancas e um deles tinha sido
baleado numa perna com uma arma de fogo. A PJ está agora com a investigação,
por envolver a arma de fogo e eventuais tentativas de homicídio.
A PJ está agora
com a investigação, por envolver a arma de fogo e eventuais tentativas de
homicídio.
De acordo com o
que os agentes destas forças de segurança conseguiram apurar - ainda sujeito a
confirmação definitiva - na origem dos distúrbios terá estado um conflito entre
fações religiosas que discordam sobre a eleição do novo líder religioso.
O DN está a
tentar contactar um representante desta comunidade para esclarecer se, de
facto, a motivação foi a 'guerra' religiosa, e o que está em causa nesta
eleição, mas ainda não obteve resposta.
Segundo uma fonte
da comunidade muçulmana em Lisboa, que pediu para não ser identificada, este
conflito sobre o líder religioso "tem uma génese política", uma vez
que as fações se dividem entre apoiantes do partido do governo no Bangladesh e
a oposição. "Neste momento aquela comunidade, constituída em grande parte
por imigrantes desintegrados, transformou-se num gueto. Infelizmente as
autoridades não têm dado a atenção necessária", sublinha.
O que se passa
ali é um autêntico barril de pólvora em termos de segurança. A comunidade está
profundamente desintegrada e fechada, a maior parte nem fala português
José Manuel Anes,
perito em islamismo radical e ex-presidente do Observatório de Segurança,
Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), subscreve as afirmações deste
responsável. "O que se passa ali é um autêntico barril de pólvora em
termos de segurança. A comunidade está profundamente desintegrada e fechada, a
maior parte nem fala português. Acabam por importar os problemas do seu país,
neste caso a contenda muito violenta que existe entre o partido do governo e a
oposição, sempre com o risco de fações mais radicais se poderem sobrepor",
assinala.
Este especialista
revela que já "alertou as autoridades, designadamente as camarárias, em
relação ao risco de se construir uma nova Mesquita naquela zona" porque
"ao contrário da Mesquita Central de Lisboa, cuja comunidade de crentes é
devidamente acompanhada e integrada, neste caso pode servir para reforçar um
grupo que não está minimamente integrado".
No entanto, um
analista policial que acompanha este tema, sublinha que "a Mouraria já tem
pequenas mesquitas clandestinas cujo controlo é muito difícil de fazer. Se
houver uma Mesquita oficial, com todas as autorizações necessárias, será mais
fácil de monitorizar".
Aparentemente, e
apesar de não ser a primeira vez que existem confrontos com idênticas características
naquele bairro - a PSP terá registado, pelo menos, mais um, em 2019, também com
feridos -, a dinâmica desta comunidade tem passado um pouco sob o radar das
autoridades que investigam este género de situações. "A prioridade tem
sido mais o jihadismo e o retorno dos combatentes do daesh", reconhece a
mesma fonte policial.
apesar de não ser
a primeira vez que existem confrontos com idênticas características naquele
bairro (a PSP terá registado, pelo menos, mais um, em 2019, também com
feridos), a dinâmica desta comunidade tem passado um pouco sob o radar das
autoridades
A comunidade do
Bangladesh tem oficialmente registados em Portugal pouco mais de cinco mil
cidadãos, de acordo com o relatório do SEF de 2018. No entanto, segundo fonte
que responde na página do Facebook "Portugal Bangladeshi Community",
haverá cerca de 30 mil imigrantes desta origem em Portugal. Um grande número
está a trabalhar em explorações agrícolas, principalmente no Alentejo, mas há
também parte em Lisboa, no setor do comércio.
A maioria dos
nacionais do Bangladesh professa a religião muçulmana (principalmente sunitas),
seguindo-se a hindu e a budista. A discórdia na origem dos confrontos de sábado
será entre fações islâmicas. A Mouraria acolhe parte dos comerciantes e outros
cidadãos desta nacionalidade.
No governo está a
Liga Awani, de centro esquerda, liderado pela primeira-ministra Sheikh Hasina,
eleita numas conturbadas eleições em dezembro de 2018. A oposição tem à cabeça
o Partido Nacionalista do Bangladesh, de centro direita, liderado pelo
histórico Kamal Hossain.
(Em atualização)
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