sexta-feira, 5 de abril de 2019

Este mês, é preciso chover o dobro do normal para reverter situação de seca / Não há “água nova” no Guadiana e no Sado. Quem vive da terra e dos rios sofre com isso



Este mês, é preciso chover o dobro do normal para reverter situação de seca
Abril será “decisivo” para um Verão sem seca severa. A precipitação necessária para que tal aconteça só ocorreu em 20% dos meses de Abril desde 1931.

Rita Marques Costa 5 de Abril de 2019, 7:15

No Outono, temperaturas acima da média e precipitação normal; no Inverno, dias mais quentes do que o habitual para a época e muito pouca chuva (foi o 4.º Inverno mais seco dos últimos 18 anos). Foi assim que se chegou a Março com mais de um terço do território em situação de seca severa — nos distritos de Évora, Beja, Setúbal e Algarve — e quase metade em seca moderada. Agora, para reverter a situação, é preciso que chova o dobro do normal para o mês de Abril, algo que só aconteceu em 20% destes meses desde 1931.

As contas são de Vanda Pires, da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “Neste momento, o mês de Abril é decisivo”, sublinha. “Se [os valores da precipitação] não forem superiores, a situação pode diminuir ligeiramente, mas não é suficiente para revertê-la por completo. Têm de ser acima do normal.”

“Se se verificarem estas quantidades [de precipitação], no Norte e Centro a situação [de seca] termina”, garante Vanda Pires. “No Sul não termina, mas melhora. Fica entre seca fraca a moderada.” O IPMA prevê chuva para os próximos dias e a 15 de Abril fará uma reavaliação da situação com os dados da primeira quinzena.

Mas não basta que chova. Há outra preocupação: “Até pode chover, mas se tivermos um mês com temperaturas muito altas, pode não ser o suficiente, uma vez que a evaporação é muito grande e não compensa”, explica Vanda Pires.

O cenário descrito pela especialista do IPMA é aquele que é necessário para reverter — e em alguns casos atenuar — a situação de seca. Para que o ano hidrológico (que vai de Setembro a Agosto) seja considerado “normal”, os números são outros. Filipe Duarte Santos, professor de Física na Universidade de Lisboa e especialista em alterações climáticas, explica que, em média, chovem entre 900 e 1000 milímetros (mm) por ano em Portugal. Entre Setembro de 2018 e Março de 2019, verificou-se um défice de cerca de 250 mm em relação à precipitação normal para este período. Nos meses que restam é normal que chovam cerca de 200 mm, pelo que, para reverter essa diferença e ficar com um ano que corresponda à média, seria preciso chover “mais do dobro”, conclui. Mas “é pouco provável” que tal aconteça.

A gravidade da situação já tinha sido notada pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos, depois de uma reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca (que voltará a reunir a 30 de Abril). No final desse encontro, o responsável pela pasta da Agricultura anunciou a pré-contratação de camiões-cisterna para responder à eventual necessidade de abastecer aglomerados urbanos que estão dependentes de captações subterrâneas.

Outra das medidas tomadas no âmbito da actividade desta comissão foi a de fazer um levantamento das necessidades de investimento dos agricultores afectados pela seca. O anúncio foi feito na quinta-feira pelo Ministério da Agricultura, que diz que é “prematuro” falar nos apoios que resultarão deste levantamento antes de saber as necessidades reais de quem trabalha na agricultura.

Pouca água armazenada
A falta de chuva durante os últimos meses também já está a criar problemas na quantidade de água armazenada em albufeiras. Em dez das 60 estruturas espalhadas pelo país, o volume de água armazenado não chega a 40% da capacidade total — e é particularmente grave em Paradela (no Cávado) e em Monte da Rocha e Campilhas (ambas no Sado), onde a água armazenada não vai além dos 20%. Por outro lado, só em 14 albufeiras é que o volume de água ultrapassa os 80% da capacidade total. A bacia hidrográfica do Sado é, por enquanto, a única cuja disponibilidade hídrica está abaixo dos 50%, mostram os dados divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente.

A situação das albufeiras portuguesas é bem pior do que no mesmo mês do ano passado. Março de 2018 foi quatro vezes mais chuvoso do que o normal — o que permitiu que se saísse da situação de seca que assolava o país desde Abril de 2017 —, o que fez com que só três albufeiras estivessem a menos de 40% da capacidade total e metade tivesse mais de 80% do volume de água armazenado.

“Em Março [de 2019] choveu pouco em toda a Península Ibérica”, nota Filipe Duarte Santos. “Isto não é um problema só de Portugal. É de toda a Península Ibérica e do sul da Europa.” Por isso, o cenário nas albufeiras espanholas não é mais animador. “O ano já começou abaixo da média e não está a crescer”, refere. A 1 de Abril, a quantidade de água armazenada nas barragens espanholas correspondia a 57,8% da capacidade total. No ano passado, no mesmo período era 63,4% e a média dos últimos dez anos corresponde a 71,6%.

“Estamos a pisar terreno desconhecido”
Este início de Primavera está longe do desejado, mas já houve Marços piores. Em 1997, por exemplo, choveram 0,2 mm, quando o esperado para o mês ronda os 60 mm (média entre 1971 e 2000). O valor mais elevado dos últimos 89 anos registou-se em Março de 2001, quando a precipitação registada chegou aos 273,8 mm. No mês passado, não passou dos 45,3 mm. Quanto à temperatura, este Março foi o 23.º mais quente desde 1931.

O problema dos últimos anos é “o aumento do número e da intensidade dos fenómenos extremos, nomeadamente secas, inundações e temperaturas muito elevadas”, nota Vítor Louro, ex-presidente da Comissão Nacional do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação e à Seca. Neste momento, “estamos a pisar terreno desconhecido”.

O que vai ficando claro, sublinha este especialista, é que “isto é muito complicado”. Enquanto sociedade, “não estamos preparados para esta situação, apesar de estar a evoluir no sentido em que já sabíamos que evoluiria”.

Não há “água nova” no Guadiana e no Sado. Quem vive da terra e dos rios sofre com isso

No Guadiana falta peixe e no Sado há barragens com um volume de armazenamento de apenas 12% e 16%. Nas culturas de sequeiro, só a chuva pode ajudar a minorar perdas que se prevêem “em grande escala”. Quem depende da rega, também não tem garantias. A seca não escolhe quem vai afectar e isso sente-se nas margens dos dois rios.

Patrícia Carvalho (Texto), Teresa Abecasis (Fotografia e vídeo) e Francisco Lopes (Infografia)  5 de Abril de 2019, 7:15

Já passaram alguns anos desde que António dos Reis Soeiro, 78 anos, apanhou lampreia que se visse no Guadiana. O pescador da aldeia de Pomarão – colada à fronteira com Espanha e com a barragem espanhola do Chança quase a fazer sombra ao casario – está sentado à porta de casa a aproveitar o sol que espreita entre as nuvens negras desta tarde de domingo. “Aqui há uns anos, eu e outro rapaz chegámos a apanhar 986 lampreias. Mas tem vindo a diminuir. Cento e tal... No ano passado foram duas e este agora só uma”, diz, desalentado. A explicação, coloca-a na falta de chuva, que faz com que a água do Guadiana e das ribeiras que o engordam não se renove. “A água é sempre a mesma, está a compreender? E o peixe não entra. A água não vem da barragem, nem das ribeiras, nem dos barrancos. Isto não está nada famoso.”

Quem olha lá para baixo, para o Guadiana a espraiar-se largo entre as margens, pode ter dificuldade em acreditar no velho pescador de boina e olhos claros. Mas ele sabe do que fala. As cheias, que ajudam à subida da lampreia e antigamente levavam as águas do rio a invadir ruas e casas do Pomarão (há marcas a assinalar a chegada das águas às habitações baixinhas), são algo que não se vê por ali desde 1997. Nesse ano, as barragens encheram tanto que foi preciso abri-las. O alerta chegou na noite de 5 de Novembro. Na manhã do dia 6 estava tudo como mostram as fotografias que Margarida, esposa do velho pescador, mostra agora: as ruas mais baixas da aldeia já não se vêem, a água chega aos patamares superiores, onde está a casa de ambos, e, atrás, poderosos jactos de água saltam ainda da barragem espanhola.

Mas, entretanto, passaram-se mais de 20 anos. A população diminuiu e o número de pescadores também. António, que já experimentara a pesca quando era novo, regressou à actividade depois de se reformar da Guarda Fiscal. Tem barco, licenças, seguros. E o barco até tem motor, já não é preciso a canseira dos remos para chegar aos locais onde lança as redes. Há tudo, menos o peixe. “A lampreia, há uns cinco ou seis anos ainda se apanhava uma maxinha [mão cheia] delas. Não era uma coisa assim avultada, mas ainda dava para pagar os papéis que a gente tem para a capitania e seguros, essa coisa toda. Agora, de há três anos para cá, vê-se pouco. Tem de se tirar da reforma para pagar essa importância.”

Nos últimos dois anos, diz, o que pesca não cobre as despesas inerentes à actividade. A esperança está agora na saboga, cujas ovas são muito apreciadas. “No ano passado escapou, agora a partir deste mês de Abril, vamos lá ver. Estamos contando a ver se entra alguma coisa de jeito. Quanto ao resto, mais nada.”

Esta semana, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) revelou que a situação de seca que se vive no país agravou-se no mês passado. Os dados mais recentes indicam que, até 28 de Março, 37,5% do território encontrava-se em seca severa (era apenas 4,8% em Fevereiro), 45,1% em seca moderada e 16,8% em seca fraca. Pela primeira vez este ano, apareceu um registo de seca extrema, em 0,5% do território.

O Inverno que agora terminou foi já classificado pelo IPMA como o 4.º mais seco do século, com a precipitação ocorrida entre Dezembro e Fevereiro a corresponder a cerca de 41% do valor médio. Uma situação que se reflecte no volume de água armazenado nas albufeiras das barragens nacionais – e também espanholas, onde tem chovido ainda menos do que em Portugal. Em Março, havia dez barragens com um armazenamento inferior a 40% (eram apenas três em 2018), e duas delas estavam no Guadiana: a barragem da Vigia (24%) e a do Caia (32%).

Luís Rodrigues, 38 anos, aproveitou o domingo de manhã para passar pela albufeira do Caia e procurar apanhar algum peixe com uma cana. À volta, só se ouvem pássaros ou o carro muito ocasional que atravessa a estrada lá em cima. O silêncio é tanto que se ouve o barulho de um cão a sacudir a água do pelo, depois de um banho na albufeira, a poucas centenas de metros de distância. O homem olha em redor, para as encostas em que é bem visível o local onde devia haver água – há uma faixa larga de terra castanha, despida, e só depois começam as primeiras ervas e árvores. “Isto devia estar mais cinco ou seis metros acima. Já tínhamos tido seca no ano passado. Agora já cortaram a rega em Setembro e, com os olivais intensivos, isto vai ser muito complicado”, diz.

Há-de ser para a rega, mas Francisco Corado, 46 anos, nem nessa hipótese pode pensar. Nos 400 hectares da Herdade da Fragosa, onde cria gado, a pastagem de que os animais precisam para se alimentarem é produzida em regime exclusivo de sequeiro. Ali, diz o produtor de Arronches, já quase não vale a pena ter esperança que chova. Porque não é possível recuperar de um Inverno sem chuva. “A pastagem vai ser sempre afectada porque as plantas que estão secas já não recuperam. O ciclo da planta fechou. Isto são plantas de sequeiro, pode chover que nunca recuperam”, diz.

Tal como acontecia mais a Sul, em Pomarão, também aqui não é fácil perceber do que fala o produtor com um simples relance. Porque, à primeira vista, as azinheiras de copas verdes parecem assentar num manto de verde também. É preciso olhar melhor para perceber que por baixo das árvores as plantas secaram todas e que o tapete biodiverso que cobre o solo tem tanto de seco como de verde. É preciso ver Francisco aproximar a mão do joelho e dizer que a altura da pastagem devia ser aquela, quando o que vemos é um tapete raso no chão. E, depois, há o barulho que se obtém ao caminhar, ao arrastar os pés no chão. Um som quebradiço, um crepitar. “Isto é uma coisa que normalmente só acontece em Maio”, diz.

É claro que a chuva é sempre bem-vinda. É claro que se ela chegar, alguma coisa melhora. A parte da pastagem que não morreu, recupera; as minibarragens que Francisco abriu na herdade, e que são a única forma de dar de beber aos animais, podem deixar a perigosa capacidade de 50% que têm neste momento. Furar mais a terra em busca de água subterrânea parece tempo perdido. “Consegui fazer um furo, estou farto de fazer furos, nenhum dá, estão todos secos.” No último dia de Março, Francisco não se sentia muito esperançoso. Todos os dias está atento às previsões do tempo e a promessa quase diária de chuva vai sendo adiada de dia para dia.

No ano passado, também se temeu o pior, mas Março e Abril trouxeram muita chuva, que permitiu repor a normalidade. Mas, agora, Março já lá vai sem que a chuva tenha aparecido. “O alimento disponível não tem nada a ver com um ano normal. Isto é a altura em que as vacas tinham de deixar a erva crescer, para ficar de reserva até ao Verão. Nem pensar. Se não chover rapidamente, tenho erva disponível para mais uma semana, 15 dias. E depois faltam os outros meses todos, [em] que era [para usar] o que se juntava nesta altura. Isto é extensivo puro. Ou seja, estes meses de Primavera, final de Inverno, são os meses em que há verde e em que se cria alguma coisa para, mesmo em seco, comerem no Verão.”

Dar suplemento aos animais já faz parte da vida normal na Herdade da Fragosa, mas Francisco teme que, este ano, em vez dos cem dias habituais em que o faz, tenha de “suplementar 200 e tal dias”. Os custos estão feitos: “É fácil, 1,5 euros por vaca, por dia.” Mas mesmo que consiga suportar o acréscimo de custos e alimentar bem os animais, há sempre coisas que são afectadas. “Nesta altura, já está a afectar o crescimento dos bezerros”, explica. Dependem da mãe, e se ela não tem nutrientes suficientes, não engordam tanto. No desmame, podem não ter comida suficiente. E o cio das vacas também atrasa. “Tenho-lhes dado muita comida, mas nunca consigo fazer o mesmo que consegue a Primavera, num ano normal”, ironiza.

Fermelinda Carvalho, presidente da Associação de Agricultores de Portalegre, que representa 3800 produtores – incluindo Francisco Corado –, diz que o que tem ouvido dos associados é que a situação “é extremamente grave”. “As secas têm sido sucessivas, mas esta já nos arriscamos a dizer que será a pior de que temos memória. Choveu muitíssimo pouco de Novembro até à data”, diz. A seca não escolhe e visa todos por igual. A também presidente da Câmara de Arronches diz que o efeito faz-se sentir “dos cereais às pastagens, às vinhas e pomares, que são poucos, ao olival, para quem não tem regadio”. Quem depende da rega “irá ser afectado mais à frente”, se não chover.

A representante dos agricultores de Portalegre não tem dúvidas em dizer que “salvar o ano já não é possível”. Resta esperar que chova bastante, para que as quebras de produção que se prevêem não sejam “em grande escala”, como antecipa neste instante.

Alto Sado à míngua
No ano passado, foi assim uma espécie de milagre de última hora que salvou os produtores de arroz de Alcácer do Sal, na região do Sado. Em Fevereiro, pensava-se que não seria possível fazer a campanha anual. As chuvas de Março e Abril permitiram encher as barragens e, quando chegou Maio, o mês tradicional para semear o arroz, conseguiu-se fazê-lo sem quebras. Foi também essa chuva que permitiu que, este ano, a sementeira nesta zona esteja assegurada, com uma pequena diminuição da produção que pode variar entre os 10% e os 20%, explica João Reis Mendes, director executivo do Aparroz – Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado. “As barragens permitem duas campanhas, se estiverem completamente cheias. Vamos fazer a campanha deste ano com água do ano passado”, diz.


O mesmo não se passa mais a sul, no Alto Sado. É aí que se encontram as duas barragens nacionais com um volume de armazenamento mais baixo, segundo os dados do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos: Monte da Rocha (12%) e Campilhas (16%).

Na primeira, a maior parte da albufeira está a descoberto e, nos locais em que existe água, há zonas com um nível tão baixo que há vacas a passear-se calmamente no seu interior. Em Campilhas, as faixas nuas de terra que assinalam, nas encostas, até onde a água sobe em anos normais, estendem-se, em altura, por muitos metros. É aqui que Ilídio Matos, director executivo da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), faz o balanço desde Janeiro: “Temos as piores albufeiras em termos de armazenamento no presente ano.” E se se alargar no tempo, a situação não melhora: “Este ano é o culminar de três anos sucessivos de pouca precipitação e nunca estivemos com níveis de armazenamento tão baixos como está agora”, diz.

A água destas albufeiras, bem como as de Fonte Serne, Miguéis e Monte Gato, são usadas para regar quatro culturas – olival, milho, tomate e arroz. Nos primeiros dias de Abril, apesar de ter caído alguma (pouca) chuva, o responsável da ARBCAS já sabia o que iria acontecer nos próximos meses: “Só vamos ter água para situações de emergência, para salvação de animais, de algumas árvores, porque, de resto, a actividades em 3700 hectares dos 6500 que temos vai estar completamente parada. Não vai haver sequer sementeira de milho, arroz e tomate nestes 3700 hectares”, disse. Há algo que possa mudar este cenário? “Teremos de ter um mês de Abril extraordinário para que isso aconteça.”

Joaquim Chainho, 49 anos, é um dos produtores afectados por esta situação. Dedica-se ao cultivo do arroz, na região de Alvalade, no Alto Sado. “Neste momento, não temos água suficiente para fazer o ciclo da cultura de arroz”, diz. Arriscar é uma hipótese, se ainda chover alguma coisa, mas não será para todos. “Pode-se chegar a meio do ciclo e não termos água na barragem para o completar.”

Ele, que anda de volta dos arrozais há 30 anos, lembra-se de outros anos (como 1993 e 1995) em que também não se cultivou o cereal. Mas as coisas mudaram, desde então. “Cada vez chove menos. A quantidade de água é cada vez menos e cada vez chove mais [de forma concentrada]. Às vezes, chove aquela quantidade de água que até provoca estragos, não há aquele ciclo de chuva permanente”, diz.

“As alterações climáticas estão aí, elas vieram para ficar”, sintetiza o presidente da Câmara de Alcácer do Sal, Vítor Proença. Ele tem reclamado junto do Governo mais acesso à água da barragem do Alqueva, que só abastece, actualmente, uma das duas barragens do concelho, a do Vale do Gaio (a outra é Pego do Altar).
As restantes reivindicações são as mesmas que se ouvem da boca dos produtores ouvidos: um uso de água mais eficiente (e desde Fevereiro que já há restrições no acesso à água do Alqueva, para algumas culturas), mais capacidade de armazenamento da água da chuva, construção de mais barragens (incluindo pequenas barragens, nas propriedades), capacidade de transporte da água para onde ela é necessária, mais rapidez nas respostas de emergência quando a seca se concretiza.

Na Herdade da Fragosa, Francisco Corado pede também a ajuda “da opinião pública, dos consumidores”. Se não vendem o suficiente para ter “algum desafogo”, não conseguem suportar os anos maus, que as secas trazem, diz. “Tenho de me preparar nos anos melhores para estes anos, mas, para isso, tem de me sobrar alguma coisa.” Algumas centenas de quilómetros mais a Sul, na cadeira voltada para o rio Guadiana, nem as pingas grossas de uma pouca chuva que cai ao final da tarde, animam o pescador António dos Reis Soeiro. “Já disse à minha mulher. Temos de largar isto.” com Carlos Dias



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