Situações de seca em Portugal vão tornar-se mais frequentes
e graves, alerta IPMA
12:46 por Lusa
Especialista alerta que é urgente uma mudança de
comportamento e prevenção, fazendo uma boa gestão da água.
As situações de seca em Portugal tornaram-se cada vez mais
frequentes desde 2000 e o cenário deverá piorar em consequência das alterações
climáticas e do aumento de frequência dos fenómenos extremos, disse a
climatologista Vanda Pires, do IPMA.
Em entrevista à agência Lusa, Vanda Pires, da Divisão de
Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera
(IPMA), salientou que as situações de seca são frequentes em Portugal
continental com consequências graves na agricultura e pecuária, na energia e no
bem-estar das populações.
"As alterações climáticas estão a tornar as situações
de seca mais graves e habituais. Os fenómenos extremos que temos tido nos
últimos tempos estão a acontecer com mais frequência e trazem maior impacto. O
aumento da temperatura - que tem ocorrido nas últimas décadas - tem implicações
em todo o sistema meteorológico que existe e isto vai ter implicações nas ondas
de calor, nas situações de seca, na falta de precipitação", esclareceu.
De acordo com a especialista do IPMA, estes fenómenos vão
ser cada vez mais frequentes "nas nossas latitudes", no Mediterrâneo.
"A situação geográfica do nosso país é favorável à
ocorrência de episódios de seca. Vamos ter secas mais frequentes, mais
intensas, num cenário de alterações climáticas e temperaturas mais altas",
contou.
"Obviamente que há zonas do globo em que a precipitação
vai aumentar, mas em Portugal isso não deverá acontecer", disse.
A climatologista lembrou que a seca mais prolongada
registada em Portugal continental ocorreu de 1943 a 1946, abrangendo mais de
50% do território.
"A partir dos anos 1980 e sobretudo a partir de 2000
começámos a ter uma maior frequência de situações de seca. Tivemos vários
períodos de tempo seco em 2009, em 2012, 2015 e em 2017/18. Mas, foi em
2004/2005 que tivemos a seca mais significativa e intensa em Portugal que
abrangeu todo o território", disse.
Segundo a especialista, esta seca (2004/05) foi a mais grave
pela severidade, duração ou extensão, tendo o país estado durante meses em
situação de seca severa e extrema.
"No futuro, o panorama deverá agravar-se. Até ao final
deste século, as projeções indicam que haja uma diminuição da precipitação em
cerca de 15% dependendo da região. Na região sul pode chegar aos 30%",
adiantou.
Por isso, destaca, é urgente uma mudança de comportamento e
prevenção, fazendo uma boa gestão da água.
"Para já, os efeitos da seca estão a fazer-se sentir
sobretudo na agricultura e na pecuária, em termos de gado, de alimento e de
água. Já se sentem algumas implicações nos cereais, nas culturas de sequeiro. A
produção de arroz na região do Sado já está com problemas", disse.
"Felizmente temos muita agricultura de irrigação.
Enquanto houver água nas barragens vamos colmatando a situação. Mas, temos de
nos lembrar que as consequências de uma seca fazem-se sentir na agricultura e
pecuária, mas também nos recursos hídricos e na saúde das populações",
disse.
Para já, Portugal continental continua em seca
meteorológica.
Vanda Pires explicou à Lusa que o IPMA define quatro tipos
de seca: meteorológica, agrícola, hidrológica e socioeconómica.
"Temos a seca meteorológica que está diretamente ligada
ao défice de precipitação, quando ocorre precipitação abaixo do que é normal.
Depois, à medida que vamos avançando, em que o défice vai aumentando ao longo
de dois, três meses, passamos para uma seca agrícola porque começa a haver
deficiências ao nível da água no solo", explicou.
Depois, segundo a especialista, a manter-se a situação, esta
evolui para seca hidrológica, quando começa a haver falta de água nas
barragens.
"Pode ainda haver a seca socioeconómica, que é
considerada quando já está uma seca instalada, quando já tem impacto na
população", disse.
Sem comentários:
Enviar um comentário