Imigração brasileira em Portugal continua a crescer, 100
dias depois de Bolsonaro no poder
07:48 por Lusa
Brasileiros procuram uma "melhor qualidade de
vida" em Portugal. Fenómeno acentuou-se no final de 2018 e início deste
ano e muitos vêm "bem informados e já com uma imigração planeada".
Cem dias depois de
Jair Bolsonaro ter tomado posse como Presidente do Brasil, são cada vez mais os
brasileiros, de todas as classes e perfis, que procuram "melhor qualidade
de vida" em Portugal, segundo a Casa do Brasil.
Muitos destes estão "bem informados e já com uma
imigração planeada", outros atraídos por 'contos' nas redes sociais sobre
um "el dourado", que não existe, conta a presidente da Casa do
Brasil, Cíntia de Paulo, explicando, em entrevista à Lusa, porque é que também
os pedidos de retorno ao país de origem estão a crescer, como confirmam dados
da Organização Mundial das Migrações (OIM).
A presidente da Casa do Brasil disse que, sobretudo no
último ano, iniciou-se uma nova vaga de imigrantes brasileiros para Portugal,
que se acentuou no final de 2018 e início deste ano.
"Eu arrisco a dizer que no último ano, acentuando-se no
final de 2018 e início deste ano, houve uma chegada muito representativa"
de imigrantes brasileiros a Portugal, indicou a presidente da associação, sem
fins lucrativos, que apoia estas pessoas.
A responsável referiu que "é uma nova vaga muito
diferente das outras, com um aglomerado de perfis" e que veio para ficar,
para "construir aqui".
No ano passado, só a Casa do Brasil em Lisboa, atendeu 476
novas pessoas (estão apenas contabilizados os que procuram pela primeira vez a
associação). Já este ano, desde janeiro até agora, tinha atendido 278 novas
pessoas, disse a responsável, que faz parte da associação desde 2012 e é
presidente desde 2017.
Na história da imigração brasileira para Portugal já houve
momentos de muita afluência como o final dos anos 1990 e início dos anos 2000,
recorda, reafirmando que neste momento "há uma chegada bastante
expressiva".
Esta nova vaga é composta por diversos grupos, desde as
pessoas com menos qualificação profissional, a um maior número de pessoas com
mais qualificação, muitos estudantes universitários, que já estavam a chegar desde
2009, mas que continuam a crescer, explicou.
Mas há também a introdução de uma nova comunidade, a dos
aposentados, os que têm rendimentos próprios no Brasil e a possibilidade de ter
agora em Portugal o visto para aposentado, e ainda uma classe mais alta, que
dentro do bolo da nova chegada não é "tão representativa", adiantou
Cíntia de Paulo.
Os mais representativos "são os profissionais mais
qualificados, da faixa entre os 30 e os 40 anos", acrescentou.
Dos que vão à Casa do Brasil, o motivo comum que os leva a
deixar o país de origem é "a procura de uma melhor qualidade de
vida", assegurou.
"Desde a destituição da Presidente Dilma [Rousseff -
que sucedeu a Lula da Silva na presidência do Brasil] que sentimos que há na
população brasileira uma descrença muito ligada às questões económicas, como o desemprego,
que cresceu nesse tempo e já vinha a crescer antes", referiu também.
"E sentimos que há um descontentamento e uma incerteza
do que vai ser o Brasil, no próximo mês, por exemplo. No próximo ano, então, a
incerteza é muito maior", acrescentou.
Por isso, chegam "com uma preocupação com melhor
qualidade de vida, melhor oportunidade de trabalho, mas sobretudo de
segurança".
"Sentimos que é uma comunidade que vem, não só para
trabalhar e mandar remessas para o Brasil, como acontecia nas várias passadas.
Mas uma população que quer contribuir para Portugal, que quer aqui trabalhar,
trazer os seus conhecimentos, aplicar aqui a sua profissão, investir, pequenos
investidores, pequenos empresários - que não só a classe alta faz investimento
-, são investidores com pequenas ideias e negócios", sublinhou Cíntia de
Paulo.
Ou seja, trata-se de uma comunidade que "veio para
contribuir", que pretende construir e trazer para Portugal as suas
famílias.
"Sentimos já a chegada de famílias, o que revela um maior
planejamento do processo migratório. Alguns até já vieram num passeio a
Portugal antes, ou estudaram melhor o processo", conta.
Mas, também "continuam a chegar alguns com menos
conhecimento da situação, nomeadamente do problema da habitação nos grandes
centros urbanos, que é uma das dificuldades novas que antes não se colocava
tanto".
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