Precisamente devido à importância do
tema é imperativo desenvolver um sentido estratégico de gestão a médio e a
longo prazo de forma a garantir uma relação de equilíbrio com todas as funções
das cidades.
A política de lucro imediato a muito
curto prazo vai levar à destruição do atractivo para os turistas e da
identidade genuína e carácter local para os residentes.
Uma cidade nunca pode ser reduzida a
uma plataforma rotativa onde únicamente Turistas encontram outros Turistas
OVOODOCORVO
Turismo já quase compensa sozinho o
défice da balança de bens
Análise do Banco de Portugal ao ano
de 2016 mostra papel importante do turismo no crescimento, emprego e saldos com
o exterior
Sérgio Aníbal
SÉRGIO ANÍBAL 3 de Maio de 2017, 12:00
O saldo positivo registado por Portugal face ao exterior nos
serviços de turismo praticamente igualou o défice no comércio de bens,
contribuindo de forma decisiva para o resultado positivo obtido nas contas
externas do país durante o ano passado.
Na análise ao desempenho da economia portuguesa durante o
ano de 2016 publicada esta quarta-feira pelo Banco de Portugal no seu último
boletim económico, o turismo surge em lugar de grande destaque em diversas
ocasiões. O crescimento das exportações de serviços de turismo (as vendas
realizadas neste sector a cidadãos estrangeiros são registadas como
exportações) foi no ano passado de 9,7%, acentuando a tendência positiva que já
se tinha registado em 2015, quando este indicador aumentou 8,7%. E o Banco de
Portugal assinala que este resultado no turismo contribuiu assim de forma
decisiva para dinamizar o desempenho do sector dos serviços, para o crescimento
do emprego por conta de outrem e para a aceleração registada nas exportações,
que voltaram a conquistar quota de mercado internacional.
O papel desempenhado por este sector no equilíbrio das
contas externas é mais evidente do que nunca. O saldo com o exterior dos
serviços de viagens e turismo (vendas a não residentes menos compras realizadas
por portugueses no estrangeiro) atingiu em 2016 os 4,8% do PIB, prolongando a
tendência de subida que se tem vindo a verificar nos últimos anos. Tendo em
conta que, no mesmo período, o saldo da balança de bens (habitualmente
deficitária em Portugal) foi negativo em 4,9%, isto significa que o turismo
conseguiu só por si compensar quase por inteiro o défice português no comércio
de bens.
O excedente da balança de serviços, que inclui as
exportações de viagens e turismo subiu de 6,9% para 7,1%, permitindo que o
saldo comercial fosse positivo em 2,2% do PIB, ao passo que o saldo com o
exterior total aumentasse de 1,2% para 1,7%.
As surpresas do Banco de Portugal
O resultado forte das exportações, com o contributo decisivo
do turismo, foi uma das surpresas encontradas pelo Banco de Portugal ao longo
do ano passado quando tentava antecipar o comportamento da economia nacional.
Em Março de 2016, quando fez a sua estimativa para o PIB e
para as suas diversas componentes, o Banco de Portugal apontou para um
crescimento em 2016 de 1,5%. No final, quase acertou no resultado, que foi de
1,4%. No entanto, como reconhece no boletim agora publicado, a autoridade
monetária portuguesa não conseguiu acertar no padrão e no perfil do crescimento
ao longo dos trimestres.
O Banco de Portugal foi surpreendido pela negativa pelo
investimento e pelo consumo público, ao passo que o consumo privado e as
exportações registaram resultados melhores do que o previsto. Em particular, as
exportações cresceram a uma taxa superior em 2,2 pontos percentuais ao estimado
inicialmente pelo banco.
De igual modo, é assumida a surpresa com o resultado fraco
da primeira metade do ano e com a retoma forte da segunda metade. “Assistiu-se
a uma sobrestimação do PIB e das suas principais componentes no primeiro
semestre do ano e a subestimação no semestre seguinte”, diz o relatório.
Produtividade afectada pela falta de crescimento
O Banco de Portugal deixa também alguns alertas. Um deles é
o de que, mesmo num cenário de crescimento económico, aquilo a que se tem vindo
a assistir ao nível da produtividade (medida pelo produto criado por pessoa) é
a uma tendência de diminuição, que se voltou a assistir em 2016.
A autoridade monetária considera que esta queda da
produtividade se deve sobretudo ao reduzido stock de capital acumulado pela
economia portuguesa, algo que se tem vindo a agravar devido à evolução negativa
registada no investimento nos últimos anos. Isto é, a falta de investimento em
máquinas e outros equipamentos está a manter a produtividade portuguesa a um
nível baixo e mesmo a conduzir a uma descida. Este é um dos motivos para que o
país não consiga apontar para ritmos de crescimento mais elevados.
Em relação às finanças públicas, embora assinalando a
descida registada no défice nominal, o banco assinalou o peso que medidas de
carácter extraordinário e a despesa com juros tiveram no resultado, calculando
que o saldo orçamental estrutural (que retira o efeito das medidas
extraordinárias e da conjuntura) estabilizou e que o saldo estrutural primário
(que retira ainda as despesas com juros) se deteriorou em 2016.
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