terça-feira, 9 de maio de 2017

Descoberta doca do século XVII nas obras do Hospital CUF, em Alcântara




Descoberta doca do século XVII nas obras do Hospital CUF, em Alcântara

Ritmo das obras de construção do hospital teve de ser ajustado, o que pode significar um atraso na conclusão dos trabalhos.

JOÃO PEDRO PINCHA 9 de Maio de 2017, 12:22

Foi encontrada recentemente uma doca do século XVII nas obras de construção de um hospital na zona de Alcântara, em Lisboa. Trata-se da doca do Baluarte do Sacramento, uma estrutura militar construída em 1652 por iniciativa do rei D. João IV.

A descoberta não foi uma surpresa, uma vez que a doca constava de mapas antigos daquela área. “O achado mais relevante foi também o mais expectável”, diz Inês Mendes da Silva, coordenadora das escavações realizadas no terreno de Alcântara. A especialista da empresa Era – Arqueologia sublinha ao PÚBLICO que “até ao momento todos os achados arqueológicos identificados já se achavam cartografados em plantas antigas”.

Antes mesmo de porem a doca a descoberto, os arqueólogos tinham já detectado os destroços de pelo menos uma pequena embarcação de madeira naquele local. “Pelas suas dimensões”, explica Inês Mendes da Silva, “deduz-se que [a doca] seria para ser utilizada por embarcações de pequeno porte, nomeadamente de apoio ao comércio local” e que “terá estado em uso até meados do séc XIX”.

Foi nessa época que se aterrou toda aquela zona e a cidade se expandiu ainda mais para junto do rio. Até há poucos meses, quando começaram as obras de construção do futuro Hospital CUF Tejo, a área teve sucessivas ocupações. A última, que aliás foi motivo de controvérsia aquando da aprovação do projecto do hospital, foi de serviços da Câmara Municipal de Lisboa, entretanto deslocalizados para os Olivais. “A doca apresentava algumas afectações decorrentes da implantação de diversas infra-estruturas entre os séculos XIX e XX”, continua a arqueóloga, mas ainda assim tinha um estado de conservação geral “razoavelmente bom”.

Esta estrutura portuária foi erguida aquando da construção de dois baluartes na zona, que tinham como finalidade defender Lisboa e a entrada do estuário. A ribeira de Alcântara, que corre – hoje subterraneamente – perto deste local, “não constituía um limite suficientemente eficaz para a defesa da capital depois da Restauração da Independência em 1640”, refere Inês Mendes da Silva. É por isso que, em 1650, “D. João IV dá ordens para a elaboração de um projecto geral de fortificação que vai definir as fronteiras da cidade até ao século XIX”. Os baluartes do Sacramento e do Livramento foram erigidos dois anos depois.

Por causa desta descoberta, a obra do hospital viu-se obrigada a “ajustar o seu ritmo aos necessários procedimentos de preservação”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da José de Mello Saúde. Isto pode significar, embora a mesma fonte não o explicite, que a construção do futuro Hospital CUF Tejo poderá demorar mais do que o inicialmente previsto.

A José de Mello Saúde conta ter o novo hospital a funcionar em 2019. O equipamento, que vai custar mais de cem milhões de euros, terá seis pisos à superfície, três pisos subterrâneos para estacionamento e um jardim virado à Avenida da Índia. O Hospital CUF Tejo está a ser construído no chamado "triângulo dourado", um terreno com mais de 20 mil metros quadrados em frente à estação de comboios de Alcântara-Mar, na esquina entre as Avenidas da Índia e 24 de Julho.

De acordo com a José de Mello Saúde, o achado “foi cuidadosamente avaliado, catalogado e recolhido por uma equipa de arqueólogos, estando já a ser estudada a possibilidade de integração no projecto por uma equipa técnica em coordenação com a DGPC.”


Essa integração nunca passará, no entanto, por uma manutenção in situ. “Considerando a posição da estrutura arqueológica, não é viável”, refere Inês Mendes da Silva. A arqueóloga diz que “os dados arqueológicos resultantes dum trabalho desta natureza são sempre fundamentais para se complementar de forma objectiva o conhecimento das pré-existências” e sublinha que “é através deste tipo de projectos que se torna possível aceder a estes contextos que, de outra forma, não seria possível conhecer.”

Sem comentários: