O meu Partido é Lisboa
Que temos nós que ver, se não
pertencemos nem a um Partido Político nem nos movimentamos nas brumas das
Sociedades Secretas, com os problemas internos de um Partido Político na
escolha de um líder?
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
6 de Agosto de 2014, 1:30
As indispensáveis características daqueles que buscam e
questionam mentalmente e que transformaram essa tendência natural em actividade
principal, os “Intelectuais”, são sem dúvida a Independência e a Autonomia.
É a salvaguarda destas fronteiras que permite garantir a não
conspurcação da fonte essencial do discernimento crítico, e assim a capacidade,
quando necessário de divergir, de provocar, enfim, de exercer a dissidência sem
inibição e com autenticidade.
Sócrates, com o exercício permanente da sua dialéctica
através do discurso/diálogo directo, ilustra na História das Ideias a busca
permanente desta Verdade, talvez inatingível, mas obrigatória.
Ora, nós sabemos através dos testemunhos de Platão, diálogos
estes sim compostos “intelectualmente” através da retórica escrita, como esta
Independência acabou.
No seu confronto com a Democracia Ateniense, Sócrates foi
considerado pelo Estado subversivo e perigoso na sua actividade. Capaz de
corromper a juventude através do seu método e ensinamentos.
Sócrates tinha de desaparecer. Tinha de ser eliminado. De
forma “limpa”, mas efectiva.
É no seguimento da obra de Platão, seu discípulo e de Aristóteles
por sua vez discípulo de Platão, que o “triângulo sagrado” se constitui, onde
as referências fundamentais do Pensamento Ocidental se desenvolvem. Hoje, os
“Akademus” e os “Lycaeum” onde os “Intelectuais” meditam e leccionam estão na
herança directa deste legado.
Tudo isto vem a propósito de um dos acontecimentos mais
deprimentes e fortuitos que tivemos oportunidade de presenciar. Um acto de
vassalagem de toda uma geração de centenas de “Intelectuais” perante as
promessas vagas, murmuradas matreiramente em operação charmosa, de futuras
“multiplicações de pães”.
J. D. Quintela, felinamente habituado a estes “fedores”,
classificou a promessa como “prato de lentilhas”, eu chamei-lhe de “sopa dos
pobres” para manter o simbolismo dentro do novo contexto gastronómico da
Ribeira.
Que temos nós que ver, se não pertencemos nem a um Partido
Político nem nos movimentamos nas brumas das Sociedades Secretas, com os
problemas internos de um Partido Político na escolha de um líder?
Este é um problema que devia ser resolvido internamente,
independentemente se um líder é Tó-Tó ou o outro é esperto, ou se um é matreiro
e o outro é sério. Tirem as vossas conclusões internamente, e só depois,
apresentem publicamente os resultados na forma de um Programa Político com
Líder definido.
A única coisa que eu tive oportunidade de verificar (ver
"Corpo Presente, Mente Ausente", da minha autoria, já em 26/08/2012,
aqui no PÚBLICO) é que este “Caminho” de António Costa estava, há muito tempo,
mais que “aberto” e a sua predefinição foi preparada minuciosamente ao
milímetro, mesmo antes da candidatura ao presente mandato.
Portanto, houve uma deserção premeditada do seu compromisso
com Lisboa, e só consigo reconhecer acrobacias em trampolim num projecto
pessoal de ambição política.
E é precisamente esta “personalização” com o álibi de
reforma política, arrastando a opinião pública e obrigando-nos a
pronunciarmo-nos com o argumento de participação na liberdade de escolha, que
eu rejeito como falacioso e enganador.
António Costa foi eleito para presidir aos destinos de
Lisboa. Nesse sentido, a “personalização” que eu pretendia ver em Costa até ao
fim do seu mandato era: O Meu Partido É Lisboa.
Que vão fazer os ditos “Intelectuais” no Futuro? Quando se
sentirem enganados e utilizados, porque comeram a “sopa” e não leram o “Menu”?
Envenenar-se com uns “empregozitos”?
Historiador de Arquitectura
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