“Lisboa tem de aprender com Barcelona
a resistir ao impacto da onda turística”
POR O CORVO • 25 MAIO, 2017
Num momento de profunda transformação de Lisboa, resultado
da súbita demanda turística, importa dar relevo às diferentes formas como a
cidade se redefine e responde à força transformadora do mercado imobiliário. E
aí pode aprender-se muito com os erros dos outros, não os repetindo. “Barcelona
foi vítima do seu próprio sucesso turístico. Lisboa é mais pequena e mais
frágil, pelo que terá de encontrar formas de se resguardar e encontrar
equilíbrio. Não conheço receitas certas de como o conseguir, mas se há coisa
que sei é que a protecção do património é algo fundamental”, considera Rita
Almada Negreiros, uma das comissárias da edição de 2017 da Open House Lisboa,
que decorrerá a 23 e 24 de setembro. Juntamente com a irmã, Rita Almada
Negreiros, será a responsável pela programação da sexta edição da iniciativa,
que tem como objectivo “aproximar os cidadãos da arquitectura” através de
visitas gratuitas ao lado menos conhecido de vários espaços, alguns dos quais
nunca abertos ao público.
Ao aceitar o convite
da Trienal de Arquitectura de Lisboa para serem comissárias da edição deste
ano, as netas do artista plástico José de Almada Negreiros terão agora de
definir quais os espaços da capital a ser visitados durante o último
fim-de-semana de setembro. A lista final, a divulgar apenas no início desse
mês, deverá contemplar cerca de sete dezenas de lugares. Alguns serão
novidades, outros a repetição de sítios cujas portas se franquearam ao grande
público em anos anteriores, disseram as comissárias, na apresentação feita aos
jornalistas, na manhã desta terça-feira (24 de maio). A maioria dos espaços do
roteiro está, porém, ainda por definir. Neste momento, apenas são conhecidos
oito. Entre eles contam-se as novidades do espaço partilhado de trabalho Second
Home, no Cais do Sodré, o Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia e o hotel
Santa Clara 1728. Haverá ainda lugar para o regresso ao Museu do Coches, ao
Atelier-Museu Júlio Pomar ou ao Museu da Marioneta.
A organização está
aberta a sugestões de espaços que possam ajudar a fechar a lista final do
roteiro. Qualquer pessoa pode fazê-lo, através de um formulário online, seja um
mero “amante de Lisboa”, um arquitecto ou um proprietário “de um espaço
surpreendente que aceita abrir as suas portas”. Com essas sugestões, Catarina e
Rita Almada Negreiros pretendem desenhar “uma espécie de mapa do tesouro por
dois dias”. Assumindo o carácter subjectivo das escolhas que apresentarão no
final do verão, as comissárias reconhecem que algumas das novas propostas
funcionarão como uma espécie de “espelho optimista” da “profunda transformação”
que atravessa a capital portuguesa. “Apesar do seu peso histórico, Lisboa
procura reinventar-se de várias formas: recuperando e descobrindo novos usos
para os seus espaços; criando novos equipamentos que respondem a novas
exigências; procurando novos centros; e dando resposta à procura turística”,
postula a dupla no seu programa.
Muita dessa capacidade de reinvenção de Lisboa, dizem Catarina
e Rita Almada Negreiros, passa por “uma nova sensibilidade para a reutilização
dos espaços”, obrigando dessa forma a arquitectura que vai sendo feita na
cidade a adaptar-se. Por exemplo, passou-se a “transformar profundamente um
espaço sem o destruir”, mantendo assim o seu essencial. Ou seja, a regeneração
urbana é cada vez mais relevante. Mas, alertam, “alguns espaços e edifícios
estão sob ameaça de não resistirem ao impacto das forças do mercado”, que, para
além da sua energia regeneradora, “também destrói”. “Uma transformação da
cidade demasiado rápida pode levar a uma perda de lugares, habitantes e, no
fim, da identidade”, alertam as irmãs comissárias. Apesar desses receios, as
netas de Almada querem mostrar o tal lado “optimista” das transformações em
curso.
Afinal, a Open House
é uma “festa da cidade e da arquitectura”, como fez questão de salientar aos
jornalistas José Mateus, presidente executivo da Trienal de Arquitectura de
Lisboa. Assumindo o lado pedagógico da iniciativa, Mateus chamou a atenção para
o facto de cada edição se constituir como uma oportunidade única para quem
deseja conhecer o lado mais íntimo de Lisboa. E isso inclui a entrada em
algumas casas particulares. “Alguns dos espaços mais fantásticos são espaços
muito pequenos”, frisou. Desde 2012, a Open House Lisboa permitiu conhecer 198
espaços e teve 79.377 visitas.
Sugestões de espaços
para o Open House 2017: https://form.jotformeu.com/71212968491360
Texto: Samuel
Alemão Fotografias: Trienal de
Arquitectura de Lisboa
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