Só o PS quer uma linha circular de
metro de Lisboa
Na assembleia municipal, todos os
partidos, dois especialistas e cidadãos concordaram em discordar do plano de
expansão do metro. Fernando Medina defendeu a opção do Governo
JOÃO PEDRO PINCHA 16 de Maio de 2017, 21:02
Raramente acontece, ainda mais quando o tema é transportes
públicos, mas as forças políticas com assento na Assembleia Municipal de Lisboa
foram praticamente unânimes na rejeição do plano de expansão do Metro de
Lisboa, que prevê a criação de uma linha circular até 2021. A excepção foi o
PS, que alinhou com o executivo camarário na defesa daquilo que considera ser
“a primeira prioridade” para o futuro deste meio de transporte.
A pedido do Bloco de Esquerda, a assembleia discutiu esta
terça-feira a anunciada construção de estações de metro na Estrela e em Santos,
ligando o Rato ao Cais do Sodré e criando assim uma linha circular. Além dos
deputados, também dois especialistas convidados se mostraram contra esta opção
do Governo. E outros três cidadãos usaram o período de intervenção do público
para criticar o plano.
“É uma obra arriscada, por baixo de edifícios antigos e
muito frágeis, isto vai provocar problemas complicadíssimos”, disse o
engenheiro civil Pompeu Santos, especialista em infra-estruturas que defendeu o
prolongamento das linhas vermelha e amarela até Alcântara-Terra, ali criando
uma interface entre metro, comboio e autocarros. “Quando se fala de expansões,
se não se pensa integradamente, não estamos a fazer investimento, estamos só a
fazer despesas”, afirmou.
O também engenheiro Santos Silva foi de semelhante opinião,
alertando para as “curvas e contracurvas” do percurso previsto entre o Rato e o
Cais do Sodré e para a dimensão das obras do Campo Grande – onde vai ser
necessário construir dois novos viadutos. “Não, não façam isto, por favor.
Perguntem aos técnicos de manutenção o que se há-de fazer. Não tomem decisões
sem perguntar”, pediu, propondo um debate mais alargado sobre o tema.
Já Álvaro Costa, professor da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, mostrou-se favorável à linha circular. Com recurso a
mapas, o especialista frisou que o Cais do Sodré é o principal ponto de
convergência para quem vem da Linha de Cascais e da Outra Banda e defendeu que
“esta é uma solução estruturante” que traz “grande competitividade” ao sistema
de transportes. Por outro lado, disse, a linha circular “protege a cidade do
impacto que qualquer outra extensão possa vir a ter na operação, porque se
garante uma frequência [de comboios] com qualidade”.
Em nome da comissão de trabalhadores do metro, Pedro Alves
lembrou que “quando prolongamos uma linha ou construímos uma estação, estamos a
investir muitos milhões de euros” e “um erro de projecto ou uma opção errada
custam muitos milhões a todos nós”. Por isso, pediu ao Governo e à câmara,
“ponderem bem” se a linha circular “é o que entendem como mais razoável para a
nossa cidade”. À semelhança do que fizeram os partidos, Pedro Alves pediu
também que seja feito “um debate público alargado” com várias entidades e que
este “seja assente em estudos públicos e auditáveis”.
“Para lá da pompa e circunstância que acompanham sempre
estes anúncios, sobra muito pouco”, considerou a deputada comunista Ana Páscoa,
para quem “esta expansão não acrescenta nada de significativo à rede
existente”. Para o PCP, “devia dar-se prioridade à expansão até Alcântara”.
Foi mais ou menos o que disseram todos os intervenientes
seguintes. Luís Newton, do PSD, mostrou um vídeo em que defendeu isso mesmo e
argumentou que a linha circular não vai servir para tirar carros do centro da
cidade. E manifestou o desejo de que “este debate possa servir de ponto de
partida para uma reflexão” mais aprofundada.
“Este é um erro muito caro e que pode comprometer por muitos
anos a mobilidade na cidade de Lisboa”, disse Ricardo Robles, do Bloco de
Esquerda. “As zonas que vai servir são zonas relativamente bem servidas de
transportes públicos”, afirmou, acrescentando que o plano “volta a esquecer a
zona ocidental” – o que classificou como “um erro crucial”.
“Precisamos de perceber, de uma vez por todas, o que é que o
município e o Governo pretendem para a rede de metro da cidade”, afirmou o
deputado Diogo Moura, do CDS. “As prioridades deviam ser outras.”
Por fim, Fernando Medina defendeu a solução adoptada pelo
Governo. “Esta opção é verdadeiramente estruturante para o funcionamento do
metro”, disse o presidente da câmara. Assim, explicou, vai ser possível “criar
um mecanismo para ligar o principal ponto de chegada à cidade [o Cais do Sodré]
à principal zona de emprego [as Avenidas Novas]”. O autarca disse que a linha
circular vai “fazer com que as pessoas possam acreditar que o metro é a solução
de mobilidade dentro da cidade”.
E disse também que “a expansão da linha vermelha para
ocidente [até Alcântara] é uma prioridade da câmara”, mas que “a primeira
prioridade concreta é o fecho do anel circular”. O “grande desafio” dessa
linha, afirmou depois aos jornalistas, será “o investimento no material
circulante”.
“Isto vai ter próximos episódios”, disse no fim do debate a
presidente da assembleia, Helena Roseta.
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