Carris prevê expansão da rede de
eléctricos com ligações à Alta de Lisboa e a Oriente
POR O CORVO • 11 MAIO, 2017 •
A empresa municipal vai estudar a criação de uma ligação
rápida entre a Alta de Lisboa e Entrecampos e de uma outra entre Santa Apolónia
e a Gare do Oriente. A primeira poderá vir a ser concretizada através do
sistema de autocarros Bus Rapid Transit (BRT), nascido na cidade brasileira de
Curitiba. Já a nova ligação de eléctrico ao Parque das Nações deverá aproveitar
a linha ferroviária existente. A curto prazo, estão garantidas a extensão da
linha 15 do Terreiro do Paço a Santa Apolónia e o regresso do 24, entre Cais do
Sodré e Amoreiras. Tudo isto faz parte do conjunto de “medidas estratégicas” a
aplicar até 2019. Haverá ainda mais 250 autocarros novos, mais 200 motoristas e
criar-se-ão 21 “linhas de bairro”.
Texto: Samuel Alemão
A Carris deverá lançar,
em breve, um estudo para a criação de uma ligação em eléctrico rápido ou
similar entre a Alta de Lisboa e Entrecampos, bem como um outro para uma
conexão no eixo Santa Apolónia-Gare do Oriente. Ambos se incluem no declarado
objectivo de expansão da rede de eléctricos da empresa municipal de
transportes, que se constitui como uma das 12 “medidas prioritárias” definidas
pela sua administração para o triénio 2017-2019, apresentadas no final da manhã
desta quarta-feira (10 de maio), em Santo Amaro (Alcântara).
O momento, que serviu
também para mostrar os principais dados do Plano de Actividade e Orçamento para
este ano da transportadora recentemente passada da esfera governamental para a
tutela directa da Câmara Municipal de Lisboa, foi aproveitado por Fernando
Medina (PS), presidente da autarquia, para frisar a importância de “recuperar o
serviço público de transporte e devolver a mobilidade aos cidadãos”.
Anunciando uma “nova
visão estratégica” que se baseia no mote “inverter o declínio e promover a
recuperação” – por contraste com um cenário em que se perderam 40 milhões de
passageiros por ano entre 2010 e 2016 -, Medina e o presidente do conselho de
administração, Tiago Farias, falaram na necessidade imperiosa de colocar a
empresa “ao serviço da cidade de Lisboa”. Um desejo que se deverá concretizar
através de “três pilares-base”: promover um serviço focado no cliente;
modernizar e qualificar a empresa; aumentar a eficiência e a sustentabilidade.
O que terá uma tradução prática, prometem, através da adopção de uma dúzia de
medidas “estratégicas” ou “prioritárias”, orçadas em 80 milhões de euros.
Entre elas está a
prometida expansão da rede de eléctricos – que agora conta apenas com cinco
ligações. E se já se sabia dos planos para o alargamento da linha de eléctrico
15 da Praça do Comércio até à estação de comboios de Santa Apolónia e para a
reactivação, há muito desejada, do percurso da linha 24, entre o Cais do Sodré
e as Amoreiras, a novidade passa pela criação das ligações rápidas à Alta de Lisboa
e à Gare do Oriente.
Um cenário revelado
pelo anúncio do lançamento de dois estudos prospectivos, como é referido no
documento entregue ontem aos jornalistas. Um deles avaliará as condições de
“implementação de eléctrico rápido/BRT nas ligações Alta de Lisboa-Entre
Campos”. Ou seja, em cima da mesa está a possibilidade de os passageiros
daquela zona da capital serem transportados até a uma da estações da rede de
metropolitano através de um eléctrico similar ao 15 – que hoje apenas assegura
a ligação entre a Praça da Figueira e Algés – ou, em alternativa, de um sistema
designado como Bus Rapid Transit (BRT), em que autocarros articulados circulam
a uma velocidade superior em canais de circulação dedicados e isolados do
restante tráfego automóvel.
Em muitos casos,
sistemas do género comportam plataformas de embarque, semelhantes às dos meios
ferroviários. Tal solução de transporte, surgida em 1974 na cidade brasileira
de Curitiba, permite aliar a velocidade dos sistemas de metro com a
flexibilidade e baixo custo dos autocarros. Em Novembro do ano passado,
existiam 207 cidades no mundo a usá-la.
O outro estudo vai
incidir sobre a criação de “soluções em modo próprio para o eixo Santa
Apolónia-Gare do Oriente, dinamizando a utilização integrada da linha da CP,
explorando as estações e apeadeiros intermédios”. O que isto significará ao
certo ainda está por definir. Uma possibilidade seria a de um simples
prolongamento até ao Parque das Nações da nova extensão a Santa Apolónia da
linha 15 – que tem como principal objectivo servir o terminal de cruzeiros em
construção junto à gare de comboios. Mas a referência expressa à “utilização
integrada” da linha ferroviária e à exploração de estações e apeadeiros
intermédios poderá implicar outra opção.
Neste momento, a
única estação de caminho-de-ferro existente na ligação directa entre Santa
Apolónia e Gare do Oriente – e coincidente com o percurso definido entre os
dois pontos terminais do desejado ramal de eléctrico rápido – é de Braço de
Prata. O que deixa adivinhar a construção dos mencionados “estações e
apeadeiros intermédios”. Em todo o caso, a promessa do estudo deixa clara a
intenção da Carris de criar um novo eixo de transporte público colectivo junto
à zona ribeirinha oriental, cobrindo assim bairros como Xabregas, Beato e Braço
de Prata – hoje apenas servidos por autocarros.
Além da anunciada
expansão da rede de eléctricos, o plano prevê onze outras medidas. As mais
relevantes são a introdução de tarifários mais atractivos – gratuitos para crianças
até ao 12 anos na Carris e Metro e redução de 60% no passe Navegante Urbano
para clientes idosos -, a renovação da frota – com a aquisição de 250
autocarros novos, na sua maioria movidos a energias alternativas (gás natural e
eléctricos) -, a contratação de mais 200 motoristas ou a, já antes anunciada,
criação de uma “rede de bairros”. Esta prevê a introdução de 21 novas linhas em
vários bairros de Lisboa, cobrindo todas as freguesias e nelas assegurando a
ligação com escolas, mercados, centros de saúde, zonas comerciais e com a “rede
estruturante” de transportes públicos. Já em julho avançam quatro: em Marvila,
nos Olivais, no Parque das Nações e em Santa Clara.
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