quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Estação Sul e Sueste renovada será o novo terminal de barcos turísticos de Lisboa


Estação Sul e Sueste renovada será o novo terminal de barcos turísticos de Lisboa
POR O CORVO • 8 SETEMBRO, 2016

Era a peça que faltava para completar o processo de requalificação da frente ribeirinha da capital, entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia. A velha estação fluvial de Sul e Sueste, localizada ao lado do Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, será reabilitada e convertida no novo Terminal de Atividade Marítimo-Turística de Lisboa. A obra, que deverá custar cerca de sete milhões de euros a suportar pela Associação de Turismo de Lisboa (ATL) e estar terminada até ao final de 2017, resulta da cedência pelo Estado à Câmara Municipal de Lisboa (CML) do edifício projetado em 1929 pelo arquiteto Cottinelli Telmo. “Este é um momento histórico de devolução do rio à cidade”, proclamou Fernando Medina, após a assinatura do protocolo de cedência do imóvel, ocorrida na tarde desta quarta-feira (7 de setembro).

Quando estiverem finalizadas as obras de restauro da estação, inaugurada em 1932 e sem utilização desde a inauguração ao lado do novo terminal fluvial, há cinco anos, estarão então reunidas as condições para se abrir “um pólo de animação que funcione como centro de atividade marítimo-turística”. No local, serão mantidos os pontões existentes, permitindo a sua utilização por barcos de maior dimensão, como cacilheiros, mas também haverá uma estrutura de apoio para embarcações de menor dimensão. “O importante é estarem num sítio com todas as condições e com grande visibilidade, mesmo ao lado do Cais das Colunas e do Terreiro do Paço, pois este género de atividade exige uma grande visibilidade”, disse Vítor Costa, o presidente da ATL, entidade a quem caberá gerir o terminal.

O interior da antiga estação está agora escorado por vigas de aço.

O projeto de restauro da antiga estação é da autoria da arquiteta Ana Costa, neta de Cottinelli Telmo, e a quem o Metropolitano de Lisboa encomendara tal trabalho já em 2003. De acordo com o mesmo, serão preservadas as características essenciais do traço de Telmo e muita da sua decoração inicial, incluindo os conhecidos painéis de azulejos alusivos a algumas das principais povoações do Sul a que era possível aceder a partir dali – de onde saiam os barcos rumo à estação de comboios do Barreiro. A recente desafectação do imóvel do domínio público ferroviário veio tornar possível o seu resgate à decadência, assinalou o ministro das Finanças, Mário Centeno, durante a cerimónia de cedência ontem ocorrida.

Numa primeira fase da intervenção, será feita uma consolidação estrutural do edifício, que se encontra escorado por vigas de aço no interior e chegou a apresentar risco estrutural, segundo disse Ana Costa ao Corvo, em Julho do ano passado. A intervenção de reabilitação do edifício, classificado desde 2012 como Monumento de Interesse Público, e que se encontrava há vários anos em acelerado processo de degradação, envolverá a remoção de todos os “acrescentos” feitos ao longo dos anos, garante Vítor Costa. O responsável diz estar a ser equacionada a criação de dois restaurantes e uma loja de recordações turísticas no interior. O espaço exterior deverá acolher esplanadas, após ser também rearranjado no âmbito deste projeto.


A requalificação desse espaço envolvente – a cargo do arquiteto Bruno Soares, responsável pelo projeto de renovação do Terreiro do Paço, inaugurado em junho de 2012 – permitirá a sua valorização e consequentes melhorias nas condições de circulação pedonal e de bicicleta na zona. A obra, destacou o presidente da ATL, completará a reabilitação do Cais das Colunas e do espaço público adjacente. Depois de completada a intervenção agora anunciada e as que estão em curso no Cais do Sodré e Corpo Santo, Campo das Cebolas, bem como no Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia, será possível, por fim, desfrutar de todo o espaço junto ao Tejo compreendido entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia.

Um facto destacado também por Fernando Medina, que disse ser esta “a última peça” em falta no processo de recuperação desse troço central da frente ribeirinha. “Apesar dos vários projetos urbanísticos em marcha, havia aqui uma mancha, uma ferida, uma espécie de nódoa” de uma área que “estava subtraída à cidade e foi agora devolvida”, afirmou o autarca, congratulando-se pelo que considera “o início do fim do processo de recuperação da zona ribeirinha”. “Esta será uma transformação para muitas décadas, permitindo virar a cidade de Lisboa para o rio Tejo”, afirmou, aludindo à possibilidade do renovado terminal de Sul e Sueste passar a ser a “estação central” dos cruzeiros turísticos ligando Belém e o Parque das Nações.


Texto: Samuel Alemão


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