terça-feira, 7 de janeiro de 2020

2020. O ano decisivo para o Clima




2020. O ano decisivo para o Clima

No ano da (des) graça de 2020, ano decisivo para o Clima, vamos construir um aeroporto no Montijo.

António Sérgio Rosa de Carvalho
6 de Janeiro de 2020, 17:55

Antes de continuar a ler este texto, lembre-se que a Austrália, que está a viver um verdadeiro inferno de incêndios contínuos e imparáveis, atingiu este sábado a temperatura de 48,9ºC em Penrith.

Isto, enquanto o PM australiano Morrison, entretanto insultado e vaiado publicamente pelas populações desesperadas, sim, o ‘tal’, o mesmo, que foi para férias no Havai em plena crise, continuava a afirmar que este cataclismo era um fenómeno ‘natural’ e não atribuível às alterações climáticas.

As mensagens de Novo Ano de Merkel e de Macron incluíram acentuada atenção para os desafios do Clima em sintonia com o ‘Green Deal’ europeu.

Entretanto, o mês de Novembro de 2020, data do COP26 em Glasgow (9-19 Novembro), conjuga outros dois acontecimentos significativos. A partir de 4 de Novembro os EUA podem sair do Acordo de Paris e as eleições americanas vão tomar lugar a partir de 3 de Novembro.

A escolha de Glasgow também encerra o mais alto significado. Enquanto Londres aparenta, apesar das intenções formuladas nas cimeiras do Clima, não conseguir libertar-se do paralisante e absorvente síndroma “Brexit”, a Escócia, que tem sido exemplar nos objectivos ambientais, vê nesta cimeira uma oportunidade única para se sintonizar com a UE e as metas estabelecidas no ‘Green Deal’. Esta é também uma oportunidade para um perfilamento autónomo da Escócia, perante o Reino Unido, objectivo que a mesma pretende estender, através de referendo, à total independência.

Mas, durante o seu discurso, Merkel anunciou uma medida dirigida a estimular a utilização do comboio como importante alternativa ‘verde’ e ‘descarbonizante’ perante o transporte rodoviário e aéreo.

Neste último ano, em todo o Norte da Europa, a discussão intensivou-se enormemente à volta das medidas a tomar para garantir a competitividade em preços e características do transporte ferroviário.

Só para dar um exemplo, o Eurostar passou a ser diário e directo a partir de Amesterdão, sem transbordo em Bruxelas.

Entretanto, em Portugal, temos vindo a assistir a uma grave incompetência, no que respeita o abismo e contraste entre os objectivos anunciados no Ferrovia 2020 e patéticos e inexistentes resultados. Mais uma data simbólica: há um ano, a 31 de Janeiro de 2019, o PÚBLICO anunciava “Governo só cumpriu 9% do programa da Ferrovia 2020”.

Esta “proeza” só tinha sido anteriormente superada quando, a 3 de Agosto de 2018, o PÚBLICO noticiava: “Pedro Marques anuncia mais 42 quilómetros de obra que não existe”.

Enquanto Pedro Marques foi entretanto ‘andar de comboio’ para Bruxelas, um notável percurso iniciado no Montijo, o seu substituto, Pedro Nuno Santos, defendia recentemente a ligação Lisboa-Porto “numa hora e um quarto” de comboio.

Ah! Montijo! Mais uma palavra ‘mágica’ da incompetência, de ausência de planeamento estratégico e irresponsabilidade ambiental.

Enquanto a urgência estratégica na perspectiva climática reside nitidamente na criação de uma alternativa séria e efectiva de ligação ferroviária à Europa, que nos liberte do isolamento e da dependência exclusiva do avião ou do automóvel, continua a apostar-se num investimento condenado por todos na perspectiva ambiental e de localização geográfica.

No ano da (des) graça de 2020, ano decisivo para o Clima, vamos construir um aeroporto no Montijo! 
@#$%^&*!!

                                                   Historiador de Arquitectura

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