2020. O ano
decisivo para o Clima
No ano da (des)
graça de 2020, ano decisivo para o Clima, vamos construir um aeroporto no
Montijo.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
6 de Janeiro de
2020, 17:55
Antes de
continuar a ler este texto, lembre-se que a Austrália, que está a viver um
verdadeiro inferno de incêndios contínuos e imparáveis, atingiu este sábado a
temperatura de 48,9ºC em Penrith.
Isto, enquanto o
PM australiano Morrison, entretanto insultado e vaiado publicamente pelas
populações desesperadas, sim, o ‘tal’, o mesmo, que foi para férias no Havai em
plena crise, continuava a afirmar que este cataclismo era um fenómeno ‘natural’
e não atribuível às alterações climáticas.
As mensagens de
Novo Ano de Merkel e de Macron incluíram acentuada atenção para os desafios do
Clima em sintonia com o ‘Green Deal’ europeu.
Entretanto, o mês
de Novembro de 2020, data do COP26 em Glasgow (9-19 Novembro), conjuga outros
dois acontecimentos significativos. A partir de 4 de Novembro os EUA podem sair
do Acordo de Paris e as eleições americanas vão tomar lugar a partir de 3 de
Novembro.
A escolha de
Glasgow também encerra o mais alto significado. Enquanto Londres aparenta,
apesar das intenções formuladas nas cimeiras do Clima, não conseguir
libertar-se do paralisante e absorvente síndroma “Brexit”, a Escócia, que tem
sido exemplar nos objectivos ambientais, vê nesta cimeira uma oportunidade
única para se sintonizar com a UE e as metas estabelecidas no ‘Green Deal’.
Esta é também uma oportunidade para um perfilamento autónomo da Escócia,
perante o Reino Unido, objectivo que a mesma pretende estender, através de
referendo, à total independência.
Mas, durante o
seu discurso, Merkel anunciou uma medida dirigida a estimular a utilização do
comboio como importante alternativa ‘verde’ e ‘descarbonizante’ perante o
transporte rodoviário e aéreo.
Neste último ano,
em todo o Norte da Europa, a discussão intensivou-se enormemente à volta das
medidas a tomar para garantir a competitividade em preços e características do
transporte ferroviário.
Só para dar um
exemplo, o Eurostar passou a ser diário e directo a partir de Amesterdão, sem
transbordo em Bruxelas.
Entretanto, em
Portugal, temos vindo a assistir a uma grave incompetência, no que respeita o
abismo e contraste entre os objectivos anunciados no Ferrovia 2020 e patéticos
e inexistentes resultados. Mais uma data simbólica: há um ano, a 31 de Janeiro
de 2019, o PÚBLICO anunciava “Governo só cumpriu 9% do programa da Ferrovia
2020”.
Esta “proeza” só
tinha sido anteriormente superada quando, a 3 de Agosto de 2018, o PÚBLICO
noticiava: “Pedro Marques anuncia mais 42 quilómetros de obra que não existe”.
Enquanto Pedro
Marques foi entretanto ‘andar de comboio’ para Bruxelas, um notável percurso
iniciado no Montijo, o seu substituto, Pedro Nuno Santos, defendia recentemente
a ligação Lisboa-Porto “numa hora e um quarto” de comboio.
Ah! Montijo! Mais
uma palavra ‘mágica’ da incompetência, de ausência de planeamento estratégico e
irresponsabilidade ambiental.
Enquanto a
urgência estratégica na perspectiva climática reside nitidamente na criação de
uma alternativa séria e efectiva de ligação ferroviária à Europa, que nos
liberte do isolamento e da dependência exclusiva do avião ou do automóvel,
continua a apostar-se num investimento condenado por todos na perspectiva
ambiental e de localização geográfica.
No ano da (des)
graça de 2020, ano decisivo para o Clima, vamos construir um aeroporto no
Montijo!
@#$%^&*!!
Historiador de Arquitectura
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