Navio
de Vasco da Gama pode ter sido encontrado em Omã. Revelados novos
dados
9/9/2016, OBSERVADOR
Os
destroços de um navio encontrados em 1998 junto à costa de Omã
pode pertencer a "Esmeralda", o navio que Vasco da Gama
usou na segunda viagem à Índia. O estudo foi publicado esta
sexta-feira.
Partes do navio que
Vasco da Gama utilizou durante os Descobrimentos portugueses do
século XVI podem ter sido descobertos ao largo da costa de Omã.
Novos dados sobre as buscas estão a ser avançadas esta sexta-feira
num estudo publicado esta sexta-feira no “Journal of Nautical
Archaeology“. Essas porções do navio foram encontrados em 1998
junto à ilha de Al Hallaniyah, no mar Arábico, mas as escavações
arqueológicas feitas no local permitiram obter mais pormenores sobre
a infraestrutura.
Tudo indica que este
pode ser o navio Esmeralda, que o explorador português utilizou na
sua segunda viagem marítima para a Índia. Esse navio pode ter sido
destruído durante uma tempestade no século XVI. De acordo com as
informações dispostas no estudo, “a baía onde o navio foi
encontrado tem uma concordância geográfica quase perfeita para onde
se supõe que os navio Esmeralda e São Pedro afundaram”.
Depois da descoberta
do caminho marítimo para a Índia em 1498, os portugueses começaram
a aventurar-se anualmente até àquele país asíatico. Era uma das
viagens mais perigosas e mortíferas para os marinheiros: estima-se
que, entre 1498 e 1650, morreram 219 portugueses naquela que era
chamada a Carreira da Índia. No entanto, pouco se sabia sobre os
navios: nunca foram encontradas muitas carcaças dos navios afundados
nesta época, provavelmente por terem sido saqueados. Além disso, há
um grande espaço em branco nos relatórios dos arqueólogos: sabe-se
muito pouco sobre o que aconteceu entre a data da primeira viagem à
Índia até 1552, ano em que o navio São João se destruiu no mar.
Pôr a História em
pratos limpos
D. Manuel I tinha
muito respeito por Vasco da Gama. As missões de Pedro Álvares
Cabral, que tinha ao seu comando treze navios, não tinham satisfeito
o rei: é que só seis dessas embarcações conseguiram chegar à
costa de Malabar entre 1500 e 1501. Mas Vasco da Gama tinha
encontrado uma fonte de riqueza na Índia que viria a ser útil a
Portugal, por isso o rei podia garantir assim que ficaria na História
como um líder de prestígio e ambição. Era algo que parecia longe
de acontecer e a religião era parte do problema: quando Álvares
Cabral chegou à costa de Malabar, depois de um grande investimento
real no oceano Índico, os caminhos das especiarias eram controlados
pelos soldados egípcios, com quem o explorador português não
manteve amizades.
Aos olhos do rei,
Vasco da Gama era um homem mais ponderado. Por isso, apostou na
criação de uma frota de vinte navios, cinco deles postos na mão de
homens da confiança do navegador. Foi a maior frota do Caminho das
Índias alguma vez constituída. Além de Vicente Sodré e de Brás
Sodré, seus tios, foram chamados Estêvão da Gama (primo), Álvaro
de Ataíde (cunhado) e Lopo Mendes de Vasconcelos (futuro cunhado).
De todos eles,
Vicente Sodré era o protagonista: era ele quem deveria substituir
Vasco da Gama caso este morresse na viagem, uma ordem dada pelo rei
quando este decidiu reagir à agressividade asiática com uma
resposta militar. D. Manuel I chamou Vicente (um cavaleiro da Ordem
de Cristo) e deu-lhe o comando do esquadrão de cinco navios da
família Gama, que funcionava quase independentemente das outras
quinze embarcações. O objetivo: iniciar uma guerra contra os navios
de Meca na costa de Malabar e à entrada do rio Vermelho para
conseguir o controlo forçado dos caminhos das especiarias. Os cinco
navios iam carregados de armas.
Vasco da Gama voltou
a Lisboa, mas Vicente Sodré continuou a patrulhar o sudoeste da
costa indiana para manter as fábricas portuguesas em segurança. Mas
o navegador ignorou as ordens de D. Manuel I e decidiu levar o
esquadrão, a bordo do Esmeralda, para o Golfo de Áden para assaltar
os navios da Arábia. Conseguiu-o com a ajuda do irmão, a bordo do
São Pedro, que incendiou os navios inimigos matando todos a bordo.
Mas só depois de os saquear e ficar com tudo: roupa, açúcar,
pimenta, arroz, entre outros bens.
Claro que os navios
portugueses não ficaram intactos. Em busca de um local onde os
pudessem arranjar, os irmãos Sodré levaram o esquadrão para a ilha
Al Hallaniyah, a única ilha habitada na costa de Omã. Ficaram
várias semanas por lá, acabando por manter amizade com os locais.
Um dia, os habitantes da ilha avisaram os irmãos Sodré de que uma
tempestade estava prestes a chegar àquela costa e que os navios não
sobreviveram à violência do fenómeno, a não ser que fossem
levados para o sotavento da ilha. Vicente e Brás Sodré mantiveram
os dois navios principais, Esmeralda e São Pedro, na mesma costa,
confiantes de que as âncoras eram fortes o suficiente para os
proteger.
Não foi o que
aconteceu. Os dois navios foram completamente destruídos pelo vento,
pelas correntes marítimas e pelas rochas. Julga-se que nenhum homem
a bordo do navio Esmeralda sobreviveu e que Vicente Sodré morreu
durante a tempestade. Quando o tempo acalmou, os sobreviventes
enterraram os seus corpos. Ao fim de seis dias, Pêro de Ataíde, um
dos navegadores, tomou comando dos navios e viajou até à Índia
para se encontrar com Francisco D’Albuquerque. Antes de morrer, já
de regresso a Portugal e a passar ao lado de Moçambique, Pêro de
Ataíde escreveu uma carta a D. Manuel I contando toda esta odisseia,
que pode ser vista no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário