Assunção
surpreende PSD e anuncia que é candidata a Lisboa
SOFIA RODRIGUES
10/09/2016 – PÚBLICO
Passos
Coelho não foi avisado, apesar de ter havido uma tentativa de
contacto por parte da líder do CDS-PP.
Com o PSD às voltas
em torno de um nome forte para a capital, Assunção Cristas jogou
com o efeito surpresa e anunciou que será candidata à Câmara
Municipal de Lisboa, nas autárquicas de 2017. Fê-lo com o argumento
de que quer ser “um exemplo de mobilização” do CDS-PP. O
anúncio, durante a reentrée do partido em Oliveira do Bairro,
Aveiro, apanhou de surpresa o líder do PSD, Passos Coelho, e acabou
por acontecer sem directos televisivos.
No distrito de
Viseu, Passos Coelho reagiu pouco tempo depois aos jornalistas. Não,
não foi informado previamente porque não ouviu a tentativa de
contacto telefónico por parte de Assunção Cristas pouco antes do
anúncio.
O líder do PSD
desejou "muito democraticamente a uma aliada a maior sorte e o
maior sucesso". E voltou a remeter uma decisão sobre candidatos
para mais tarde. “"Evidentemente que o PSD, na altura própria,
tomará a sua posição em matéria quer de Câmara de Lisboa, quer
de outros municípios no país. Este não é o momento de estarmos a
fazer o anúncio de escolhas que só serão feitas mais tarde",
disse, numa curta declaração.
Num comício-festa,
a líder do CDS justificou, em parte, a sua candidatura com um
argumento interno. “Quero dar o exemplo nesta mobilização do
nosso partido [para as autárquicas] e é por isso que darei o meu
exemplo sendo candidata à presidência da Câmara Municipal de
Lisboa”, disse Assunção Cristas, citada pela Lusa. A líder do
CDS-PP sublinhou que Lisboa e os lisboetas merecem "um projecto
forte, mobilizador, grande e de futuro".
Reconhecendo a
“dificuldade” das eleições autárquias “em Lisboa e no resto
do país”, a ex-ministra da Agricultura sustentou que o seu partido
tem “as melhores ideias e as melhores propostas”. Apesar de ser
natural de Luanda, Assunção Cristas recordou que foi em Lisboa que
cresceu, estudou e começou a trabalhar: “Tenho o vento de Lisboa
colado à minha pele e a água do Tejo colada à minha alma”.
A líder do CDS-PP
não esqueceu as preocupações que muitos lhe apontaram sobre o
risco de haver eleições antecipadas. “Há quem diga que é
preciso cautela porque que vêm aí legislativas. Não nos podemos
preocupar com o que não depende de nós”, argumentou.
O anúncio da líder
do CDS-PP acontece dois dias depois de ter ouvido muitas opiniões
desfavoráveis a essa candidatura durante uma reunião da comissão
política nacional.
Nessa reunião,
dirigentes argumentaram que a líder do partido não se devia expor e
que não tem nada a provar na sua liderança, até porque a transição
foi tranquila. Outro motivo ouvido na sala teve a ver com riscos. No
caso de haver um mau resultado eleitoral, Assunção Cristas ficaria
fragilizada interna e externamente.
Os dirigentes
lembraram ainda que não seria o partido a decidir, a opção seria
pessoal e caberia à própria. Na origem desta ideia esteve uma
recente entrevista à revista Sábado em que Cristas sugeria que
houvesse um apelo do partido para avançar para Lisboa. Ao que o
PÚBLICO apurou, essa vaga de fundo não se ouviu na sede do partido.
PSD apoiará?
A questão está
agora em saber se o PSD ainda pode vir a apoiar a candidatura de
Assunção Cristas, mas a hipótese parece muito pouco provável, já
que o partido foi surpreendido com o anúncio. Por outro lado, muitos
sociais-democratas viam como difícil o partido não apresentar um
candidato próprio à câmara de Lisboa.
A hipótese de
Assunção Cristas não desagradava, no entanto, à distrital de
Lisboa, até porque a líder do CDS aparecia muito bem colocada em
sondagens internas. Os sociais-democratas ainda não desistiram de
Pedro Santana Lopes, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia,
mas qualquer que seja a opção, só será anunciada nos próximos
meses, como reiterou esta noite Passos Coelho, depois de esta semana
já ter sentido a necessidade remeter a decisão para mais tarde para
tirar pressão do partido.
O timing sobre
Lisboa entre os dois partidos está desencontrado, mas Passos Coelho
e Assunção Cristas acertaram celebrar depois de Outubro um
acordo-chapéu para as coligações autárquicas em todo o país. As
conversações entre PSD e CDS já estão em curso ao nível das
distritais.
Desde o congresso em
que sucedeu a Paulo Portas na liderança do CDS, em Março deste ano,
que Assunção Cristas sugeriu que podia ser a própria a liderar uma
lista à capital ao dizer que Lisboa precisava de uma candidatura
“forte, ambiciosa e mobilizadora”, palavras que voltou a utilizar
neste sábado no anúncio da candidatura. Segundo fontes centristas,
a ex-ministra da Agricultura mostrou sempre vontade em avançar para
a capital independentemente do PSD.
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