João Grancho
demitiu-se por “imperativos de consciência” e “lealdade” para com o ministro
Nuno Crato
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Secretário de Estado
demissionário plagiou um terceiro trabalho
João Grancho, que tinha a tutela do Ensino Básico e Secundário, demitiu-se
invocando “imperativos de consciência”, depois da notícia que dava conta de
plágio numa comunicação por si apresentada em 2007
LisboaEducação / Nuno
Sá Lourenço e Graça Barbosa Ribeiro / PÚBLICO / 18 out 2014
Foi na mesma
comunicação preparada para as Jornadas Europeias da Convivência Escolar que
João Grancho copiou mais um professor universitário do Instituto da Educação.
Em 2005, Joaquim Pintassilgo viu incluído no livro Escola, Culturas e Saberes o
seu trabalho denominado “A profissão e a formação no discurso dos professores
do ensino liceal”
Aí, no segundo
capítulo intitulado “O entendimento do professor como profissional do ensino”,
surge um primeiro parágrafo muito semelhante a um excerto do segundo capítulo
da comunicação do secretário de Estado demissionário. O capítulo versava sobre
o “conjunto de normas e valores próprios dos professores” que eram
sistematizados “sob a forma de um código de conduta”. Apesar de algumas
palavras terem sido alteradas, os dois parágrafos são semelhantes.
O PÚBLICO
contactou o gabinete do Ministério da Educação e Ciência (MEC) para dar
oportunidade a João Grancho de reagir a este novo dado. Mas nessa altura já
Grancho se tinha demitido e não houve resposta até ao fecho desta edição.
Depois de ter
sido tornada pública a sua demissão, João Grancho afirmou à Lusa que o pedido
era determinado “por imperativos de consciência e de sentido de serviço
público”. E não, acrescentou, “por quaisquer questões relacionadas com o meu
[seu] desempenho no cargo”. O governante acrescentou ainda que o pedido era a
forma “que melhor preservava o Governo na difícil tarefa que ainda tem pela
frente e que terá que concluir para bem de Portugal”.
Horas antes,
através de um comunicado, o gabinete de imprensa do ministério da Educação fez
saber que João Grancho se demitira invocando “motivos de ordem pessoal”. O
ministro da Educação foi também, durante o dia de ontem, confrontado com a
notícia. À margem da sessão de trabalho “Estratégia de Competências da OCDE —
Uma estratégia de competências para Portugal”, realizada no Museu do Oriente,
Crato disse apenas que Grancho “já respondeu a isso”.
A demissão de
João Grancho apanhou de surpresa os dirigentes escolares, que nos últimos dias
ouviram aquele secretário de Estado garantir os meios materiais necessários
para compensar os alunos pelo atraso na colocação de professores (uma
competência do outro secretário de Estado, do Ensino e da Administração
Escolar, Casanova de Almeida). “Esta demissão deixa gravemente ferida e
especialmente fragilizada a equipa ministerial”, comentou Manuel Pereira, da
Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).
Na mesma linha,
Manuel Pereira considerou ser “irónico e preocupante” que, “num momento tão
conturbado para o ensino básico e secundário, se demita precisamente o elemento
do ministério que mais credibilidade tinha junto das escolas, que melhor
conhecia o terreno e o que realmente compreendia e tentava atender às
necessidades dos alunos”.
O vice-presidente
da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas
(ANDAEP), Filinto Lima, escusou-se a fazer um balanço do papel de Grancho no
MEC, mas disse-se “extremamente preocupado com o impacto desta demissão na
máquina do ministério e na forma como isso se reflectirá nas escolas”. “Estamos
preocupados com a admissão de professores, não devíamos ter de nos preocupar
com a demissão de ministros”, comentou, frisando que “as escolas já estão em
fogo e precisavam de paz e não de achas para a fogueira”.
Manuel Pereira e
Filinto Lima escusaram-se a comentar a notícia do PÚBLICO sobre os casos de
plágio e Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores
(Fenprof ), também. Este centrou as críticas na equipa do ministério, que,
considera, “está a cair de podre” e “fica, com esta demissão, ainda mais
fragilizada”. “Fico curioso. Não sei quem é que vai aceitar este lugar sabendo
que a sua missão é fazer cortes no montante de 700 milhões de euros”, comentou.
Mário Nogueira
disse ainda lamentar que o “secretário de Estado se tenha demitido por motivos
de ordem pessoal quando tinha tantos e tão bons motivos para o fazer por outras
razões”. “Este é o secretário de Estado da Prova de Avaliação de Capacidades e
Competências para professores e o responsável pela desorganização da Educação
Especial”, lembrou. João Dias da Silva, dirigente da Federação Nacional da
Educação, escusou-se a falar sobre este caso.
Em 2007, quando
João Grancho era presidente da Associação Nacional de Professores (ANP),
apresentou uma comunicação, numa conferência sob o tema “A dimensão moral da
profissão docente”, numas Jornadas Europeias, em Múrcia. As dez páginas da sua
participação — que está publicada no site das Jornadas — levantavam uma questão
sensível. Em algumas partes, o governante copia documentos anteriores, da
autoria de outros académicos, sem fazer qualquer referência aos autores
originais.
O secretário de
Estado rejeitou ao PÚBLICO a acusação de plágio: “Pretender associar um mero
documento de trabalho, não académico nem de autor, nas circunstâncias descritas,
a um plágio, é totalmente inapropriado e sem qualquer sentido.”
João Grancho
entrou no Governo em Outubro de 2012, na sequência de uma remodelação do
Governo, para substituir a então secretária de Estado Isabel Leite. Na altura
era presidente da Direcção Regional de Educação do Norte, mas era sobretudo
conhecido, no meio escolar, por ter presidido à Associação Nacional de
Professores, entre 2002 e 2011, onde se bateu pela criação de uma ordem
profissional, que permitiria a definição de “um quadro deontológico de actuação
para os docentes”. com Maria João Lopes.
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