Geração 20-30, podemos falar a
sós?
A nova geração de jovens formados procura uma oportunidade. Acreditam que
podem fazer a diferença. Descobrem que já não cabem. Que estão a mais
Texto de Rodrigo
Viana de Freitas • 27/10/2014 – P3 / PÚBLICO
É um clássico:
quando se fala de gerações, as mais velhas são sempre as melhores. Liam mais,
estudavam muito, eram mais trabalhadoras. E todas elas – as mais velhas – olham
com particular preocupação para esta faixa etária, “estranha e perdida”, hoje
entre 20 e 30 anos. Uma desgraça.
Como estou
(infelizmente) fora dessa zona de risco, podia aproveitar o embalo das linhas
de cima e dizer aqui poucas e boas acerca dessa juventude dos vinte e tal. Podia,
mas não o farei. Porque a entendo, admiro e nela deposito uma grande e sentida
esperança.
O país e o mundo
assistiram nos últimos anos a uma profunda mudança de paradigma. Tudo mudou. As
comunicações transformaram-se. A informação democratizou-se. O mundo tornou-se
global. E muitos, que com entusiasmo assistiam a tudo isto, escolhendo ou
terminando um curso superior, sentiram na própria pele que caíamos abruptamente
numa das mais graves crises financeiras das últimas décadas.
Em Portugal, não
precisamos de detalhar os impactos sentidos. Empresas a fechar, departamentos a
reduzir, salários a encolher. Quem contrata quer mais por menos. Quer
juventude, aliada a experiência e baixo preço. Quer o mesmo impossível que lhe
pedem os clientes. A mesmo ginástica que lhe exige a máquina fiscal.
É neste cenário
que a nova geração de jovens formados procura uma oportunidade. Acreditam que
podem fazer a diferença. Descobrem que já não cabem. Que estão a mais. Que o
que existe ou é curto ou é mal pago. Que os conselhos que ouvem em casa não se
adequam ao que veem no mercado. Que são obrigados a crescer, mas impedidos de o
fazer.
Esqueçamos então
os piores exemplos, que, de uma forma ou de outra, marcaram também todas as
gerações anteriores. Concentremo-nos nesta e no que faz, de facto, a diferença.
Olho para eles e vejo gente que se continua a formar. Que tirou um curso e que
mantém, em muitos casos, uma forte aposta na formação, com mestrados e
pós-graduações. Vejo gente que viaja. Aproveitam as "low cost" e
repetem os nossos “inter-rails”, mas de forma frequente e diversificada.
Mas vejo mais.
Vejo gente que fala línguas. Várias. E que quer aprender mais. Gente que domina
como ninguém as ferramentas digitais do também nosso presente e futuro. Gente
que não teme a emigração. Que já a testou em Erasmus e que se abre a
oportunidades mais ou menos longínquas. Vejo ainda gente da nova cultura. Dos festivais,
mas também do teatro e do cinema, mesmo que descarregado da net. Vejo mentes
mais abertas e muito menos formatadas.
Continuo a olhar.
Olho e sossego-me. É que vejo, também, gente que ainda não percebeu que a
revolução digital aliada à crise de 2008 é uma oportunidade de ouro. A
oportunidade. Que lhes deu as ferramentas e que os obrigou a ser melhor. A
saber arriscar. A (mais) nada temer. É que a dureza do caminho – que lhes adia
alguns sonhos, que os empurra para fora do país e que os obriga a recorrer aos
pais e a não ser pais – está a tornar esta geração numa nova força de
exigência, contrária a gerações anteriores, que entraram no mercado de trabalho
empurradas pelos milhões da União.
É para mim mais
do que certo: quando este vento passar, será todo este talento que nos fará
navegar.
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