Ilustração de
Charlemagne no Economist
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Países mais procurados pelos
emigrantes portugueses querem livrar-se dos desempregados
ANA CRISTINA
PEREIRA 20/10/2014 - PÚBLICO
No Reino Unido, na Suíça e na Alemanha discutem-se restrições à livre
circulação. O acesso ao sistema de protecção social do Reino Unido já está a
mudar. A Suíça prepara novo referendo.
Em três dos
principais destinos dos portugueses que hoje emigram, Reino Unido, Suíça e
Alemanha, instalou-se um debate sobre a livre circulação de pessoas. Quem não
tem emprego ou meio de subsistência pode vir a ser convidado a fazer as malas e
a regressar ao ponto de partida.
O Observatório da
Emigração pede aos países de destino dados sobre a entrada de portugueses. No
ano passado, entraram 30 mil no Reino Unido, 15 mil na Suíça e 11 mil na
Alemanha. Este ranking talvez fosse diferente se houvesse números fiáveis sobre
França, mas o país não processa ou divulga estes dados para não alimentar
sentimentos xenófobos. O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário,
está convencido de que não há mais gente a ir para o Reino Unido, a Suíça ou a
Alemanha do que para França. É lá que está a maior comunidade portuguesa e essa
tem boa base empresarial e fortes laços – de família, amizade ou vizinhança –
com Portugal.
Com a abertura de
fronteiras, as migrações tornaram-se mais experimentais. Livre circulação,
porém, não é livre fixação. Para obter autorização para viver noutro país do
Espaço Económico Europeu (EEE) por mais de três meses, qualquer cidadão
comunitário tem de ter trabalho ou meios de subsistência que não o convertam
num fardo para o sistema de protecção social do estado de destino.
Em Portugal,
informa o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), “o desemprego ou a falta
de meios de subsistência não são fundamento para abandono voluntário, nem
afastamento coercivo” de cidadãos de outros países da União Europeia (UE). Prestações
sociais pertinentes contam como meio de subsistência. E tem acesso a subsídio
de desemprego quem já trabalhou e a Rendimento Social de Inserção (RSI) quem
reside no país há um ano. Segundo o Instituto de Segurança Social, em Setembro
de 2014 havia 1827 cidadãos comunitários a receber subsídio de desemprego e 1621 a beneficiar do RSI. O
Luxemburgo é o país com maior taxa de portugueses desempregados, a rondar os
30%, mas, tal como Portugal, não considera o desemprego causa de expulsão.
Noutros
Estados-membros há um entendimento diferente. E a possibilidade de mandar
embora cidadãos comunitários começou a ser considerada desde que a crise
atravessou o Atlântico e se propagou pela Europa. A Bélgica, por exemplo, está
a expulsar até famílias com longa permanência no país, alegando que representam
uma “carga não razoável”: 343 em 2010, 989 em 2011, 1918 em 2012.
Acossados pelo
avanço de partidos extremistas de carácter eurocéptico, alguns partidos
tradicionais que integram governos, “em vez de combaterem, adoptam um discurso
de perfume xenófobo”, nota o eurodeputado Carlos Coelho (PSD), que faz parte da
Comissão Parlamentar Mista do EEE. “A Comissão Europeia pode levar ao tribunal
quem não respeitar a directiva da livre circulação e não tenho dúvidas de que
levará”, diz. “Preocupa-me muito o que está a acontecer.” Portugal assiste a um
êxodo, em termos quantitativos, só comparável ao das décadas de 1960 e 1970.
Primeiro a França
A polémica
estourou em França, em 2010, era Nicolas Sarkozy primeiro-ministro, com a
expulsão de romenos e búlgaros de etnia cigana. Estava a acontecer o mesmo,
ainda que de forma mais discreta, noutros países da UE, incluindo Itália,
Alemanha, Dinamarca e Suécia. Houve queixa à Comissão Europeia, mas Roménia e
Bulgária tinham entrado na União com restrições à livre circulação.
À socióloga Inês
Espírito Santo não parece possível que a comunidade portuguesa, sobre a qual
fez doutoramento, venha a ser alvo de uma atitude negativa: “é a população
estrangeira menos exposta ao desemprego em França”. O país não trata os dados
do desemprego por nacionalidade. Para ter ideia do que se passa com a
comunidade é preciso recorrer aos censos. Ao analisar os últimos (2009), a
investigadora do Observatório da Emigração deparou-se com uma taxa de
desemprego entre nascidos em Portugal de 5,5%, numa altura em que a taxa de
desemprego global era de 9,1%. “Inseriram-se em sectores de actividade muito
específicos, nos quais conseguiram criar redes sociais comunitárias, para além
de usufruírem de uma imagem de ´bom trabalhador´ aos olhos dos empregadores”,
comenta.
Reino Unido já
cortou apoios
No ano passado, a
controvérsia instalou-se no Reino Unido, o novo grande destino migratório dos
portugueses. Num artigo publicado no Financial Times, o primeiro-ministro David
Cameron anunciou novas rescrições a cidadãos oriundos do EEE. Nem tudo o que
foi anunciado por Cameron foi aprovado. Até agora, o Reino Unido respeitou as
directivas europeias, sublinha Carlos Coelho.
As primeiras
mudanças entraram em vigor a 1 de Janeiro, quando romenos e búlgaros conquistaram
o direito à livre circulação. Antes, havia apoio financeiro imediato para quem
se inscrevia no centro de emprego. Agora, o candidato tem de provar que está a
viver no país há três meses para ter acesso a esse subsídio, a abono de família
e a outras prestações. Quem ficar desempregado durante mais de meio ano perderá
o estatuto de trabalhador, que lhe permite permanecer no país. O sistema de
protecção social continua, todavia, mais generoso do que na maior parte dos
países da UE.
Nos censos de
2011 figuravam 4677 portugueses na lista de desempregados, havia então 84 mil
pessoas nascidas em Portugal a residir no Reino Unido. Desde então cresceu
muito a comunidade, sobretudo em Londres. Enquanto em Portugal aumentava o
desemprego, no Reino Unido aumentava a oferta de trabalho, observa Cláudia
Pereira, que também integra a equipa do Observatório da Emigração. Houve
recrutamento directo, há facilidades na língua, formou-se uma comunidade
heterógena. A taxa de desemprego global é agora de 6,4%. Os últimos dados de
que dispõe a socióloga, que se tem debruçado sobre aquele país, indicam 4066
portugueses desempregados em 2012 e 5277 em 2013.
Alemanha lançou
propostas
Em Março deste
ano, foi a vez de a Alemanha anunciar medidas destinadas a controlar a
imigração. O ministro do interior, Thomas de Maizière, e a ministra do
Trabalho, Andrea Nahles, apresentaram um relatório no qual se propunha conceder
entre três e seis meses aos cidadãos oriundos de outros países da UE para
encontrarem trabalho. De outro modo, teriam de abandonar o país. Seriam não só
expulsos da Alemanha, mas também proibidos de regressar ao país aqueles que
tivessem ludibriado o sistema para receber indevidamente prestações sociais.
A taxa de
desemprego mantém-se baixa, mas a dos estrangeiros tende a dobrar a dos
alemães. Libaneses, iraquianos, afegãos, iranianos, ucraniano são os mais
afectados pela falta de trabalho, o que não será alheio ao facto de muitos
serem refugiados. A dos portugueses fica-se pelo meio caminho entra a dos
nacionais e a dos estrangeiros. Havia no ano passado 104.084 nascidos em
Portugal a residir na Alemanha e em Maio 11.449 recebiam “subsídio básico para
pessoa à procura de emprego”, uma espécie de Rendimento Social de Inserção, e
5564 subsídio de desemprego.
O país, diz o
sociólogo Nelson Rodrigues, funcionário da Caritas na Alemanha, tem um sistema
de protecção social muito generoso. Além do subsídio de desemprego e do
subsídio básico para pessoas à procura de emprego, há ajuda para comprar
mobília, pagar a renda de casa ou as contas de água, luz e gás. E correm
histórias de abuso associadas a famílias oriundas da Bulgária ou da Roménia. Nada
mudou, até agora. Nelson Rodrigues espera que os anúncios feitos pelo Governo
de Angela Merkel fiquem lá atrás, no calor que antecedeu as últimas eleições
europeias.
Suíça fez
referendo polémico
A Suíça aprovou
em Fevereiro um referendo que prevê quotas de entrada de cidadão da UE. E
prepara-se para fazer outro sobre a redução de entradas a uma quota anual de
0,2% da população residente, o que equivale a 16 mil pessoas, quando o saldo
migratório ultrapassa os 80 mil.
A taxa de
desemprego ronda os 3%. Sucessivos estudos mostram que os estrangeiros têm duas
a três vezes mais probabilidade de ficarem desempregado. Amiúde trabalham em sectores
com grandes flutuações sazonais, como a construção civil, hotelaria,
agricultura. É o caso dos portugueses, cuja taxa de desemprego oscila entre os
10% no Inverno e os 5 a
6% no Verão. Para já, os cidadãos da União têm direito a “seguro-emprego”. Terminado
o tempo em que têm direito a prestação, têm seis meses para encontrar novo
trabalho. Caso não consigam, podem perder a autorização, a menos que provem que
tê meios de subsistência. Só quem tem autorização de residência de longo prazo
escapa.
David Cameron making ‘historic’ mistake over EU, says
José Manuel Barroso
The UK prime
minister plans to impose restrictions on the free movement of citizens from EU
member states
Nicholas
Watt, chief political correspondent
The
Guardian, Monday 20 October 2014 / http://www.theguardian.com/world/2014/oct/20/jose-manuel-barroso-david-cameron-eu-ukip
David Cameron is making a “historic mistake”
by adopting a defensive approach towards the EU which risks increasing the
chances of a British exit, the outgoing European commission president José
Manuel Barroso will warn on Monday.
In the
strongest attack by Brussels on the
Conservatives over their handling of the EU, Barroso will say that the prime
minister’s plan to impose an “arbitrary cap” on immigrants from eastern Europe
is contrary to EU law and will alienate Britain ’s natural allies.
Barroso,
the most anglophile commission president of the last 30 years, will give vent
to deep frustration at British tactics when he takes the highly unusual step of
venturing into internal UK
affairs by warning that the Tories should learn from the Scottish referendum
and not wait until the final days to make a positive case.
In a speech
at Chatham House on Monday, Barroso will sweep aside his usual diplomatic
language to say: “My experience is that you can never win a debate from the
defensive. We saw in Scotland
that you actually need to go out and make the positive case. In the same way,
if you support continued membership of the EU you need to say what Europe stands for and why it is in the British interest
to be part of it.
“And you
need to start making that positive case well in advance, because if people read
only negative and often false portrayals in their newspapers from Monday to
Saturday, you cannot expect them to nail the European flag on their front door
on Sunday just because the political establishment tells them it is the right
thing to do.”
The
intervention by Barroso, a month before he stands down after a decade as
president of the commission, comes amid deep frustration among EU leaders about
the way in which Cameron is hardening his approach to the EU in response to
Ukip. Barroso was privately appalled when Philip Hammond, the foreign secretary
who is meant to be drumming up support for Britain’s EU reform plans across
Europe, told MPs on Friday that Tory plans for an in/out referendum amounted to
“lighting a fire” under the EU.
The prime
minister, who initially instructed his MPs to vote against an in/out referendum
before changing his mind in 2012, is embarking on a fresh change of heart as he
plans to impose restrictions on the free movement of citizens from EU member
states. The prime minister had said the restrictions would be limited to
cracking down on benefit tourism.
But the
Sunday Times reported that Cameron is planning to cap the number of national
insurance numbers issued to EU immigrants with low skills. This would hit the
11 eastern European states that have joined since 2004. National insurance
numbers could be issued for a limited period to ensure the prime minister
delivers on his pledge to reduce net migration to the tens of thousands.
Grant
Shapps, the Tory chairman, told The World This Weekend on BBC Radio 4: “We cannot
have an open-ended situation where people are able to always come to Britain in such
a lop-sided arrangement.”
Barroso
said that Cameron’s proposal would fall foul of EU law which guarantees the
free movement of people. The Lisbon treaty of
2007 echoed the EEC’s founding 1957 treaty of Rome as it said “the free movement of persons
is ensured”.
The
commission president will say that the way in which the Tories have singled out
the Poles, whose citizens have travelled to Britain in record numbers over the
last decade, is self-defeating.
“It is an
illusion to believe that space for dialogue can be created if the tone and
substance of the arguments you put forward question the very principle at stake
and offend fellow member states. It would be an historic mistake if on these
issues Britain
were to continue to alienate its natural allies in central and eastern Europe, when
you were one of the strongest advocates for their accession.”
Barroso’s
remarks are intended to highlight how Cameron is complicating the only route to
achieve his goals – amending the Lisbon
treaty which has to be approved by all 28 EU member states. He will draw a
second parallel with the Scottish referendum as he reminds his audience that he
said that Alex Salmond would have faced an immense challenge in negotiating EU
membership.
“I created
waves in February when asked about the possibility of regions leaving member
states, as I pointed out that negotiating an accession treaty is no easy feat.
Negotiating any major constitutional change is difficult and very risky. And
the uncertainty it creates has a direct and immediate upstream impact on confidence,
including the investment decisions of industry.”
Witold
Sobków, the Polish ambassador to the UK ,
indicated that Warsaw would veto any proposal to
amend the Lisbon
treaty to limit free movement. Sobków told The World This Weekend: “We want the
UK to remain in the EU so we
will do our best to help the British government introduce some reforms in the
functioning of the EU, enabling the UK to remain in the EU... [But]
free movement of people is a fundamental freedom of the EU. So there are some
things we can do and some things that we shouldn’t do.”
Nigel
Farage said that Cameron was seeking to impose a limit on free movement because
he is “terrified of Ukip”. The Ukip leader told the BBC: “I don’t often agree
with Barroso. But what the prime minister is saying about limiting the number
of EU migrants that come to Britain
is simply untrue. He is doing it for political reasons because he is terrified
of Ukip.”
Barroso
will tease Farage by highlighting their contrasting tastes in alcohol to show
how different nation states can work harmoniously in the EU. He will say: “For
me the answer is a resolute no. I may prefer a glass or two of good red wine
than a pint of beer when I am out on the election trail. But I too come from a
country with a long history, a trading nation, proud of its culture and
tradition. And it may be a revelation to some, but the vast majority of people
living in Europe are also rather attached to
their national identity – however they may choose to define it.”
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