Usar transportes
públicos? Só se deixar de ter carro ou se perder rendimentos
A Autoridade
Metropolitana de Transportes de Lisboa promoveu um estudo sobre a satisfação
dos utilizadores
PÚBLICO / 18-10-2014
Usar transportes
públicos continua a ser visto por muitos como um castigo: de acordo com um
inquérito realizado a cerca de dois mil habitantes da Área Metropolitana de
Lisboa (AML), as pessoas que não se deslocam naqueles transportes dizem que
deixar de ter automóvel ou sofrer uma redução de rendimentos seriam as
principais razões que as poderiam fazer mudar de ideias. Acresce que para 60%
dos não utilizadores vir a viajar de autocarro, metro, comboio ou barco é uma
hipótese que nem sequer é equacionada.
Estes são alguns
dos resultados do Estudo de Satisfação dos Utilizadores de Transportes Públicos
da AML, um trabalho que foi encomendado pela Autoridade Metropolitana de
Transportes de Lisboa (AMTL) ao ISCTE e cujos principais resultados foram dados
ontem a conhecer. A juntar ao já referido inquérito, que foi aplicado a 2008
pessoas, o estudo coordenado pela professora catedrática Elizabeth Reis incluiu
18 entrevistas etnográficas e seis focus groups.
Além do perfil
sociodemográfico e de mobilidade dos habitantes da AML, incluindo qual a origem
e o destino das suas deslocações, os inquéritos procuraram aferir qual o seu
grau de satisfação com os transportes públicos. Nesse âmbito foram ouvidos não
só clientes regulares dos mesmos, mas também pessoas que deixaram de os
utilizar há menos de cinco anos e outras que não viajam neles há mais tempo do
que isso.
Olhando para o
último grupo (que representa 41% dos inquiridos) verifica-se que 60% dos não
utilizadores de transportes públicos dizem que com certeza que não virão a
fazê-lo no futuro e que 23% o consideram pouco provável. Deixar de ter
automóvel ou sofrer uma redução do rendimento são as razões mais apontadas para
uma eventual alteração de atitude, seguindo-se a mudança de local de
trabalho/escola/residência.
Entre aqueles que
deixaram de utilizar transportes públicos nos últimos cinco anos (16% dos
inquiridos), a perspectiva é mais animadora para os operadores: 34% afirmam com
certeza que não voltarão atrás na sua decisão e 32% consideram pouco provável
voltarem a andar de autocarro, metro, comboio ou barco.
E porque é que
essas pessoas deixaram de andar de transportes públicos? Segundo os resultados
do Estudo de Satisfação dos Utilizadores de Transportes Públicos da AML, que
foram apresentados pelo director executivo e pela directora técnica da empresa
de investigação e estudos de mercado Pitagórica, a mudança do local de
trabalho/escola/residência foi o factor que mais pesou. Seguiu-se o facto de
terem passado à condição de reformados/ desempregados ou a mudança para o
automóvel. Só depois disso surgiram elementos directamente associados ao
serviço prestado pelas empresas de transportes, como o tempo de deslocação, o
preço ou a comodidade/qualidade.
Olhando apenas
para os utilizadores, Alexandre Picoto e Rita Silva concluíram que há uma
“ideia globalmente positiva dos transportes públicos da AML” e que o principal
motivo para a sua utilização é económico. “Não é por ser mais sustentável ou
mais agradável”, notou o director executivo da Pitagórica, frisando que “o
racional é económico-financeiro”.
Aos utilizadores
e ex-utilizadores de transportes públicos foi também pedido que avaliassem um
total de 26 indicadores. Contas feitas, aquilo com que as pessoas estão mais
satisfeitas é com a rapidez do percurso, com a distância até à paragem ou
estação, com o profissionalismo dos trabalhadores das empresas, com a adequação
dos percursos às suas necessidades e com a frequência de veículos aos dias
úteis. Já os aspectos mais contestados são o preço dos bilhetes avulso, os
transportes alternativos em períodos de greve, o preço dos passes mensais, a
frequência de veículos ao fim-de-semana e a frequência das greves.
Durante a sessão
de apresentação deste estudo, o director de serviços de contratualização,
fiscalização e financiamento da AMTL adiantou que no primeiro semestre de 2014
os utentes dos transportes públicos fizeram 3492 reclamações no chamado Livro
Vermelho. Segundo Hugo Oliveira, esta foi a primeira vez (desde 2011) em que o
número de queixas registado num período de seis meses ficou abaixo da barreira
dos quatro mil.
Explicando que em
média são recebidas nove mil reclamações por ano, o dirigente considerou que
esse é um número “muito alto”. Em relação aos visados nas queixas, Hugo
Oliveira notou que a empresa Transportes Sul do Tejo tem tido “uma tendência
muito crescente”. Quanto aos motivos que levam as pessoas a protestar, este
orador notou que as questões relativas aos títulos de transportes são “uma
constante”.
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