António Costa: a
serena incompetência
por PAULO PEREIRA
DE ALMEIDA in DN online / 17-10-2014
As recentes
afirmações de altos responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa (CML) sobre as
inundações em vários pontos centrais da cidade constituem - em si mesmas - uma
ameaça à segurança e à garantia de uma ação eficaz da parte da Proteção Civil.
E foi com uma
enorme surpresa e incredulidade que pudemos, na passada terça-feira desta
semana, assistir a um conjunto de "esclarecimentos" de diferentes
dirigentes da CML que apontavam - de um modo certamente concertado - para a
"inevitabilidade" da ocorrência de acumulações massivas de água da
chuva na capital portuguesa. Foi assim que - de uma maneira que é bem
reveladora da sua serena incompetência - o presidente da CML e atual líder do
Partido Socialista (PS) António Costa surgiu nos principais meios de
comunicação social a admitir que "nada" pôde, poderia, ou poderá, vir
a ser feito para evitar a repetição do caos em segurança urbana e proteção
civil que Lisboa viveu na passada segunda-feira.
Ora acontece que
- para além de serem profundamente preocupantes -, as afirmações de António
Costa só podem deixar muito intranquilos todos os que habitam, trabalham,
circulam e vivem a cidade. Vejamos - pois - de uma maneira mais concatenada, as
razões de preocupação para cada um destes grupos de cidadãos. Em primeiro
lugar, e para os que trabalham e comutam todos os dias entre as suas casas
(muitas vezes fora de Lisboa) ficámos a saber que - em caso de chuvas fortes e
de outras intempéries - não está garantido que consigam aceder ao seu local de
trabalho ou regressar a sua casa depois do trabalho; será, a todos os títulos e
ironicamente, uma espécie de "greve self-service" sem hora marcada
dos potenciais transportes, o que só encontra paralelo em cidades do terceiro
mundo. Depois, em segundo lugar, e para os que fazem das ruas de Lisboa o seu
local de comércio e que já vivem atualmente sobrecarregados de impostos e numa
enorme crise, ficámos a saber que a CML nada lhes garante em termos da
segurança e da proteção dos seus bens e dos seus espaços comerciais; ora para o
presidente da maior autarquia do País (e agora candidato a primeiro-ministro)
só poderá ser contraditório defender os mesmos comerciantes quando se trata de
lhes pedir o voto e agora, no momento em que se adivinham outras ambições,
deixá-los à sua sorte. Por fim, em terceiro lugar, e para os turistas e todos
os que circulam e vivem a cidade de diversas formas e em diferentes condições
sociais, ficámos ainda a saber que Lisboa tem um presidente que nada faz (ou,
pelos vistos, fará) para garantir a segurança de circulação e a preservação dos
espaços públicos. É que - note-se bem - se com uma chuvada intensa mas curta
Lisboa fica transformada no caos que se pôde observar na segunda-feira, nem
quereremos imaginar o que poderá suceder com uma verdadeira tempestade, ou com
um potencial nevão.
António Costa é
um político de uma escola que - aparentemente - não olha a meios para atingir
os seus fins. Para quem tem memória política, ainda se recordará dos tempos em
que Costa era ministro da Administração Interna e prometia que os registos das
câmaras de videovigilância nas estradas serviriam como prova para punir as
infrações dos condutores; e também se lembrará de quando, já presidente da CML,
Costa não hesitou em colocar em causa o trabalho do seu colega de governo do PS
Rui Pereira, então ministro da Administração Interna, em nome de uma Lisboa
mais segura.
Ironias à parte,
merecíamos melhor como candidato a futuro primeiro-ministro.
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