Lisboa. Câmara reduz horários dos
bares do Cais do Sodré mas moradores continuam insatisfeitos
Por Marta
Cerqueira
publicado em 22
Out 2014 in
(jornal) i online
Bares do Cais do
Sodré, da Bica e de Santos passam a fechar às 2. Moradores dizem que medida não
resolve problema
Os bares das
zonas históricas de Lisboa vão seguir o modelo do Bairro Alto, que desde 2008
tem ordem de fecho marcada para as duas da manhã. Na Bica, em Santos e no Cais
do Sodré, os bares que actualmente encerram às 4h vão passar a fechar às 2h nos
dias de semana e às 3h durante o fim-de-semana.
O problema do
ruído nestes locais já é antigo e os testemunhos dos moradores já deram origem
a queixas na junta de freguesia e na câmara municipal, a petições ou
abaixo-assinados. No entanto, a mudança de horário de encerramento dos bares
não é vista como a resposta às necessidades de quem mora em alguns dos locais
mais movimentados da noite lisboeta. "Esta medida não vem resolver coisa
nenhuma", garante Isabel Sá da Bandeira. A viver no Cais do Sodré desde
2006 e membro do movimento Aqui Mora Gente, Isabel explica ao i que o facto de
os bares fecharem mais cedo não impede que as pessoas continuem a beber nas
ruas durante a madrugada. "O problema começou com a rua rosa [Rua Nova do
Carvalho], mas actualmente já se estende a toda a Praça de São Paulo, local
onde todas as semanas abrem novos bares, muitas vezes disfarçados de coisas
como galerias de arte", conta.
Uns quarteirões ao
lado, no Largo de Santos, o cenário mantém-se. Miguel Veloso mudou- -se em
Junho e bastaram quatro meses para perceber que teria de lidar diariamente com
ruído nocturno vindo da rua. "Depois de finalizadas as obras no Largo de
Santos durante o Verão, as pessoas saíram dos bares e voltaram a juntar-se nas
ruas", relata. Para o morador, esta "medida é paliativa, não vai
resolver o grande problema, que se prende com os ajuntamentos de pessoas na
rua". Para isso os dois moradores sugerem uma lista de medidas,
apresentadas já várias vezes às autoridades. Isabel Sá da Bandeira aponta os
exemplos de Espanha e França, onde é proibido beber álcool nas ruas. "Só
em Lisboa é que se considera que isso vai restringir liberdades", refere.
Para Miguel
Veloso, a solução passa por limitar o ajuntamento de pessoas durante a
madrugada, ajustar o licenciamento dos bares e limitar o uso abusivo de
esplanadas. "Ninguém quer acabar com a vida nocturna", ressalva o
morador, lembrando, no entanto, que a movida tem de se ajustar à vida dos
moradores.
Para o líder da
concelhia de Lisboa do PSD, a solução passa por alterar as zonas de diversão
nocturna para locais menos habitados, dando como exemplo o Jardim do Tabaco. "Lisboa
tem de ser para quem vive nela, mas também para quem se quer divertir
nela", defende Mauro Xavier.
BAIRRO ALTO
Há seis anos que os horários de fecho dos
bares do Bairro Alto mudaram, antecipando o horário de encerramento das 4h para
as 2h. Apesar de a medida ter ido de encontro às queixas dos moradores, as
mudanças foram pouco visíveis, segundo o presidente da Associação de Moradores
do Bairro Alto. Luís Paisana garante que a alteração da hora fez que o ruído
acabasse "relativamente mais cedo", mas desde essa altura "o
número de bairros cresceu para o triplo". O presidente da associação
garante que não é conhecido o número de estabelecimentos em funcionamento no
Bairro Alto, porque "tendo em conta as aberturas que acontecem todas as
semanas, esse seria um levantamento inglório".
Os movimentos de
moradores do Bairro Alto, Santos e Cais do Sodré lançaram uma petição que
esperam entregar ainda esta semana na assembleia municipal, depois de
recolhidas as 250 assinaturas necessárias. No documento, os moradores pedem a
"instituição de normas e procedimentos que permitam obviar ao consumo e
venda de bebidas alcoólicas na via pública, fora de esplanadas e outros
recintos autorizados", assim como "a fixação de regras e
procedimentos com vista ao cumprimento da lei do ruído e respectiva
fiscalização"
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