segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dois pensamentos. O mesmo resultado. Por Luís Rosa


Dois pensamentos. O mesmo resultado
Por Luís Rosa
publicado em 20 Out 2014 in (jornal) i online

Entre a incapacidade de Passos para cortar na despesa e a recusa ideológica do PS em fazê-lo o resultado será sempre o mesmo: mais aumentos de impostos.
Vivemos um tempo de final do ciclo político liderado por Passos Coelho e o início de outro liderado por António Costa. Percepciona-se o esgotamento do actual governo ao mesmo tempo que as apostas em António Costa para primeiro-ministro têm, apesar do vazio que ainda rodeia as propostas do PS, um menor risco implícito.

Comecemos pelo governo. Depois de mais uma novela melodramática no Conselho de Ministros para aprovar o Orçamento do Estado para 2015, ficamos a saber que a sobretaxa, aquela medida que foi apresentada como extraordinária, se mantém. É a metáfora da incapacidade do governo para cortar na despesa de forma estrutural já que a redução do défice orçamental desde que o governo Passos Coelho tomou posse fez-se essencialmente através da redução do investimento público e do enorme aumento de impostos de Vítor Gaspar. Com ou sem responsabilidade do Tribunal Constitucional, esse é um facto irrefutável.

A carga fiscal nunca foi tão elevada como hoje. Vale mais de 37% do PIB e não tem parado de subir pela simples razão que o Estado necessita de fundos para financiar a ainda mais elevada despesa pública que consegue “comer” 47% da riqueza gerada pela Economia portuguesa. Se analisarmos a evolução da despesa nos últimos 20 anos, concluímos facilmente que a mesma não pára de subir. Daí a necessidade de mais impostos. Éum ciclo vicioso que não tem forma de acabar.

E aqui chegamos à alternativa protagonizada por António Costa. O futuro líder do PS continua a nada dizer sobre o que vai fazer como primeiro--ministro, esperando pacientemente que o poder acabe por lhe cair no colo. Não é por acaso que a frase mais sintomática do novo consulado de Costa, até agora, acabe por ser de Ferro Rodrigues. O líder parlamentar do PSnão quer ouvir falar em redução de impostos porque estes são essenciais para defender “o progresso do Serviço Nacional de Saúde, da escola pública e da capacidade da protecção social”. Ao fim e ao cabo, Ferro disse o mesmo que o seu camarada João Galamba defendeu no início do ano: “entre cortes nas despesas e aumento de impostos, prefiro sempre aumento de impostos. Os cortes na despesa pública afectam milhões de pessoas, já que são rendimentos de pensionistas ou de funcionários públicos e prestações sociais”. A opção de asfixiar ainda mais as empresas e as famílias com mais impostos e taxas parece ser a opção consciente do PS.


O principal problema desta opção dos socialistas é simples: enquanto não existirem cortes estruturais na despesa pública (e entenda-se por estrutural qualquer corte na massa salarial do Estado ou nas prestações sociais), o valor dos gastos do Estado não vai parar de subir. O envelhecimento galopante da população portuguesa fará com que o Estado pague cada vez mais despesas sociais enquanto que a reduzidíssima taxa de natalidade fará com que cada vez menos trabalhadores no activo financiem essas despesas com os seus impostos. Dizem os socialistas que o problema se resolve com crescimento económico – como se esse fosse apenas um problema exclusivo de Portugal e não de toda a Europa. Sem propostas concretas, esse é apenas um wishful tinking. Bonito, apelativo mas oco.

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