Reino Unido. Trabalhistas temem
fuga de deputados para o UKIP
Por Francisco
Castelo Branco
publicado em 29
Out 2014 / (Jornal) i online
A força que o
UKIP está a ganhar neste momento não é suficiente para conseguir chegar ao
governo após a próximas legislativas
A recente
deserção de deputados do Partido Trabalhista e dos Conservadores para o United
Kingdom Independence Party (UKIP) ainda não terminou. Após as saídas de Douglas
Carswell e Mark Reckless dos respectivos partidos para a formação liderada por
Nigel Farage, a imprensa britânica tem noticiado mais movimentações de troca da
cor política. O professor de Ciência Política da Universidade do Exeter,
Richard Toye, entende que "o deputado do Partido Trabalhista Austin
Mitchell é aquele que tem mais hipóteses de desertar para o UKIP". No
entanto, o parlamentar de Great Grimsby afirmou ao i que "essa situação
nunca vai acontecer".
A debandada de
membros para o partido da moda no Reino Unido está relacionado com as recentes
posições anti-europeias do primeiro-ministro britânico. Richard Toye confirma
que "o problema tem a ver com as opções de David Cameron sobre a União
Europeia e a imigração". Os dois temas foram as principais razões pelas
quais Mark Reckless saiu do Partido Conservador, tendo acusado a actual
liderança de fazer o país andar para trás. Apesar das questões europeias
estarem na origem de algumas das decisões tomadas por alguns deputados, o
director de Estudos Políticos e Relações Internacionais da Universidade de
Hull, Matt Beech, pensa que "há questões ideológicas que estão por detrás
das decisões, porque David Cameron tem políticas de cariz liberal que não estão
de acordo com os princípios do partido".
O diário
britânico "The Telegraph" revelou que o deputado conservador Gordon
Henderson também pensou mudar para o partido que muitos consideram ser de
extrema-direita. O parlamentar pelo círculo de Sittingbourne e Sheppey afirmou
ao periódico que foi incentivado por um membro importante do UKIP para fazer o
mesmo que Douglas Carswell. Gordon Henderson admitiu que chegou a analisar a
oferta, mas acabou por não aderir ao UKIP pelo facto de não se sentir
confortável num partido que tem políticas contraditórias. Os órgãos de
comunicação social britânicos revelam que há mais cinco deputados dos
conservadores sob pressão para mudar de cor partidária, além do antigo
vice-presidente da Câmara de Londres Richard Barnes, que também saiu dos
conservadores nas últimas semanas.
NÃO PAGAMOS
Um dos problemas
que colocam o governo britânico em rota de colisão com as instituições
europeias deve-se ao facto de David Cameron não querer pagar 2,1 mil milhões de
euros de contribuição extraordinária para o orçamento europeu. A Comissão
Europeia pretende que os países considerados mais prósperos à luz da nova
reforma de cálculo dos Produtos Internos Brutos nacionais efectuem uma
contribuição extra para o orçamento comunitário até ao próximo dia 1 de
Dezembro. O chefe do executivo britânico considera inaceitável o montante e o
calendário do pedido porque todos os anos há ajustes financeiros. A Holanda e a
Finlândia também mostraram desagrado perante as mais recentes pretensões
europeias. David Cameron garante que "esta questão não ajuda à presença do
Reino Unido na União Europeia".
ELEIÇÕES
LEGISLATIVAS
O docente
britânico do Exeter não tem dúvidas que "a votação do UKIP vai crescer nas
próximas eleições gerais". Ao invés, Matt Beech não acredita que o partido
de Nigel Farage ganhe força nos próximos tempos, "a não ser que consigam
acolher mais deputados dos conservadores e trabalhistas". Embora mantenha
dúvidas sobre a força e capacidade do UKIP em mobilizar os eleitores britânicos
nos próximos meses, o professor de Hull entende que "podemos ter quatro
partidos na próxima composição da Câmara dos Comuns após as eleições
legislativas".
As últimas
sondagens divulgadas pelos media confirmam a visão de Richard Toye. Num estudo
de opinião realizado pelo Opinium/Observer, o Partido Trabalhista tem 35% e os
Conservadores 28%. Em terceiro lugar surge a força de Nigel Farage com 17%,
estando os Liberais-Democratas na quarta posição só com 9%. Na opinião de
Richard Toye, "os dois maiores partidos vão enfrentar crises de
legitimidade caso não cheguem aos 40%". Por seu lado, Matt Beech entende
que "os resultados mostram que os Conservadores e os Trabalhistas estão
preocupados com a situação política". O mais interessante nesta pesquisa é
verificar que Ed Miliband e David Cameron apresentam números negativos no que
diz respeito à popularidade. O líder da oposição tem -26% e o actual chefe do
governo regista -6%.
Caso o actual
cenário político se mantenha, o UKIP pode ocupar um papel no futuro executivo
britânico que, neste momento, é interpretado pelos Liberais-Democratas de Nick
Clegg. O nome do futuro parceiro de coligação dos Conservadores ou dos
Trabalhistas também divide os especialistas em Ciência Política que foram
ouvidos pelo i.
O professor da
Universidade do Exeter, Richard Toye, entende que "provavelmente serão os
Liberais-Democratas que vão fazer parte de um novo executivo britânico". Por
outro lado, o docente da Universidade de Hull, Matt Beech, garante que "o
Partido Trabalhista nunca vai formar governo com o UKIP". No entanto, Beech
acrescenta que "os Conservadores poderão abrir uma porta a Nigel Farage,
mas nunca sob a liderança de David Cameron". Matt Beech entende que o
primeiro-ministro sofreu muito com os responsáveis do UKIP.
Na sua habitual
coluna de opinião, o editor de política da BBC Nick Robinson alinha pelo mesmo
discurso dos professores de Ciência Política ao qualificar a política nacional
como um concurso entre os quatro maiores partidos, mais os Verdes e o Partido
Nacional Escocês (SNP). O analista da televisão pública britânica acha que a
ascensão do UKIP não se deve ao facto da maioria das pessoas pretenderem criar
um partido alternativo que governe o país nas próximas legislaturas.
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