EDITORIAL
Nas malhas da guerra civil
ucraniana
DIRECÇÃO
EDITORIAL / PÚBLICO / 03/05/2014 -
Na Ucrânia, o extremar de posições já fez os seus mortos. A secessão assume
proporções de guerra civil.
No dia seguinte à
“ressurreição” do nacionalismo russo de vestes soviéticas na Praça Vermelha, a
pretexto do 1.º de Maio, o clima de forte tensão na Ucrânia tomou forma de uma
guerra civil já em curso. O empréstimo assegurado ao país pelo FMI e as
eleições marcadas para 25 (dia em que a Europa elegerá os seus deputados ao
Parlamento Europeu) de pouco ou nada valem contra o extremismo reinante. Tal
como de nada valeu o acordo assinado em meados de Abril, em Genebra, por
representantes da Ucrânia, Estados Unidos, União Europeia e Rússia, acordo esse
que, aplicado, podia levar a um desanuviamento e ao reinício do equilíbrio de
forças em território ucraniano. Porque os rebeldes pró-russos mantêm, com cada
vez maior firmeza, as ocupações dos edifícios oficiais de que se apossaram em
mais de uma dezena de cidades ucranianas; e porque o exército fiel a Kiev, ao
tentar desalojá-los, como ontem sucedeu, torna essa resistência ainda mais
radicalizada e feroz. Os rebeldes têm armamento que chegue para resistirem, têm
a convicção de que a Rússia os apoiará (mesmo que na diplomacia se assegure o
contrário) e o plano de “libertar” o Leste da Ucrânia, tal como foi prometido
nas ruas mal a Crimeia foi absorvida pela Rússia, não é uma quimera (como
julgaram, na altura, os mais crédulos) mas um objectivo bem real. Mesmo que
isto não conduza ao envolvimento de outros exércitos que não o ucraniano (e se
isso suceder, a guerra em perspectiva alastrará perigosamente a outras
fronteiras), todos os dados de uma guerra civil em potência estão lançados: a
Ucrânia não está unida, os soldados já não recuam perante a exibição de ícones
religiosos (e há mulheres, desesperadas, a erguê-los para iludir o iminente
morticínio) e a Rússia, ali ao lado, exulta o seu poder. Isto enquanto a Europa
vê, impotente e incrédula, esta temível chaga abrir-se aos seus pés, reavivando
fantasmas que muitos criam definitivamente enterrados.
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