“Irregularidades” na Espírito
Santo Internacional podem afectar reputação e cotação do BES
Espírito Santo International apresenta "situação financeira
grave"
PÚBLICO e LUSA
21/05/2014 -
Antigos membros da administração da ESI são também administradores da
Espírito Santo Financial Group (ESFG) e do BES.
A auditoria
pedida pelo Banco de Portugal à Espírito Santo International, holding do Grupo
Espírito Santo, detectou “irregularidades” nas contas de 2013 que o banco
liderado por Ricardo Salgado admite que possam vir a beliscar quer a sua
reputação, quer a cotação das acções.
No prospecto do
aumento de capital, divulgado na terça-feira à noite, o BES informa que a
auditoria externa realizada às demonstrações financeiras de 2013 da ESI “apurou
irregularidades nas suas contas e concluiu que a sociedade apresenta uma
situação financeira grave".
“Embora o BES não
seja responsável pela situação financeira da ESI, e a ESFG [a holding que
controla directamente o BES] tenha implementado medidas para salvaguardar
eventuais situações de incumprimento por parte da ESI que possam ter impacto no
BES”, a instituição admite que “um agravamento da respectiva situação
financeira bem como as irregularidades detectadas nas suas contas” podem
“afectar a reputação do BES e a cotação das suas acções”, lê-se no documento
enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Isto tendo em
conta que “alguns dos anteriores membros do conselho de administração da ESI
são administradores da ESFG e do BES, e que a ESI detém participação
qualificada, ainda que de forma indirecta, no capital do BES”, refere o
prospecto.
O BES informa
ainda que a comissão de auditoria da Espírito Santo Financial Group (ESFG)
"identificou igualmente irregularidades materialmente relevantes" nas
contas da ESI e refere que a holding tem "em marcha um programa de
reorganização do seu grupo e de desalavancagem" para "reequilibrar a
sua situação financeira" e "proceder ao reembolso do passivo".
Risco de
exposição à dívida da ESI
As dúvidas quanto
à capacidade da ESI de reembolsar o papel comercial colocado junto de clientes
do BES levaram o Banco de Portugal a exigir no final do ano passado ao banco
que realizasse uma provisão extraordinária de 700 milhões de euros nas contas
de 2013, para acautelar este risco de exposição.
Reativamente a
estes instrumentos de dívida da ESI e subsidiárias subscritos por clientes do
BES, o prospecto diz que, "a 19 de Maio de 2014, o valor dos instrumentos
de dívida detidos por investidores não institucionais ascendia a 395 milhões de
euros, enquanto o valor detido por investidores institucionais ascendia a 564
milhões de euros".
O documento
refere ainda a "expectativa do Conselho de Administração do BES” de que “o
reembolso dos referidos instrumentos de dívida venha a ser efectuado através da
implementação do plano de desalavancagem dos activos, do apoio dos seus
accionistas, da respectiva capacidade para a obtenção ou renovação das linhas
de crédito nos mercados financeiros e ainda do eventual apoio que possa vir a
ser necessário por parte do Grupo ESFG e do BES".
O prospecto sobre
o aumento de capital do BES menciona também a situação do BES Angola, em que,
em Dezembro do ano passado, foi realizado um aumento de capital de 500 milhões
de dólares (cerca de 365 milhões de euros). O banco presidido por Ricardo
Salgado refere-se em particular à garantia prestada pelo Estado angolano em
relação a operações realizadas com empresas angolanas.
Essa garantia
soberana, de 5700 milhões de dólares (cerca de 4200 milhões de euros), foi
acordada no final de 2013 e serve para proteger o banco de possíveis atrasos e
incumprimentos por parte das empresas. No entanto, o banco ainda está à espera
da autorização do Banco de Portugal, pelo que ainda não está reflectido o
impacto positivo dessa garantia nos rácios de capital do BES.
O BES publicou
terça-feira à noite o prospecto do aumento de capital de até 1045 milhões de
euros, no âmbito do qual irá emitir até 1607 milhões de novas a acções, ao
preço de 0,65 euros cada.
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