EDITORIAL
O regresso
do eixo franco-alemão
DIRECÇÃO EDITORIAL 23/05/2014 - PÚBLICO
Merkel e Sarkozy
tentam não perder o eleitorado, nem que seja à custa de perder o resto da
Europa.
Foi a 18 de
Outubro de 2010 que se dissiparam as dúvidas. Até então pensava-se (ou pelo
menos fingia-se com algum pudor) que na Europa as decisões eram tomadas de uma
forma democrática, colegial e em que todos os países teriam algo a dizer sobre
as decisões que afectam todos. Nesse dia, Herman Van Rompuy tinha acabado de
anunciar um acordo entre todos os ministros da União para o reforço da gestão
do euro quando, nesse mesmo dia, à margem da famosa cimeira de Deauville,
Merkel e Sarkozy vieram anunciar ao mundo um acordo que não só expunha Van
Rompuy ao ridículo como ainda contrariava o que antes tinha sido decidido pelos
ministros. Estava aberto o precedente.
Esta semana
regressaram e não escondem ao que vêm. A chanceler para dizer que o seu partido
(CDU) e os sociais-democratas (parceiros de coligação) já estariam a negociar
um consenso para a composição do próximo executivo europeu. É uma total
desvalorização do acto eleitoral, já que os europeus ainda nem sequer votaram,
e o Tratado de Lisboa diz que a escolha do presidente da Comissão terá de levar
em conta os resultados das eleições.
Nicolas Sarkozy,
que já percebeu que o UMP irá perder para a Frente Nacional, também está
desesperado em não deixar fugir o eleitorado de direita. Não só veio propor a
"suspensão imediata" dos acordos de Schengen sobre a livre circulação
de pessoas como ainda veio ressuscitar a ideia da institucionalização de um
directório franco-alemão para a governar a União.
Merkel e Sarkozy
estão a jogar todos os trunfos para não perder o eleitorado mais conservador e
mais céptico em relação ao projecto europeu. E o resto da Europa assiste com
estupefacção. E assim se vai construindo, ou melhor, desconstruindo, o projecto
europeu.
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