Capacitar o PS para quê?
António Costa vai ter de explicar
como quer rever o Tratado Orçamental
Por Luís Rosa
publicado em 29 Maio
2014 / in (jornal) i online
Quarenta e oito
horas depois do início do bullying político a António José Seguro, continuamos
concentrados no acessório da marcação do congresso extraordinário sem saber o
essencial: António Costa quer ser primeiro-ministro porquê? O que distingue
António Costa de António José Seguro? Que ideias tão diferentes defende Costa
que assegurem uma alternativa mais credível do que aquela apresentada pelo
actual líder do PS?
Se olharmos para
os apoiantes de António Costa, descobrimos uma verdadeira amálgama de
sensibilidades internas do PS que vão desde a ala esquerda até aos mais fiéis
dos seguidores de José Sócrates e que defendem posições antagónicas sobre
questões essenciais como o Tratado Orçamental, a forma como se deve reduzir a
dívida, o défice público ou reformar o Estado. Será que António Costa concorda
com Pedro Nuno Santos, líder da Federação de Aveiro, quando este defende que
Portugal não consegue cumprir os seus compromissos e deve reestruturar a
dívida? Será que tem a mesma opinião de João Galamba, que “entre cortes nas
despesas e aumento de impostos” prefere “sempre aumento de impostos”,
nomeadamente do IRS, por rejeitar que “os cortes na despesa pública sejam uma
solução para o país”? Ou será que concorda com a outra parte do partido que
considera estas posições negativas para os socialistas? Ainda não sabemos,
porque o edil lisboeta ainda terá de garantir o apoio estatutariamente
necessário para disputar o cargo de líder do PS a António José Seguro.
A única grande
diferença, que se saiba, entre Costa e Seguro prende-se com o Tratado
Orçamental, que foi aprovado noparlamento com os votos do PSD, do CDS e do PS
de Seguro. Apesar de reconhecer que era inevitável a aprovação na Assembleia da
República, António Costa não deixou de defender, numa entrevista recente ao
“Negócios”, uma revisão do documento que impõe a Portugal uma redução da dívida
para 60% do PIB e do défice para 0,5% do produto. Porquê? Porque é necessária
uma maior solidariedade orçamental entre os países da União Monetária, devido
às desigualdades entre os países do norte e do sul que foram exponenciadas pelo
euro.
Será curioso ver
como António Costa compatibiliza esta argumentação com uma possível candidatura
a primeiro-ministro. A argumentação de que o euro aumentou as desigualdades
dentro da União Europeia e de que é necessário a Europa transferir mais
dinheiro para Portugal implica romper claramente com as posições diplomáticas
que Portugal tem tido, de consonância com a Alemanha de Angela Merkel.
Uma coisa é
certa: nestas, tal como noutras questões, como a reforma do Estado,
AntónioCosta tem de mostrar que tem muito mais do que uma boa imagem na
comunicação social. Vai ter de se diferenciar claramente de António José Seguro
e mostrar aos militantes socialistas que a sua proposta de alternativa é mais
consistente e dá maiores garantias de sucesso. Só assim evitará um regresso
perigoso à câmara de Lisboa.
EDITORIAL
Socialistas de máquina de
calcular na mão
DIRECÇÃO
EDITORIAL PÚBLICO/ 29/05/2014
Se o congresso no PS não se
realizar, nem Seguro nem Costa saem bem na fotografia.
O dia no Partido
Socialista começou com a demissão de Jorge Lacão do secretariado nacional do PS
e, mais ao final do dia, de Susana Amador. São dois dos três secretários
nacionais eleitos pela quota de António Costa. Sendo este um órgão de confiança
política do secretário-geral, é coerente a posição assumida por ambos que
exigem aquilo que António José Seguro ainda não deu sinais de querer fazer, ou
seja, de convocar um congresso extraordinário no qual António Costa possa
disputar a liderança.
Coerente também
foi a posição do líder parlamentar, Alberto Martins, que veio nesta
quarta-feira dizer que há regras constitucionais do partido que devem ser
respeitadas e, logo, quem quiser nesta altura disputar o lugar de Seguro terá
de reunir apoios na comissão nacional ou nas distritais.
Claro está que
António Costa queria atalhar caminho e preferia que fosse o próprio António
José Seguro a convocar o congresso. Mas o líder do PS continua sem dar sinais
de querer passar por cima daquilo que Costa apelida de “questões
metodológicas”.
Já se percebeu que,
muito provavelmente, a discussão ficará adiada para este sábado, para a reunião
da comissão nacional, mas não é garantido que o diferendo fique sanado nessa
altura. Se não se resolver nada no Vimeiro, então será mesmo preciso recorrer
ao apoio das federações distritais. E nesta altura quer Costa, quer Seguro, já
estarão de máquina de calcular na mão a fazer o somatório dos apoios.
Mas ambos ficarão
com um problema entre mãos, se o congresso não se realizar. António José Seguro
será sempre acusado (aliás, já está a ser) de fugir à luta, de se refugiar nos
estatutos e de ganhar na secretaria. E se o congresso não acontecer, porque
António Costa não convenceu a comissão nacional ou as distritais, também é um
sinal de que não tem a maioria do partido do seu lado.
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