LER ARTIGO
ORIGINAL NO FINANCIAL TIMES:
LER TAMBÉM EM
BAIXO, A RESPOSTA DE Thomas Piketty. “Piketty
response to FT data concerns”.
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Financial Times diz que há erros
nos dados do economista Thomas Piketty
JOÃO PEDRO
PEREIRA 23/05/2014 - PÚBLICO
Jornal analisou as folhas de cálculo que o autor de O Capital no Século XXI
disponibilizou online.
O Financial Times
publicou nesta sexta-feira um longo artigo em que explica ter encontrado vários
erros nas fórmulas e nos dados usados pelo economista Thomas Piketty no
aclamado livro O Capital no Século XXI, que analisa a desigualdade de
rendimentos e riqueza nos últimos 200 anos na Europa e nos EUA.
As fontes e as
folhas de cálculo usadas por Piketty foram disponibilizadas pelo próprio na
Internet. O editor de economia do jornal britânico, Chris Giles, debruçou-se
sobre aquele material e diz que Piketty se enganou a copiar alguns números, que
fez ajustes às fórmulas para que os resultados sustentassem a tese do aumento
da desigualdade, que recorreu a dados de anos errados para extrair conclusões e
que apresentou gráficos com dados para períodos em relação aos quais não existe
nenhuma fonte.
“Quando estava a
escrever um artigo sobre a distribuição da riqueza no Reino Unido, notei uma
discrepância séria entre a concentração de riqueza contemporânea descrita em O
Capital no Século XXI e aquela que estava nas estatísticas oficiais do Reino
Unido”, http://blogs.ft.com/money-supply/2014/05/23/data-problems-with-capital-in-the-21st-century/
explicando que
isso o levou a analisar as contas do economista francês. “Descobri que as
estimativas dele de desigualdade na riqueza – a peça central de O Capital no
Século XXI – estão minadas por uma série de problemas e erros. Alguns assuntos
são problemas de fontes e de definições. Alguns números parecem ser
simplesmente tirados do ar”.
Numa resposta
escrita ao jornal, que foi publicada na íntegra, Piketty começa por afirmar que
colocou os ficheiros online porque quer “promover um debate aberto e
transparente” e argumenta que se tivesse algo a esconder não teria
disponibilizado aquela informação.
“Tal como escrevi
claramente no livro, no apêndice online e nos muitos artigos técnicos que
publiquei sobre este tópico, é preciso fazer uma série de ajustamentos às
fontes de dados para as tornar mais homogéneas ao longo do tempo e entre
países”, prossegue Piketty (cujo livro será tema de um trabalho na revista 2
deste domingo). “Tentei no contexto deste livro fazer as decisões e escolhas
mais justificadas sobre as fontes de informação e ajustamentos”. O economista
admite que as fontes de informação históricas existentes sobre riqueza precisam
de ser melhoradas, mas diz que ficaria “muito surpreendido se alguma conclusão
substantiva sobre a evolução de longo prazo das distribuições de riqueza fosse
muito afectada por estes melhoramentos”.
Na resposta,
Piketty remete também para um artigo científico recente de dois investigadores
(um da Universidade de Berkeley e outro da London School of Economics) sobre a
desigualdade de riqueza nos EUA. O autor nota que as conclusões a que este
trabalho chega são semelhantes às que estão no livro.
Os erros a que o
Financial Times se refere dizem respeito aos dados relativos à riqueza, sobre a
qual o autor já tinha admitido haver menos fontes de informação. O livro
analisa também a evolução do rendimento. A principal tese é a de que o retorno
do capital é superior ao crescimento económico e que a riqueza tende a
concentrar-se numa minoria. O livro tornou-se um best-seller, tendo recebido
vários elogios de outros economistas, incluindo do Prémio Nobel Paul Krugman,
embora também tenha sido alvo de várias reparos. O colunista do Financial Times
Martin Wolf, por exemplo, tinha destacado a importância do livro, mas referido
“fraquezas claras” em algumas das ideias do autor. No entanto, esta crítica não
se referia às conclusões estatísticas.
Chris Giles
aponta muitos pontos que considera errados nas folhas de cálculo de Piketty. Numa
delas, os números sobre a concentração de riqueza nos EUA em 1908 não são os
que estão na fonte indicada pelo próprio economista. O jornalista sugere que se
tratou de um simples erro de transcrição, já que o valor é igual ao de outro
ano na tabela original. Num outro caso, o jornalista observou ajustamentos
"arbitrários" e não explicados nas fórmulas. Por exemplo, à fórmula
para calcular a percentagem de riqueza detida pelo 1% de pessoas mais ricas dos
EUA em 1970 foram somados dois pontos percentuais. Ainda numa outra das muitas
falhas descritas, o jornal diz que Piketty usou dados de 1935 da Suécia como se
fossem valores para o início daquela década, procedimento semelhante ao que fez
para outros países e anos.
Piketty response to FT data concerns
Chris Giles
Author alerts | May 23 19:00 | http://blogs.ft.com/money-supply/2014/05/23/piketty-response-to-ft-data-concerns/
Dear Chris,
I am happy to see that FT journalists are
using the excel files that I have put on line! I would very much appreciate if
you could publish this response along with your piece.
Let me first say that the reason why I put
all excel files on line, including all the detailed excel formulas about data
constructions and adjustments, is precisely because I want to promote an open
and transparent debate about these important and sensitive measurement issues
(if there was anything to hide, any “fat finger problem”, why would I put
everything on line?).
Let me also say that I certainly agree that
available data sources on wealth are much less systematic than for income. In
fact, one of the main reasons why I am in favor of wealth taxation and
automatic exchange of bank information is that this would be a way to develop
more financial transparency and more reliable sources of information on wealth
dynamics (even if the tax was charged at very low rates, which you might agree
with).
For the time being, we have to do with what
we have, that is, a very diverse and heterogeneous set of data sources on
wealth: historical inheritance declarations and estate tax statistics, scarce
property and wealth tax data, and household surveys with self-reported data on
wealth (with typically a lot of under-reporting at the top). As I make clear in
the book, in the on-line appendix, and in the many technical papers I have
published on this topic, one needs to make a number of adjustments to the raw
data sources so as to make them more homogenous over time and across countries.
I have tried in the context of this book to make the most justified choices and
arbitrages about data sources and adjustments. I have no doubt that my
historical data series can be improved and will be improved in the future (this
is why I put everything on line). In fact, the “World Top Incomes Database”
(WTID) is set to become a “World Wealth and Income Database” in the coming
years, and we will put on-line updated estimates covering more countries. But I
would be very surprised if any of the substantive conclusion about the long run
evolution of wealth distributions was much affected by these improvements.
For instance, my US
series have already been extended and improved by an important new research
paper by Emmanuel Saez (Berkeley )
and Gabriel Zucman (LSE). This work was done after my book was written, so
unfortunately I could not use it for my book. Saez and Zucman use much more
systematic data than I used in my book, especially for the recent period. Also
their series are constructed using a completely different data source and
methodology (namely, the capitalisation method using capital income flows and
income statements by asset class). The main results are available here:
http://gabriel-zucman.eu/files/SaezZucman2014Slides.pdf.
As you can see by yourself, their results
confirm and reinforce my own findings: the rise in top wealth shares in the US in recent
decades has been even larger than what I show in my book.
In the attached graph, I compare their
series with the approximate series that I provide in the book. As you can see
by yourself, the general historical profiles are very similar. This is exactly
what I expect as we collect more data in other countries as well: we will
certainly improve upon my series and adjustments (some of which can certainly
be discussed), but I don’t think this will have much of an impact on the
general findings.
(see also this paper pp. 91-92 of pdf:
http://gabriel-zucman.eu/files/PikettyZucman2014HID.pdf)
Finally, let me say that my estimates on
wealth concentration do not fully take into account offshore wealth, and are
likely to err on the low side. I am certainly not trying to make the picture
look darker than it it. As I make clear in chapter 12 of my book (see in
particular table 12.1-12.2), top wealth holders have apparently been rising a
lot faster average wealth in recent decades, at least according to the wealth
rankings published in magazines such as Forbes. This is true not only in the US , but also in Britain and at the global level
(see attached table). This is not well taken into account by wealth surveys and
official statistics, including the recent statistics that were published for Britain . Of
course, as I make clear in my book, wealth rankings published by magazines are
far from being a perfectly reliable data source. But for the time being, this
is what we have, and what we have suggests that the concentration of wealth at
the top is rising pretty much everywhere. Of course, if the FT produces
statistics and wealth rankings showing the opposite, I would be very interested
to see these statistics, and I would be happy to change my conclusion! Please
keep me posted.
Best, Thomas
_______________
Thomas Piketty
Ecole d’Economie de Paris/Paris School of
Economics
Page personnelle :
http://piketty.pse.ens.fr/
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