sábado, 24 de maio de 2014

Financial Times diz que há erros nos dados do economista Thomas Piketty / Piketty response to FT data concerns.

LER ARTIGO ORIGINAL NO FINANCIAL TIMES:

LER TAMBÉM EM BAIXO, A RESPOSTA DE Thomas Piketty. “Piketty response to FT data concerns”.

Financial Times diz que há erros nos dados do economista Thomas Piketty
JOÃO PEDRO PEREIRA 23/05/2014 - PÚBLICO
Jornal analisou as folhas de cálculo que o autor de O Capital no Século XXI disponibilizou online.

O Financial Times publicou nesta sexta-feira um longo artigo em que explica ter encontrado vários erros nas fórmulas e nos dados usados pelo economista Thomas Piketty no aclamado livro O Capital no Século XXI, que analisa a desigualdade de rendimentos e riqueza nos últimos 200 anos na Europa e nos EUA.

As fontes e as folhas de cálculo usadas por Piketty foram disponibilizadas pelo próprio na Internet. O editor de economia do jornal britânico, Chris Giles, debruçou-se sobre aquele material e diz que Piketty se enganou a copiar alguns números, que fez ajustes às fórmulas para que os resultados sustentassem a tese do aumento da desigualdade, que recorreu a dados de anos errados para extrair conclusões e que apresentou gráficos com dados para períodos em relação aos quais não existe nenhuma fonte.

“Quando estava a escrever um artigo sobre a distribuição da riqueza no Reino Unido, notei uma discrepância séria entre a concentração de riqueza contemporânea descrita em O Capital no Século XXI e aquela que estava nas estatísticas oficiais do Reino Unido”, http://blogs.ft.com/money-supply/2014/05/23/data-problems-with-capital-in-the-21st-century/
explicando que isso o levou a analisar as contas do economista francês. “Descobri que as estimativas dele de desigualdade na riqueza – a peça central de O Capital no Século XXI – estão minadas por uma série de problemas e erros. Alguns assuntos são problemas de fontes e de definições. Alguns números parecem ser simplesmente tirados do ar”.

Numa resposta escrita ao jornal, que foi publicada na íntegra, Piketty começa por afirmar que colocou os ficheiros online porque quer “promover um debate aberto e transparente” e argumenta que se tivesse algo a esconder não teria disponibilizado aquela informação.

“Tal como escrevi claramente no livro, no apêndice online e nos muitos artigos técnicos que publiquei sobre este tópico, é preciso fazer uma série de ajustamentos às fontes de dados para as tornar mais homogéneas ao longo do tempo e entre países”, prossegue Piketty (cujo livro será tema de um trabalho na revista 2 deste domingo). “Tentei no contexto deste livro fazer as decisões e escolhas mais justificadas sobre as fontes de informação e ajustamentos”. O economista admite que as fontes de informação históricas existentes sobre riqueza precisam de ser melhoradas, mas diz que ficaria “muito surpreendido se alguma conclusão substantiva sobre a evolução de longo prazo das distribuições de riqueza fosse muito afectada por estes melhoramentos”.

Na resposta, Piketty remete também para um artigo científico recente de dois investigadores (um da Universidade de Berkeley e outro da London School of Economics) sobre a desigualdade de riqueza nos EUA. O autor nota que as conclusões a que este trabalho chega são semelhantes às que estão no livro.

Os erros a que o Financial Times se refere dizem respeito aos dados relativos à riqueza, sobre a qual o autor já tinha admitido haver menos fontes de informação. O livro analisa também a evolução do rendimento. A principal tese é a de que o retorno do capital é superior ao crescimento económico e que a riqueza tende a concentrar-se numa minoria. O livro tornou-se um best-seller, tendo recebido vários elogios de outros economistas, incluindo do Prémio Nobel Paul Krugman, embora também tenha sido alvo de várias reparos. O colunista do Financial Times Martin Wolf, por exemplo, tinha destacado a importância do livro, mas referido “fraquezas claras” em algumas das ideias do autor. No entanto, esta crítica não se referia às conclusões estatísticas.


Chris Giles aponta muitos pontos que considera errados nas folhas de cálculo de Piketty. Numa delas, os números sobre a concentração de riqueza nos EUA em 1908 não são os que estão na fonte indicada pelo próprio economista. O jornalista sugere que se tratou de um simples erro de transcrição, já que o valor é igual ao de outro ano na tabela original. Num outro caso, o jornalista observou ajustamentos "arbitrários" e não explicados nas fórmulas. Por exemplo, à fórmula para calcular a percentagem de riqueza detida pelo 1% de pessoas mais ricas dos EUA em 1970 foram somados dois pontos percentuais. Ainda numa outra das muitas falhas descritas, o jornal diz que Piketty usou dados de 1935 da Suécia como se fossem valores para o início daquela década, procedimento semelhante ao que fez para outros países e anos.

Piketty response to FT data concerns
Chris Giles      Author alerts | May 23 19:00 | http://blogs.ft.com/money-supply/2014/05/23/piketty-response-to-ft-data-concerns/

Dear Chris,

I am happy to see that FT journalists are using the excel files that I have put on line! I would very much appreciate if you could publish this response along with your piece.

Let me first say that the reason why I put all excel files on line, including all the detailed excel formulas about data constructions and adjustments, is precisely because I want to promote an open and transparent debate about these important and sensitive measurement issues (if there was anything to hide, any “fat finger problem”, why would I put everything on line?).

Let me also say that I certainly agree that available data sources on wealth are much less systematic than for income. In fact, one of the main reasons why I am in favor of wealth taxation and automatic exchange of bank information is that this would be a way to develop more financial transparency and more reliable sources of information on wealth dynamics (even if the tax was charged at very low rates, which you might agree with).

For the time being, we have to do with what we have, that is, a very diverse and heterogeneous set of data sources on wealth: historical inheritance declarations and estate tax statistics, scarce property and wealth tax data, and household surveys with self-reported data on wealth (with typically a lot of under-reporting at the top). As I make clear in the book, in the on-line appendix, and in the many technical papers I have published on this topic, one needs to make a number of adjustments to the raw data sources so as to make them more homogenous over time and across countries. I have tried in the context of this book to make the most justified choices and arbitrages about data sources and adjustments. I have no doubt that my historical data series can be improved and will be improved in the future (this is why I put everything on line). In fact, the “World Top Incomes Database” (WTID) is set to become a “World Wealth and Income Database” in the coming years, and we will put on-line updated estimates covering more countries. But I would be very surprised if any of the substantive conclusion about the long run evolution of wealth distributions was much affected by these improvements.

For instance, my US series have already been extended and improved by an important new research paper by Emmanuel Saez (Berkeley) and Gabriel Zucman (LSE). This work was done after my book was written, so unfortunately I could not use it for my book. Saez and Zucman use much more systematic data than I used in my book, especially for the recent period. Also their series are constructed using a completely different data source and methodology (namely, the capitalisation method using capital income flows and income statements by asset class). The main results are available here: http://gabriel-zucman.eu/files/SaezZucman2014Slides.pdf.

As you can see by yourself, their results confirm and reinforce my own findings: the rise in top wealth shares in the US in recent decades has been even larger than what I show in my book.

In the attached graph, I compare their series with the approximate series that I provide in the book. As you can see by yourself, the general historical profiles are very similar. This is exactly what I expect as we collect more data in other countries as well: we will certainly improve upon my series and adjustments (some of which can certainly be discussed), but I don’t think this will have much of an impact on the general findings.

(see also this paper pp. 91-92 of pdf: http://gabriel-zucman.eu/files/PikettyZucman2014HID.pdf)

Finally, let me say that my estimates on wealth concentration do not fully take into account offshore wealth, and are likely to err on the low side. I am certainly not trying to make the picture look darker than it it. As I make clear in chapter 12 of my book (see in particular table 12.1-12.2), top wealth holders have apparently been rising a lot faster average wealth in recent decades, at least according to the wealth rankings published in magazines such as Forbes. This is true not only in the US, but also in Britain and at the global level (see attached table). This is not well taken into account by wealth surveys and official statistics, including the recent statistics that were published for Britain. Of course, as I make clear in my book, wealth rankings published by magazines are far from being a perfectly reliable data source. But for the time being, this is what we have, and what we have suggests that the concentration of wealth at the top is rising pretty much everywhere. Of course, if the FT produces statistics and wealth rankings showing the opposite, I would be very interested to see these statistics, and I would be happy to change my conclusion! Please keep me posted.

Best, Thomas

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Thomas Piketty
Ecole d’Economie de Paris/Paris School of Economics
Page personnelle : http://piketty.pse.ens.fr/

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