Na Europa assustada, Le Pen e
Farage somam votos
Ana Fonseca
Pereira / 19-5-2014 / PÚBLICO
Ambos rejeitam a
etiqueta do racismo, mas de um e outro lado do Canal da Mancha, Marine Le Pen e
Nigel Farage exploram sem grande vergonha a inquietação que a imigração gera na
Europa em crise. A uma semana das europeias, as sondagens mostram que a
estratégia – por muito polémica ou criticada que seja – está a render frutos e
tanto a Frente Nacional (FN) como os eurocépticos do UKIP deverão sair
vencedores das eleições em França e no Reino Unido.
As sondagens em
França não se alteraram muito desde o início da campanha e, como escreveu na
semana passada o jornal Le Point, “a questão já não é saber se a FN vai ganhar,
mas que vantagem terá para o partido que ficar em segundo lugar”.
Os últimos
estudos atribuem ao partido de Le Pen entre 24 a 25% dos votos, mostrando
a União para o Movimento Popular (UMP, direita) de Jean-François Copé em
ligeiro recuo, para os 21%. Penalizado pela impopularidade do Presidente
François Hollande e pelos fracassos do seu Governo, os socialistas franceses
não deverão conseguir mais do que 17
a 18% dos votos.
Mas se os números
não espantam face ao que tem sido o registo recente do partido de
extrema-direita (a FN conquistou 12 municípios nas eleições de Março) tornam-se
mais difíceis de explicar quando confrontados com outros indicadores.
Uma sondagem
divulgada na semana passada pelo jornal Le Parisien indica que 79% dos
franceses se opõem à saída do euro, o cavalo de batalha de Le Pen desde 2012, e
81% dizem mesmo que se trata de uma proposta sem credibilidade. O mesmo estudo
indicava que, apesar do sucesso do seu partido, dois em cada três franceses
continua a ter uma opinião negativa de Marine Le Pen e três em cada quatro não
confiariam nela para governar o país – 77% classificam as suas posições
polícias como sendo de extrema-direita e 60% vêem-na como racista – dois
rótulos que sempre negou.
Uma possível explicação
para este paradoxo poderá estar numa outra sondagem, divulgada no domingo, pelo
Journal du Dimanche, segundo a qual metade (49%) dos franceses estão
descontentes com a União Europeia – um veredicto que é ouro sobre azul para Le
Pen, que desde o início da campanha, tem multiplicado frases como “a Europa é
um comboio prestes a explodir” ou “a Europa económica é um absurdo que não
funciona”.
Do mesmo lado da
barricada – mas não lado a lado, como mostra uma recente troca de acusações –
está Nigel Farage, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP)
que, tudo indica, poderá ter no dia 25 um resultado histórico. Uma sondagem do
instituto ComRes para o jornal Independent on Sunday atribuiu ao partido
antieuropeu 35% das intenções de voto nas europeias, com 11 pontos de vantagem
face aos trabalhistas. Os conservadores do primeiro-ministro David Cameron
somam 20% das intenções de voto, e os liberais-democratas, seus parceiros na
coligação, são remetidos para o quinto lugar (6%), atrás dos Verdes.
Uma nova subida
nas intenções de voto totalmente imune às últimas declarações de Farage que,
numa entrevista de rádio, reafirmou que ficaria preocupado se uma família
romena se mudasse para a casa ao lado da sua. Disse também que se sentia
“desconfortável” com a quantidade de línguas estrangeiras que se ouvem nos
transportes públicos britânicos e insistiu que muitos dos imigrantes que chegam
ao país fogem “de uma vida de crime e miséria”. Os comentários foram repudiados
por Cameron e pelo líder dos trabalhistas, Ed Miliband, mas tanto um como o
outro recusaram-se a apelidar Farage de racista – uma denúncia que, sabem,
poderá fazer ricochete.
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