REPORTAGEM
Time Out Lisboa inaugura espaço
gastronómico no Mercado da Ribeira
SARA RUAS 17/05/2014
- PÚBLICO
Conceito único no mundo promete agregar o melhor da capital num único tecto
e tornar-se local de passagem obrigatório para lisboetas e estrangeiros.
A um dia da
inauguração, no novo espaço do Mercado da Ribeira só se ouve marteladas,
conversas rápidas gritadas e muita azáfama. Tudo para preparar a festa de
inauguração neste sábado à noite. Ao fundo, os quiosques dos chefes, à direita
e à esquerda vamos olhando e vendo títulos já conhecidos ou novas apostas
prometedoras. A meio, mais para trás, estão o que parecem caixas de fruta – e
junto dessas uma dezena ou duas de jovens formandos, uma pequena parte dos 300
postos de trabalho directos que os criadores afirmam que serão criados através
deste novo espaço.
Aqui e ali vão-se
limpando os quiosques e o chão e montando as mesas para nada faltar – se bem
que o espaço só abra ao público no domingo às 12h. Neste sábado vai haver uma
pequena festa para os fornecedores e patrocinadores para que possam descontrair
após oito meses de construção e muita confusão. Abre agora e a tempo de receber
as grandes festas em Lisboa – Final da Liga dos Campeões, Rock in Rio e os
Santos Populares.
“O nosso conceito
é criar uma revista a três dimensões, ou seja, fazer deste enorme e fantástico
edifício um sítio onde o visitante tenha o mesmo tipo de experiência que o
leitor tem ao folhear a nossa revista”, diz João Cepeda, director da Time Out
Lisboa. “Para fazer isso criámos vários espaços que têm capacidade de albergar
os vários negócios que normalmente acompanhamos e avaliamos – temos uma parte
ligada à gastronomia, vamos ter uma sala de espectáculos, vamos ter um bar,
vamos ter uma loja grande e em todos estes espaços pretendemos receber o melhor
da cidade.” O responsável garante que
irá haver barreiras definidas entre as suas decisões editoriais e a sua
exploração do espaço.
Para além do
espaço gastronómico no rés-do-chão do mercado, haverá também um espaço no
primeiro piso, a abrir ainda este ano, em Setembro. Este será mais dedicado a
actividades culturais, contendo uma sala de espectáculos capaz de sentar 300
pessoas e manter 600 de pé, uma loja grande, bar e restaurante. Enquanto este
espaço não abre, a Time Out pretende organizar pequenos eventos culturais com
artistas plásticos e músicos para animar as noites de Verão.
A parte
tradicional do Mercado da Ribeira vai continuar com o horário normal, enquanto
o espaço da Time Out vai abrir às 10h e fechar à meia-noite, excepto às
quintas, sextas e sábados, em que se estenderá até às duas da manhã.
As empresas
representadas foram ou propostas pela Time Out ou entraram através de um
concurso feito pela revista, e prometem uma selecção variada de vários produtos
e até “maneiras de comer”. O espaço conta ainda com 500 lugares sentados em
área coberta e 250 de esplanada e haverá também em breve um posto de informação
turística da Time Out Lisboa.
“Positiva” é a
esperança de João Tunes, 57 anos, empresário do “Cacau da Ribeira”, que há anos
está instalado na parte antiga do Mercado da Ribeira. Mas tem receios que o
novo espaço não se consiga manter financeiramente estável. Sublinha a taxa da
restauração a 23%: "Nnão se admite. Ainda se fosse a 6% ou 8%, era
possível, mas a 23% vão ter margens mínimas, se se conseguirem aguentar. À
gente aqui mal sobra para os salários”. Aponta também o preço da matéria-prima,
e permanece céptico sobre se será possível aos quiosques no espaço manterem-se
mais do que dois ou três anos antes de serem eventualmente substituídos por
outros. Mas independentemente disso, acha que o espaço vai ser bom para todos
na zona.
Anabela Soares,
49 anos, vai arrumando e empilhando caixas enquanto diz que também considera
que o espaço vai ser bom. “Espero que tenham muita sorte e que ajudem a nossa
área também”. Mas apontou que os mercadores têm andado a receber mais multas
nas viaturas ultimamente. “É só vir cá dentro cinco minutos e já temos uma
multazinha”, e que tem faltado espaço para estacionar, bem como carregar e
descarregar mercadorias na área.
Tal poderá ser
devido às obras do parque de estacionamento ali em frente, que por algum tempo
também empatou a construção do novo espaço. Devido à descoberta de vestígios
arqueológicos, foi impossível progredir com a construção do parque, e a Time
Out só avançou com as obras no seu novo espaço quando foi confirmado que o
parque de estacionamento ia acabar antes de este ser inaugurado.
O vereador da
Câmara de Lisboa José Sá Fernandes, que tem a seu cargo os mercados que não
transitaram para as juntas de freguesia, afirma que a cidade tem grandes
expectativas para este “mercado top”.
“Esperamos que
este se torne um novo marco em Lisboa e temos boas expectativas para a área”,
afirmou ao PÚBLICO. Reforça que a câmara, ao contrário de outras situações
semelhantes no panorama internacional, em particular Madrid, não expulsou os
vendedores locais do Mercado da Ribeira, que já lá estavam e tinham direito ao
espaço.
Menciona também o
Mercado de Campo de Ourique, que tem uma exploração parecida, e refere ainda o
Mercado do Forno do Tijolo e o seu FabLab, um espaço diferente dedicado à
tecnologia e propriedade intelectual que esperam que se afirme como um
“laboratório de ideias” estimulante do empreendedorismo local, estando as obras
a terminar.
Texto editado por Ana Fernandes
Sem comentários:
Enviar um comentário