“A Carris e o metro não são de
Lisboa”, lembra o presidente da Autoridade de Transportes
INÊS BOAVENTURA
20/05/2014 - PÚBLICO
No arranque do debate sobre transportes promovido pela Assembleia Municipal
de Lisboa, as críticas ao serviço prestado por estas empresas foram
praticamente consensuais.
O presidente do
conselho executivo da Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa (AMTL)
lembrou esta terça-feira que “a Carris e o metro não são de Lisboa, são da
região”, sublinhando que “é preciso ter isso em conta” quando se discute a
possibilidade de o município liderado por António Costa assumir a gestão destas
empresas. Germano Martins afirmou ainda que, a concretizar-se essa hipótese,
ela teria de ser encarada como “uma medida transitória”.
Isto porque,
explicou o presidente da AMTL, a legislação comunitária impõe, a partir de 2019, a obrigatoriedade da
contratualização do serviço público de transporte. Segundo Germano Martins,
nessa altura passará a ter de haver processos concursais, “dirigidos por uma
autoridade regional e não pelo Governo”, para a escolha da entidade com quem
serão celebrados os contratos. E essa autoridade, acrescentou, “existe, e é a
Autoridade Metropolitana de Transportes”.
Assim sendo,
resumiu este orador do debate temático sobre transportes promovido pela
Assembleia Municipal de Lisboa, a eventual entrega da gestão da Carris e do
Metropolitano de Lisboa a esta autarquia poderá até ocorrer, mas apenas como
“uma medida transitória, possível por alguns anos, mas não de forma
definitiva”.
Germano Martins
disse ainda, quando questionado por um deputado municipal do PS sobre como
encarava essa hipótese, que a entendia como “muito mais apropriado” que a
escolha que agora está em causa, entre a Câmara de Lisboa ou um privado, fosse
feita “na sequência de um procedimento concursal”, “a quem tenha demonstrado
ter melhores condições para exercer” a gestão das empresas.
O presidente do
conselho executivo da AMTL aproveitou ainda para lembrar o caso dos Transportes
Colectivos do Barreiro, o único serviço público de transportes da Área
Metropolitana de Lisboa que é gerido por um município. Segundo este
responsável, fazendo uma comparação entre os “indicadores de performance” desse
operador e da Carris, o primeiro sai a perder.
Já o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes considerou, depois de acusar o
Governo de não saber que modelo de concessão da Carris e do Metropolitano de
Lisboa quer concretizar, que poderá haver vantagens em atribuir essa concessão
à autarquia presidida por António Costa. Não só, defendeu Sérgio Monte, “para
os trabalhadores”, pela “manutenção do emprego”, mas também “para os utentes”.
O dirigente
sindical defendeu que os utilizadores dos transportes sairão, “de caras”, a
ganhar caso essa possibilidade se concretize, já que a Câmara de Lisboa “está
perto” deles como nenhum privado alguma vez estará. Os transportes públicos
são, resumiu Sérgio Monte, uma área em que “a decisão deve ser tomada por quem
estiver mais próximo do destinatário”.
Já o presidente
da Associação de Defesa do Consumidor (DECO) recusou-se a tomar partido pela
Câmara de Lisboa ou pelos privados, afirmando que aquilo que interessa a este
associação é que seja garantido o serviço público de transportes. “Os
argumentos até agora apresentados pelo Governo para a entrega a privados não
nos convencem”, admitiu ainda assim Vasco Colaço.
Nesta que foi a
primeira de quatro sessões do debate temático sobre transportes, houve algo que
foi praticamente consensual entre os oradores convidados e as pessoas que se
inscreveram para intervir: uma avaliação negativa do serviço hoje prestado
pelos operadores de transportes que servem a Área Metropolitana de Lisboa. A
Carris e o metro foram os principais visados, mas a CP e a Transtejo/Soflusa
também não foram esquecidos.
O presidente da
DECO lembrou que nos últimos dois anos a Carris e o metro perderam “pelo menos
60 milhões de passageiros” e reduziram a sua oferta “entre 15 a 20%”. Enquanto isso, as
tarifas aumentaram e o grau de cobertura dos custos operacionais pelas receitas
de tarifário também. “São números que falam por si”, resumiu Vasco Colaço,
salientando que “a mobilidade é um direito fundamental, tão importante como a
educação ou a saúde”.
De acordo com o
presidente da AMTL, a esta entidade chegam anualmente cerca de nove mil
reclamações. A escassez de carreiras à noite e aos fins-de-semana e a falta de
regularidade dos autocarros são, adiantou, algumas das principais queixas
relativamente à Carris. Quanto ao metro, os utilizadores criticam aspectos como
a falta de pessoal de apoio nas estações, o reduzido número de carruagens na
Linha Verde, o mau funcionamento das escadas rolantes, a ausência de um passe
próprio e as muitas greves.
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