OPINIÃO
Uma viagem oficial
VASCO PULIDO
VALENTE 18/05/2014 -PÚBLICO
Não se percebe o que o dr. Cavaco e a mulher do dr. Cavaco, com uma
comitiva de cem empresários (de quê?) e uns tantos ministros, foram fazer à
China.
É muito
compreensível que a China apeteça a quem gosta de viajar: há a “cidade
proibida” para ver e uma espetada de baratas para comer. Melhor ainda, numa
“visita oficial” não se espera no aeroporto e um exército de senhores
mesureiros abre as portas em toda a parte e sabe onde são os melhores
restaurantes. O dr. Cavaco andou sempre muito bem-disposto, com os privilégios
que o seu cargo lhe oferece. Mas, para consumo interno, inventou uma teoria
para vender ao Presidente lá da terra e, suponho, para impressionar o indígena
de cá. Nem os jornais, nem a televisão disseram que espécie de efeito tinha
tido este esforço intelectual.
A teoria é de facto
impressionante e com certeza ficará na história com o nome de “o ponto e o
triângulo”. Convém explicar. Segundo o dr. Cavaco, a China deve fazer de
Portugal o seu “ponto de entrada” na Europa e poderemos por isso esperar daqui
a pouco tempo dezenas de milhões de chineses a desembarcar por essa costa com
biliões de coisas para vender à Finlândia ou à Dinamarca, a pretexto de que
Sines fica mais perto dos mercados do que, por exemplo, Dover ou Southampton. E
Cavaco não pára nesse pequenino “ponto”, quer também que Portugal sirva de
intermediário entre Pequim e os PALOPS, que andam ansiosos por arranjar quem
tome conta deles, para os defender da roubalheira geral do Ocidente. Esta parte
“triângulo” da teoria mostra bem a profundidade de espírito do nosso inspirado
Presidente.
Só que o sr. Xi,
apresentado ao ilustre representante dos nossos navegadores, e pretendendo ser
amável, puxou pela cabeça e, depois de muito puxar, saiu com um único nome:
Ronaldo. Não se julgue que um homem tão sério como ele planeava trocar Ronaldo
pela importação imediata de 300.000 pastéis de Belém, com o intuito perverso de
pôr Ronaldo a ensinar futebol a um bilião de chineses e transformar a China em
campeã do Mundo e da Europa. De maneira nenhuma. Na bruma, que certamente é o
resto da terra para um mandarim, o sr. Xi não se lembrou de mais nada sobre
Portugal. Na sua sereníssima cabeça, Portugal é Ronaldo e foi mesmo uma
trabalheira para o convencer que o próprio Cavaco, apesar da sua idade
avançada, não era Ronaldo. De qualquer maneira, esta viagem serviu para afastar
as nuvens que existiam entre os dois grandes países, para nos revelar o fundo
do pensamento do nosso querido presidente e para ele descansar durante a
campanha eleitoral.
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