Frente Nacional conquista França
com sentimento eurocéptico
CLARA BARATA
25/05/2014 - PÚBLICO
O partido de Marine Le Pen teve 26%, e esmagou PS de François Hollande, que
teve apenas 14%.
O Partido
Socialista francês recebeu a segunda bofetada dos eleitores em dois meses, e
desta vez a UMP, o partido que agrupa a sensibilidade de centro-direita, não
foi poupada na punição colectiva feita com a vitória dada pelos eleitores à
Frente Nacional de Marine Le Pen, que obteve 26% e deixou o PS com uns meros
14%, um resultado tão baixo que faz história.
Quem deu este
resultado ao partido eurocéptico de Le Pen, que defende a saída de França da
moeda única e da União Europeia, foram os franceses fartos das exigências de
cortes e austeridade para cumprir o défice e dos sucessivos anúncios falhados
do Presidente François Hollande de que a taxa de desemprego, que ronda os 10%,
iria começar a descer. São eleitores que se deixam tentar por palavras de ordem
como “sim à França, não a Bruxelas”.
Como de costume,
foi entre os jovens e os mais carenciados que a Frente Nacional (FN) teve
melhores resultados: 30% dos votos de Marine Le Pen foram obtidos entre
eleitores com menos de 35 anos. Pelo contrário, é a UMP, o partido de Nicolas
Sarkozy, que teve 20,6%, que atrai mais os eleitores com mais de 60 anos. Estes,
aliás, fugiram de votar no PS. Só 15% lhe deram o seu voto, diz o Le Monde.
A vitória de
Marine Le Pen – que lhe deve permitir ter entre 23 e 25 eurodeputados – não se
deve a um fenómeno localizado, mas a um crescimento eleitoral a nível nacional.
Na região Noroeste, no entanto, o crescimento foi mais espectacular.
O
primeiro-ministro socialista, Manuel Valls, usou as palavras “sismo” e “choque”
para descrever para falar sobre a vitória da FN – expressões que remetem para a
noite eleitoral de 21 de Abril de 2002, que atormenta os socialistas como um
pesadelo: aquela que o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin não conseguiu passar
à segunda volta com Jacques Chirac, ultrapassado pela votação em Jean-Marie Le
Pen, pai de Marine Le Pen.
Jean-Marie Le
Pen, fundador da FN, não perdeu tempo em fazer uma exigência que o partido
anti-imigração faz sempre que tem uma vitória eleitoral: "A Assembleia
Nacional deve ser dissolvida", afirmou, e o primeiro-ministro "deve
demitir-se".
A sua filha, que
hoje lidera o partido, ecoou-o. “Não se pode trair o povo impunemente, se não o
nosso sistema não tem nada de democrático.”
Além disso,
Marine Le Pen sublinhou o quanto os franceses estão fartos da Europa: “Senti o
imenso desejo de liberdade do povo francês", declarou na televisão,
recordando o “não” francês no referendo de 2005 sobre a Constituição europeia.
Os jornais usam
palavras como “tsunami”, “big bang”, ou “sismo” para falarem da vitória de
Marine le Pen. No entanto, ela adivinhava-se, pelas sondagens, pela
insatisfação dos franceses, e pela fraqueza não só dos socialistas do Governo
como da UMP na oposição.
Aliás, a fraqueza
da UMP foi agravada pelo caso Bygmalion, em que o líder do partido,
Jean-François Copé, é suspeito de ter favorecido a empresa de um amigo na
atribuição de contratos pela UMP. Vários barões partido de centro-direita, que
disputam a liderança, numa paz pobre, enviaram mensagens de aviso claro a Copé
Quanto ao
Presidente Hollande, reconheceu que estes resultados "são um aviso
importante, que não deve ser ignorado". Mas o que
fazer, não disse.
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