Snowden quer voltar a casa, mas
não para acabar numa cela
SOFIA LORENA
29/05/2014 - PÚBLICO
Sugerindo que gostaria de beneficiar de uma amnistia, o ex-analista voltou
às denúncias dos programas de espionagem da NSA. Kerry diz-lhe que regresse
para enfrentar "o sistema de justiça americano".
Edward Snowden, o
analista informático na origem das revelações sobre os programas de vigilância
e espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana, quer
voltar a casa, aos Estados Unidos, afirmou numa entrevista ao canal de
televisão norte-americano NBC.
“Se há um lugar
no mundo para onde eu desejaria ir é para casa”, disse Snowden, quase um ano
depois do início da publicação de documentos que revelaram a dimensão das
escutas ilegais realizadas por Washington em todo o mundo. O antigo consultor
da NSA repetiu ter agido “desde o primeiro dia para servir o seu país”. “Resta
às pessoas decidirem se eu posso beneficiar de uma medida de amnistia ou de
clemência.”
Pouco antes da
transmissão da entrevista de uma hora, a primeira dada por Snowden a uma
televisão nos EUA, e na sequência da divulgação dos primeiros excertos, o
secretário de Estado, John Kerry, descrevia o analista como “um fugitivo” que
"provocou grandes danos ao seu país", sugerindo-lhe que “deve
portar-se como um homem e regressar aos EUA”. “Um patriota não fugiria”, disse.
“Se ele acredita na América devia confiar no sistema de justiça americano”,
acrescentou.
O attorney
general (equivalente a ministro da Justiça) Eric Holder já disse que perdoar
Snowden “seria ir demasiado longe”, mas admitiu que os EUA “entrariam num
diálogo” com o analista para encontrar uma solução se ele aceitasse a
responsabilidade pelas fugas de informação.
Snowden foi
acusado de roubo e várias violações da Lei da Espionagem por divulgar detalhes
dos programas de espionagem aos meios de comunicação social – incluindo ao
norte-americano The Washington Post e ao britânico The Guardian, que este ano
ganharam o Prémio Pulitzer pelo tratamento jornalístico dos documentos revelados.
Snowden quer
voltar a casa, mas não para “entrar na cela de uma prisão”. Isso, defende,
“seria um mau exemplo para outras pessoas no governo que vejam alguma coisa a
passar-se, alguma violação da Constituição, e pensem que deveriam dizer qualquer
coisa sobre isso”.
Na entrevista,
Snowden não negou ter cometido ilegalidades. “Há alturas em que o que está
certo e o que é legal não são o mesmo”, justificou. “Às vezes, fazer o que está
certo significa fazer algo ilegal.”
Proteger a
Constituição
Explicando que
nunca planeou acabar na Rússia, país que em Agosto lhe deu o estatuto de
refugiado, Snowden contou que tinha previsto viajar até à América Latina mas
quando a administração norte-americana lhe revogou o passaporte teve de
permanecer no aeroporto de Moscovo. Isto depois de ter abandonado o hotel de
Hong Kong onde se encontrava quando os documentos que obteve começaram a sair
na imprensa.
“Eu nunca me
encontrei com o Presidente russo. Eu não sou apoiado pelo Governo russo. Não
recebo dinheiro deles. Não sou um espião, que é o que está em causa”, afirmou.
Na entrevista
realizada na Rússia, Snowden repetiu 22 vezes a palavra Constituição (as contas
são do Washington Post). “Ser um patriota não significa dar prioridade a servir
o Governo acima de tudo”, disse. “Ser um patriota significa saber quando é
preciso proteger o país e quando é preciso proteger a Constituição contra o
ataque de adversários. E os adversários não têm de ser países estrangeiros.
Podem ser maus polícias.”
O debate nos EUA
As revelações
feitas por Snowden embaraçaram a administração de Barack Obama (principalmente
por provarem que Washington regista conversas privadas de dirigentes
estrangeiros aliados), mas abriram um debate nos EUA sobre o papel da NSA e os
limites que devem enquadrar o poder da agência para conduzir os seus programas
de vigilância.
Obama pediu ao
Congresso para pôr ordem nestes programas, impedir a NSA de armazenar por si
mesma os dados das comunicações e obrigar a agência a pedir aos tribunais para
ter acesso aos registos das empresas de telecomunicações. A Casa Branca já
aprovou esta legislação e, na semana passada, enviou-a ao Senado.
Num registo bem
mais descontraído do que em anteriores aparições públicas, Snowden contou ao
entrevistador Brian Williams que tem pouco com que se entreter na Rússia, já
que nem fala a língua. Disse que passa os dias em casa a ver a série
norte-americana The Wire (que em 2008 Obama nomeou como o seu “programa de
televisão favorito"), apesar de achar “que a segunda temporada não é assim
tão boa”
Edward Snowden: breaking law
was only option, says whistleblower
Snowden tells NBC it was his duty to reveal sprawling NSA surveillance
and going home would be 'walking into a jail cell'
Tom
McCarthy in New York
theguardian.com, Thursday 29 May 2014/ http://www.theguardian.com/world/2014/may/29/edward-snowden-interview-breaking-law-was-only-option-says-whistleblower
One year
after revealing himself as the source of the biggest intelligence leak in US history,
Edward Snowden appeared in a long network television interview on Wednesday to
describe himself as an American patriot and to make the case that his
disclosures were motivated by a desire to help the country.
In his most
extensive public comments to date Snowden sought to answer critics who have
said his actions damaged US
national security or that the threat from the secret government surveillance he
revealed was overblown. Snowden was interviewed by the NBC News anchor Brian
Williams, who travelled to Moscow
for the meeting.
Snowden
defended his decision to leak documents to the press, instead of making his
complaints via internal channels, and explained why he had decided for the
moment not to travel back to the United States to face criminal charges.
“If I could
go anywhere in the world that place would be home,” Snowden told Williams. “I’ve
from day one said that I’m doing this to serve my country … I don’t think
there’s ever been any question that I’d like to go home.”
Snowden
said he had not second-guessed his decision, however, to release an estimated
1.7m top secret government documents. “My priority is not about myself,”
Snowden said. “It’s about making sure that these programs are reformed – and
that the family that I left behind, the country that I left behind – can be
helped by my actions.”
The
interview, which took place at Kempinski Hotel in Moscow last week, followed months of
negotiations between the news network and representatives of Snowden. The
conversation, which was held in a library and lasted more than four hours, was
billed as Snowden's first interview with a US television network.
Snowden has
regularly participated in interviews over the last year, although never on such
a large stage, or on one as likely to bring his words – and his argument – into
American living rooms. NBC Nightly News, which ran clips from the interview,
drew about 8.4m total viewers per night in May.
On
Wednesday Snowden, 30, described for the first time his experience of the 9/11
terror attacks and talked about his views on the threat of terrorism.
“I’ve never
told anybody this,” he said. “No journalist. But I was on Fort
Meade [Maryland ] on September 11th. I was right
outside the NSA. So I remember – I remember the tension of that day. I remember
hearing on the radio the planes hitting. And I remember thinking my
grandfather, who worked for the FBI at the time, was in the Pentagon when the
plane hit it.
“I take the
threat of terrorism seriously. And I think we all do. And I think it’s really
disingenuous for the government to invoke and sort of scandalize our memories,
to sort of exploit the national trauma that we all suffered together and worked
so hard to come through to justify programs that have never been shown to keep
us safe, but cost us liberties and freedoms that we don’t need to give up and
our constitution says we should not give up.”
Snowden
said he did not consider himself blameless. “I think the most important idea is
to remember that there have been times throughout history where what is right
is not the same as what is legal,” he said. “Sometimes to do the right thing,
you have to break a law.”
In a Pew
Research poll of Americans earlier this year 57% of 18 to 29-year-olds said
Snowden’s leaks had served the public interest but respondents 65 and over
disagreed. A majority of respondents in older age groups supported prosecuting
Snowden, while the 18-29 group split 42-42% on the question.
As much as
he wanted to return home, Snowden said, he did not plan “to walk into a jail
cell”. He repeated a view explained elsewhere by his legal counsel that the
charges he faces under the 1917 Espionage Act would not allow him to mount a
defense that he had acted in the public interest.
“These are
things that no individual should empower himself to really decide, you know,
‘I’m gonna give myself a parade,’” Snowden said in reply to a question about
how he judged his actions. “But neither am I going to walk into a jail cell, to
serve as a bad example for other people in government who see something
happening, some violation of the constitution, and think they need to say
something about it.”
In the year
he has lived in Russia as a
fugitive from US
law, Snowden said, he had not met President Vladimir Putin. “I have no
relationship with the Russian government at all,” he said.
NBC News
said it had confirmed “with multiple sources” that before he took the story to
the press Snowden had raised a concern about possibly illegal surveillance on
at least one occasion with intelligence agency superiors. Snowden said he had
advanced his concerns on multiple occasions, even sending emails to the office
of the NSA general counsel, and that the NSA would have a paper trail. The NSA
has denied Snowden took such steps.
Snowden
said he remained comfortable with the decision he made.
"I may
have lost the ability to travel but I've gained the ability to fall asleep at
night and know I've done the right thing and I'm comfortable with that.”
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