sábado, 24 de maio de 2014

Resultados municipais consagram UKIP como quarto partido britânico.Nigel Farage, o líder do partido nacionalista que defende a saída da União Europeia, promete novo terramoto político nas eleições legislativas de 2015.


Resultados municipais consagram UKIP como quarto partido britânico
Nigel Farage, o líder do partido nacionalista que defende a saída da União Europeia, promete novo terramoto político nas eleições legislativas de 2015

“A raposa do UKIP já entrou no galinheiro de Westminster”, festejou Nigel Farage, projectando a sua eleição para o Parlamento britânico no próximo ano
Rita Siza / 24-5-2014 / PÚBLICO

Os resultados alcançados pelos nacionalistas e eurocépticos do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP) nas eleições municipais dão-lhes esperança de conquistar a primeira representação parlamentar de sempre nas legislativas de 2015. E também de “baralhar” a composição das bancadas no Parlamento Europeu e o equilíbrio de poder em Bruxelas — embora seja preciso esperar por domingo para conhecer o resultado da eleição europeia, que também decorreu na quinta-feira.
“A raposa do UKIP já entrou no galinheiro de Westminster”, congratulou-se o líder do partido, Nigel Farage, que há um ano prometeu “criar um terramoto político” na Grã-Bretanha — e cumpriu.
Os ganhos do UKIP a nível nacional foram evidentes: com três quartos dos resultados declarados, os candidatos do partido já tinham “roubado” mais de 100 lugares aos conservadores e trabalhistas nas autarquias. Quase duplicaram as projecções que apontavam para a eleição de “apenas” 80 conselheiros: com 17% do total dos votos, poderiam chegar a mais de 160 eleitos nos municípios.
Tratou-se, resumiu o veterano editor de política da BBC, Nick Robinson, da verdadeira “emergência de uma quarta força política nacional”, que, não sendo ainda uma formação “de poder”, demonstrou ter o poder de causar a confusão nas contas eleitorais do Reino Unido.
O eurocéptico Nigel Farage, que é candidato a um lugar de eurodeputado, apareceu triunfante a comentar os resultados municipais. “Em vastas áreas do país, deixaremos a nossa marca na política local. E em 2015 seremos concorrentes sérios”, prosseguiu, informando que vai “entrar com tudo” na campanha das legislativas. “Saberei escolher o círculo certo para a minha candidatura”, informou Farage, projectando já a sua entrada em Westminster.
No entanto, apesar do progresso eleitoral, o UKIP não conseguiu assegurar o governo de nenhuma municipalidade. Em termos “absolutos”, a haver um vencedor declarado da votação, esse foi o Labour, que arrecadou o maior número de votos
A votação no UKIP prova que a formação é agora a quarta força política a nível nacional (31%), fez eleger o maior número de conselheiros municipais, acrescentando mais de 250 lugares aos que já detinha (para um total de 1600), e assegurou mais governos municipais (68), incluindo Hammersmith e Fulham, dois bastiões tories em Londres, e também Cambridge.
Mas a vitória teve um sabor amargo para o líder dos trabalhistas, Ed Miliband, muito contestado por alguns correligionários por ter conduzido uma “campanha confusa e pouco profissional”. A ala crítica do Labour não perdoa a Miliband a transferência do voto de protesto para o UKIP. Para parlamentares como John Mann ou Ed Balls, o partido perdeu uma oportunidade única de capitalizar o descontentamento com as políticas do Governo e consolidar a posição de alternativa às receitas da coligação conservadora e liberaldemocrata.
Na resposta, o líder garantiu que saberá convencer os eleitores que “exprimiram a sua profunda insatisfação e discordância do rumo que o país está a seguir” e manifestaram nas urnas o seu “desejo de mudança”. “Estou determinado em mostrar às pessoas que agora se voltaram para o UKIP que é o Labour que está em posição de mudar as suas vidas para melhor”, declarou.
Os dois parceiros de coligação foram severamente punidos: os conservadores perderam o controlo de 11 municípios e elegeram menos 187 conselheiros; os liberais-democratas praticamente apagaram a sua expressão municipal, com menos 250 eleitos, e a sua pior prestação em número de votos, com 13% do total.
O primeiro-ministro, David Cameron, reconheceu que o seu partido terá de “fazer um melhor trabalho” na campanha de 2015 para provar que tem “respostas” para questões como a imigração ou a reforma da Segurança Social. São os temas em que a pressão do UKIP mais se faz sentir sobre os conservadores: Cameron afastou liminarmente a possibilidade de uma parceria ou pacto eleitoral com os nacionalistas. “Somos o Partido Conservador. Não fazemos pactos ou acordos, lutamos para conquistar uma maioria clara”, frisou.

Num exercício de extrapolação dos resultados municipais para as legislativas de 2015, a Sky News e a BBC sugeriam ontem a repetição do cenário de Parlamento dividido que forçou a negociação de um governo de coligação em 2010. Mas, desta vez, são os trabalhistas que aparecem à frente, com 322 lugares na Câmara de Comuns, seguidos dos tories com 261 e os liberais-democratas com 37. As projecções confirmam a entrada de um deputado do UKIP.

Sem comentários: