sábado, 9 de novembro de 2013

O número de casos de cancro do pulmão disparou 50% no período de apenas dez anos em Pequim, capital da China, segundo dados divulgados neste sábado pela agência noticiosa daquele país, a Xinhua. China desesperadamente à procura de uma nova forma de crescer.

A cidade é conhecida pelo fenómeno de "smog"
O número de casos de cancro do pulmão disparou 50% no período de apenas dez anos em Pequim, capital da China, segundo dados divulgados neste sábado pela agência noticiosa daquele país, a Xinhua.
Apesar de as autoridades de saúde chinesas considerarem que o tabagismo continua a ser o factor número um a contribuir para este aumento exponencial, refere a BBC, não excluem que a forte poluição que afecta a cidade conhecida pelo fenómeno do “smog” esteja também a contribuir para mais problemas nas vias respiratórias da população, traduzindo-se no aumento de casos de oncológicos no pulmão.

A própria Organização Mundial de Saúde em dados recentes que tem publicado tem vindo a alertar para o peso que a poluição atmosférica está a ganhar como causadora deste tipo de patologia que mata milhões de pessoas em todo o mundo todos os anos.

Os dados divulgados pela agência Xinhua dizem apenas respeito a Pequim mas dão para perceber que em 2012 existiam 39,56 casos de cancro do pulmão por cada 100 mil habitantes, uma proporção que disparou em 2011 para os 63,09, diz a BBC.

As autoridades de saúde relacionam o cancro do pulmão como uma série de factores, colocando no topo da lista o estilo de vida do doente, sobretudo o facto de ser ou não fumador. Ainda assim reconhecem que tanto o fumo passivo como a poluição ambiental são também fortes ingredientes a contribuírem para a subida.

Recentemente a cidade chinesa de Harbin, no nordeste do país, chegou a estar praticamente encerrada depois de ter registado uma concentração de poluição no ar muitas vezes superior aos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde. As escolas fecharam, os voos foram suspensos, as auto-estradas foram encerradas e a visibilidade para quem andava nas ruas era mínima.

A densidade das minúsculas partículas no ar e causam o fenómeno do smog atingiu os 500 microgramas por metro cúbico, algumas fontes referiram 1000 microgramas. Em qualquer dos casos, é uma concentração muito acima dos 300 microgramas a partir dos quais a OMS considera haver perigo e dos 20 que são o limite diário recomendado.

OMS inclui poluição nas partículas cancerígenas

Os dados sobre Pequim e a situação de Harbin acontecem menos de um mês depois de o Centro Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), uma agência especializada da Organização Mundial de Saúde (OMS), ter decidido incluir oficialmente a poluição atmosférica na lista de agentes cancerígenos.

O estudo da organização revelado em Outubro dizia que a exposição à poluição atmosférica está na origem de cancro do pulmão e da bexiga. “O ar que respiramos tornou-se poluído com uma mistura de substâncias causadoras de cancro”, explicou o chefe da secção de monografias do IARC, Kurt Straif. “Sabemos agora que a poluição do ar não é só um risco para a saúde em geral, mas também uma das principais causas ambientais das mortes por cancro”, acrescentou.

De acordo com o estudo do IARC, o cancro do pulmão foi responsável pela morte a 223 mil pessoas, em 2010, mais de metade na China e noutros países do Leste Asiático e. Já a inalação de partículas presentes na poluição terá contribuído para mais de três milhões de mortes prematuras. Contudo, os investigadores alertam que, apesar de a composição do ar variar, as conclusões do estudo aplicam-se a todas as regiões do mundo.

O estudo detectou as principais fontes da poluição atmosférica, destacando os transportes, as estações de geração de energia, as emissões industriais e agrícolas, e o aquecimento e cozinhas domésticas.


A classificação da poluição do ar como agente cancerígeno deve servir, segundo o IARC, para pressionar os governos de todo o mundo. “Classificar a poluição atmosférica como um carcinogénico para os humanos é um passo importante”, considerou o director do centro, Christopher Wild. “Há formas eficazes de reduzir a poluição atmosférica e, dada a escala da exposição que afecta as pessoas em todo o mundo, este estudo deve enviar um sinal forte à comunidade internacional para tomar acções sem mais atrasos”, concluiu.

China desesperadamente à procura de uma nova forma de crescer

Pressões sociais, internacionais e ambientais limitam exportações
Depois de duas décadas a subir lugares no ranking das maiores economias do mundo graças às suas exportações, a China está agora à procura, com urgência, de alternativas, para além das vendas para o estrangeiro, para conseguir manter a sua economia a crescer, garantindo assim a manutenção de um clima de estabilidade social.
Este ano, de acordo com as últimas previsões do Governo, a economia chinesa deverá crescer a uma taxa de 7,5%. Para qualquer país europeu, isso seria um resultado extraordinário. Para a China, é já um sinal de alarme. A confirmar-se, será o crescimento anual do PIB mais fraco dos últimos 23 anos e fica muito próximo da fronteira definida pela próprias autoridades chinesas para um crescimento satisfatório para o país.
Em declarações feitas na semana passada, o primeiro-ministro, Li Keqiang, contabilizou de forma surpreendentemente precisa qual o ritmo de crescimento de que o país precisa para poder continuar a criar, pelo menos, mais dez milhões de empregos por ano. E esse limite é de 7,2%. Abaixo disso, a criação de empregos não chegaria para evitar um agravamento grave das pressões sociais num país que tem vindo a gerir com dificuldade crescente o conflito entre uma população rural pobre e uma população urbana mais rica.
A China caiu para tão próximo deste limite por uma série de motivos. Alguns são conjunturais, especialmente o facto de os grandes compradores de produtos chineses no mundo - a União Europeia e os Estados Unidos - estarem a passar por um período de procura interna mais fraca. Mas muitos são estruturais: menos capacidade de investimento, dificuldades crescentes da banca em conceder financiamento, menor aceitação social de salários baixos e más condições de trabalho, urgência em minimizar o problema ambiental e impossibilidade de manter uma política agressiva de desvalorização do yuan face às outras divisas internacionais.
Tudo combinado, a China está a sentir, numa conjuntura internacional difícil, dificuldade em garantir ganhos de competitividade que lhe permitam manter as exportações a crescer a um ritmo superior a 10%. Dados publicados ontem mostraram que em Outubro, as vendas de bens para o estrangeiro cresceram 5,6% face ao período homólogo do ano anterior. Ainda assim, registou-se uma melhoria de desempenho em relação a Setembro, quando as exportações caíram 0,3%.
A alternativa a este modelo de crescimento baseado nas exportações terá de estar, é claro, no estímulo do consumo privado e do investimento (num cenário em que a deterioração das contas públicas já aconselha a um abrandamento do investimento público).
Nos sinais que têm sido dados em relação ao que irá ser anunciado hoje pelo Presidente chinês, afirma-se que o objectivo passa por criar uma economia capaz de produzir um crescimento ambientalmente mais limpo, menos dependente das exportações e do investimento em infra-estruturas e mais baseado no consumo.
in Público

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