Matos Rodrigues (à esquerda), admitiu que a mudança de
executivo tornou possível uma nova visão sobre as ilhas do Porto
Câmara do Porto investe 400 mil euros num projecto
para as ilhas
25 nov 2013 / Pedro Sales Dias / Público / Porto
Autarquia quer recuperar
ilhas e vai criar o Laboratório Habitar e Sociedade na da Bela Vista. Objectivo
é melhorar as casas, instalar casais jovens e fazer voltar os antigos moradores
A partir do início do próximo ano, a reabilitação urbana não
será apenas um feito marcado em edifícios do centro histórico do Porto. A
autarquia quer reabilitar as características ilhas da cidade, há muitos anos
esquecidas para lá de portões que escondem o alojamento dos operários fabris de
outros tempos.
O projecto-piloto vai arrancar no inicio de 2014 com a
instalação do Laboratório Habitar e Sociedade na ilha da Bela Vista, na Rua D.
João IV. “As obras começarão no próximo ano. Queremos valorizar o projecto da
ilha da Bela Vista como um projecto que será ao mesmo tempo uma oportunidade
experimental para todas as ilhas. Também vamos proceder a um levantamento
rigoroso da situação das ilhas”, disse ao PÚBLICO o vereador da Habitação e da
Acção Social na Câmara do Porto (CMP), Manuel Pizarro, que ontem visitou aquele
espaço.
Aquela ilha tem cerca de 40 casas, das quais apenas 12 estão
ainda habitadas por idosos, a maioria já para lá dos 80 anos. Boa parte nasceu
lá. O arquitecto Fernando Matos Rodrigues, da direcção do laboratório, estima
que o investimento total, a cargo da edilidade, venha a ser de “400 mil euros”.
O anteprojecto será apresentado naquela ilha em Janeiro para que as obras se
iniciem no decorrer do ano no âmbito de um processo de “autoconstrução” com a
intervenção de moradores, explica.
Estima-se que existam, segundo Pizarro, ainda mais de mil
ilhas no Porto com 15 a
20 mil moradores. As casas estão, em muitos casos, “numa situação de grande
degradação, mas ao mesmo tempo” correspondem a um “ambiente social e
comunitário que nós temos de aproveitar”, sublinha. O socialista pretende que o
projecto naquela ilha – a única municipal e habitada que resta – sirva de
modelo para a intervenção noutras.
O laboratório irá estar atento às questões das condições de
habitação básica nas ilhas, assim como ao trabalho de reabilitação e
dinamização social do espaço. O projecto resulta de uma parceria entre a CMP, o
Mestrado em Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto, o Instituto
Superior de Serviço Social do Porto e a Universidade do Minho.
A Bela Vista, a par da ilha de Santo António perto da Casa
da Música, foi uma das cinco visitadas ontem por uma vasta comitiva da CMP na
qual se destacava também o vereador do urbanismo, Manuel Correia Fernandes.
“Vamos poder continuar aqui?”, perguntava Conceição, que se queixou de “ninguém
ligar à ilha há muitos anos”. O vereador assegurou que todos ficarão lá e até
receberão “casais jovens” e moradores que dali saíram.
“Vamos fazer aqui umas obrinhas, que acha Dona Ana?”,
questionou Pizarro. A moradora de 84 anos agradeceu. Nasceu ali, assim como a
mãe. Naquele espaço, as casas são exíguas e muitas não têm quarto de banho.
“Vamos resolver isso e pôr tudo direitinho para vocês”, sublinhou Pizarro. Em
troca foi convidado para sardinhada no final das obras.
Matos Rodrigues, um docente de antropologia do espaço que
estuda as ilhas desde a década de 1990, não dúvida de que este projecto “seria
impossível” com o executivo de Rui Rio. “Tinha uma visão de destruição e
erradicação das ilhas”, sublinha o responsável que deseja que aquele tipo de
espaço, visto como “estigmatizante” passe a ser um “activo de valorização
social”.
Neste sentido, Pizarro recorda que o principal objectivo do
actual executivo é a “coesão social”. O Porto “é uma cidade esquecida, mas com
imensas potencialidades”, acrescenta. Aliás, segundo Matos Rodrigues, vários
particulares já terão reconhecido as potencialidades futuras das ilhas da
cidade, comprando diversos daqueles espaços. “Este projecto piloto será uma
alavanca de motivação para os privados”, acredita.
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