segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O rosto dos neonazis na Eslováquia começa a definir-se e chama-se Marian Kotleba.


Slovak 'neo-Nazi' wins election in Banska Bystrica
Marian Kotleba, head of the ultra-nationalist Our Slovakia party, speaks at a press conference (November 24, 2013)
Ultra-nationalist Marian Kotleba was not expected to win the regional poll

Marian Kotleba won 55.5% of the vote in the run-off against Vladimir Manka from the Smer-Social Democrat party.

Mr Kotleba is a former leader of a banned far-right organisation who now leads the ultra-nationalist Our Slovakia party.

He has previously organised marches against Slovakia's Roma minority.

The now-banned neo-Nazi party which Mr Kotleba formerly led had expressed sympathy for the Nazi puppet state which ruled Slovakia during World War II.

The former teacher has called for Slovakia to withdraw from Nato, which his party brands a "terrorist" organisation.

Of Slovakia's other seven regions, six were won by the social democrats, the party of the Prime Minister Robert Fico, according to AP.

O rosto dos neonazis na Eslováquia começa a definir-se e chama-se Marian Kotleba
Por Alexandre Martins
25/11/2013 – in Público

Candidato do partido A Nossa Eslováquia é o novo governador da maior das oito regiões do país. A sua campanha assentou no fim do "tratamento preferencial injusto concedido a parasitas, e não apenas os ciganos".

Ao fim de uma década a promover um discurso de ódio contra os judeus e a comunidade cigana da Eslováquia, Marian Kotleba tornou-se no mais recente político europeu neonazi a conquistar poder nas urnas. Com uma surpreendente vitória na segunda volta, este antigo professor da escola secundária, de 36 anos, foi eleito governador da maior região do país nas eleições do último fim-de-semana.

Conhecido por usar uniformes nazis e por proferir declarações racistas – pelas quais já foi detido e acusado várias vezes, mas nunca condenado –, Marian Kotleba concorreu ao cargo de governador de Banská Bystrica, a maior das oito regiões eslovacas em área e a quinta em população, com quase 660 mil habitantes.

A principal mensagem, espalhada entre a população em pequenos comícios realizados com meios modestos, encontrou terreno fértil no descontentamento com os crescentes problemas económicos do país: "Acabar com o tratamento preferencial injusto concedido a parasitas, e não apenas os ciganos."

Antigo líder do partido neonazi Irmandade Eslovaca – entretanto ilegalizado pelo Ministério do Interior –, Marian Kotleba é um opositor feroz da NATO, que descreve como uma organização terrorista, e defende o fim de qualquer negociação ou acordo com o Fundo Monetário Internacional.

Presença constante em manifestações contra a comunidade cigana, foi proprietário de uma loja de roupa chamada KKK Anglická moda (KKK Moda Inglesa, numa referência ao Ku Klux Klan norte-americano). Em 2009, formou o partido A Nossa Eslováquia, e logo nesse ano obteve 10% nas eleições regionais para o cargo de governador.

Assume-se como profundamente cristão e admirador de Jozef Tiso, o padre católico que fundou e liderou a República Eslovaca durante a II Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, tornado-se aliado de Adolf Hitler e responsável pelo envio de milhares de judeus para campos de concentração.

Apesar de a sua vitória ter também resultado de uma afluência às urnas muito baixa, a rondar os 17%, Marian Kotleba já olha para o futuro, que fica no Governo do país. "O partido A Nossa Eslováquia vai lutar para equilibrar os Orçamentos do Estado, através do cancelamento das missões dos soldados eslovacos no estrangeiro e da saída da organização terrorista NATO. Vamos também cortar o apoio a investidores estrangeiros, em benefício dos investidores eslovacos", disse o líder neonazi um dia antes das eleições, citado pelo The Wall Street Journal.

Já com a vitória confirmada, limitou-se a dizer à agência eslovaca SITA que o seu sucesso não constituiu nenhuma surpresa e anunciou a intenção de reduzir o número de funcionários do seu gabinete de 49 para 40, avança o semanário em língua inglesa The Slovak Spektator.

Entre a vergonha e o choque
Os media e os analistas políticos do país dividem-se entre a vergonha e o choque, tentando encontrar explicações para a vitória, por mais de 55% dos votos, de um homem que tinha sido esmagado na primeira volta pelo candidato apoiado pelo centro-direita, Vladimír Manka, deputado no Parlamento Europeu.

A vitória de Marian Kotleba em Banská Bystrica foi "uma mistura de ódio, impotência e afronta contra as elites", escreve o diário SME.

O actual primeiro-ministro, o social-democrata Roberto Fico, atirou a responsabilidade para as costas da oposição, de centro-direita, que não apoiou o candidato mais bem posicionado para derrotar o líder neonazi. Mas o presidente do Partido Democrático, do centro-direita – que liderou um governo de coligação entre 2010 e 2012 – não aceitou assumir sozinho a culpa e preferiu lamentar o resultado das eleições na região de Banská Bystrica. "Temos de afirmá-lo abertamente: é uma derrota da democracia e um golpe que ninguém esperava", disse Pavol Frešo, distribuindo as responsabilidades por "todos os partidos democráticos".

A discriminação dos ciganos na Eslováquia (uma comunidade que constitui cerca de 7% da população) ao longo dos tempos e a alegada falta de combate ao discurso de ódio no país foram também apontadas como explicações. Citado pelo site do The Slovak Spektator, o analista Samuel Abrahám afirma que o principal culpado é o Governo dos sociais-democratas do Smer.


"Todas as representações políticas têm culpa, acima de todas o Smer, que não tem dito absolutamente nada sobre a questão dos roma", disse o analista político e director da Escola Internacional de Artes Liberais de Bratislava. Agora, resta esperar que a vitória dos neonazis sirva, pelo menos, para alargar o debate, afirmou. "Os votos das 70.000 pessoas que votaram em Kotleba não foram votos de protesto, foram uma resposta às palavras de um extremista que lhes agradou. Numa perspectiva cínica, diria que a Eslováquia precisava de Kotleba", comentou Samuel Abrahám, para quem o país deve agora começar a discutir a integração da comunidade cigana, o que seria "um triunfo sobre Kotleba".

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