O rosto dos neonazis na Eslováquia começa a definir-se
e chama-se Marian Kotleba
Por Alexandre Martins
25/11/2013 – in Público
Candidato do partido A Nossa Eslováquia é o novo governador
da maior das oito regiões do país. A sua campanha assentou no fim do
"tratamento preferencial injusto concedido a parasitas, e não apenas os
ciganos".
Ao fim de uma década a promover um discurso de ódio contra
os judeus e a comunidade cigana da Eslováquia, Marian Kotleba tornou-se no mais
recente político europeu neonazi a conquistar poder nas urnas. Com uma
surpreendente vitória na segunda volta, este antigo professor da escola
secundária, de 36 anos, foi eleito governador da maior região do país nas
eleições do último fim-de-semana.
Conhecido por usar uniformes nazis e por proferir
declarações racistas – pelas quais já foi detido e acusado várias vezes, mas
nunca condenado –, Marian Kotleba concorreu ao cargo de governador de Banská
Bystrica, a maior das oito regiões eslovacas em área e a quinta em população,
com quase 660 mil habitantes.
A principal mensagem, espalhada entre a população em
pequenos comícios realizados com meios modestos, encontrou terreno fértil no
descontentamento com os crescentes problemas económicos do país: "Acabar
com o tratamento preferencial injusto concedido a parasitas, e não apenas os
ciganos."
Antigo líder do partido neonazi Irmandade Eslovaca –
entretanto ilegalizado pelo Ministério do Interior –, Marian Kotleba é um
opositor feroz da NATO, que descreve como uma organização terrorista, e defende
o fim de qualquer negociação ou acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Presença constante em manifestações contra a comunidade
cigana, foi proprietário de uma loja de roupa chamada KKK Anglická moda (KKK
Moda Inglesa, numa referência ao Ku Klux Klan norte-americano). Em 2009, formou
o partido A Nossa Eslováquia, e logo nesse ano obteve 10% nas eleições
regionais para o cargo de governador.
Assume-se como profundamente cristão e admirador de Jozef
Tiso, o padre católico que fundou e liderou a República Eslovaca durante a II
Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, tornado-se aliado de Adolf Hitler e
responsável pelo envio de milhares de judeus para campos de concentração.
Apesar de a sua vitória ter também resultado de uma
afluência às urnas muito baixa, a rondar os 17%, Marian Kotleba já olha para o
futuro, que fica no Governo do país. "O partido A Nossa Eslováquia vai
lutar para equilibrar os Orçamentos do Estado, através do cancelamento das
missões dos soldados eslovacos no estrangeiro e da saída da organização
terrorista NATO. Vamos também cortar o apoio a investidores estrangeiros, em
benefício dos investidores eslovacos", disse o líder neonazi um dia antes
das eleições, citado pelo The Wall Street Journal.
Já com a vitória confirmada, limitou-se a dizer à agência
eslovaca SITA que o seu sucesso não constituiu nenhuma surpresa e anunciou a
intenção de reduzir o número de funcionários do seu gabinete de 49 para 40,
avança o semanário em língua inglesa The Slovak Spektator.
Entre a vergonha e o choque
Os media e os analistas políticos do país dividem-se entre a
vergonha e o choque, tentando encontrar explicações para a vitória, por mais de
55% dos votos, de um homem que tinha sido esmagado na primeira volta pelo
candidato apoiado pelo centro-direita, Vladimír Manka, deputado no Parlamento
Europeu.
A vitória de Marian Kotleba em Banská Bystrica foi "uma
mistura de ódio, impotência e afronta contra as elites", escreve o diário
SME.
O actual primeiro-ministro, o social-democrata Roberto Fico,
atirou a responsabilidade para as costas da oposição, de centro-direita, que
não apoiou o candidato mais bem posicionado para derrotar o líder neonazi. Mas
o presidente do Partido Democrático, do centro-direita – que liderou um governo
de coligação entre 2010 e 2012 – não aceitou assumir sozinho a culpa e preferiu
lamentar o resultado das eleições na região de Banská Bystrica. "Temos de
afirmá-lo abertamente: é uma derrota da democracia e um golpe que ninguém
esperava", disse Pavol Frešo, distribuindo as responsabilidades por
"todos os partidos democráticos".
A discriminação dos ciganos na Eslováquia (uma comunidade
que constitui cerca de 7% da população) ao longo dos tempos e a alegada falta
de combate ao discurso de ódio no país foram também apontadas como explicações.
Citado pelo site do The Slovak Spektator, o analista Samuel Abrahám afirma que
o principal culpado é o Governo dos sociais-democratas do Smer.
"Todas as representações políticas têm culpa, acima de
todas o Smer, que não tem dito absolutamente nada sobre a questão dos
roma", disse o analista político e director da Escola Internacional de
Artes Liberais de Bratislava. Agora, resta esperar que a vitória dos neonazis
sirva, pelo menos, para alargar o debate, afirmou. "Os votos das 70.000
pessoas que votaram em Kotleba não foram votos de protesto, foram uma resposta
às palavras de um extremista que lhes agradou. Numa perspectiva cínica, diria
que a Eslováquia precisava de Kotleba", comentou Samuel Abrahám, para quem
o país deve agora começar a discutir a integração da comunidade cigana, o que
seria "um triunfo sobre Kotleba".
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