quarta-feira, 27 de novembro de 2013

o Futuro da Calçada Portuguesa em Lisboa. Câmara está a ensaiar diferentes materiais.Finalmente um Regulamento de Urbanismo Comercial ?

Câmara está a ensaiar diferentes materiais

in Público
O vereador do Urbanismo afirma que a Câmara de Lisboa não tem ainda uma decisão tomada em relação ao futuro da calçada portuguesa na cidade. “Não temos nenhuma posição fechada sobre isso. Estão a ser ensaiados materiais diferentes em vários sítios”, explicou Manuel Salgado na reunião camarária de ontem. Quanto ao debate a que se tem assistido em vários fóruns sobre esta questão, o autarca considerou que ele “é útil”.
O vereador reconheceu que a calçada “é um elemento identitário” de Lisboa, que “tem de ser preservado” em determinadas zonas, e nalguns casos “melhorado e se necessário substituído” por material de melhor qualidade. Ainda assim, Manuel Salgado defendeu que outras zonas há em que “é possível e desejável usar materiais mais confortáveis e seguros”. O arquitecto deu como exemplos disso mesmo o Parque das Nações e a Alta de Lisboa, áreas em que a calçada, que “para ser bem feita é cara”, só foi adoptada em localizações excepcionais. 

"O vereador da Reabilitação Urbana admitiu a sua preocupação com o problema e avançou a intenção de criar “um regulamento de urbanismo comercial”. “Temos de tomar medidas no sentido de defender o comércio tradicional. É uma obrigação da câmara”, disse Manuel Salgado." 
CÂMARA DIZ-SE SEM MEIOS PARA DEFENDER COMÉRCIO TRADICIONAL

A Câmara Municipal de Lisboa diz que, de momento, não tem forma de estancar a razia de estabelecimentos de comércio tradicional, que fecham portas como consequência da Lei das Rendas. Para além das 170 lojas identificadas no Plano Director Municipal (PDM) como estabelecimentos a defender a todo o custo, a autarquia admite que pouco pode fazer para deter a vaga de encerramentos em virtude da incapacidade dos empresários fazerem face às novas rendas propostas pelos senhorios. “Este é um problema que nos preocupa e sobremaneira”, admite o verador do Urbanismo, Manuel Salgado. Em preparação está um regulamento comercial, que poderá vir a dificultar o desaparecimento de lojas mais carismáticas.

“O comércio da cidade tem sido muito afectado pela Lei das Rendas, com várias lojas emblemáticas a fecharem. A Câmara não tem capacidade de suprir as necessidades dos inquilinos que não conseguem pagar as suas rendas”, disse Salgado, durante a primeira reunião pública do executivo camarário, realizada na tarde desta quarta-feira – foi presidida por Fernando Medina, o “número dois” de António Costa, que não compareceu. A questão acabou por ocupar a primeira hora e meia da reunião, consequência da discussão de uma recomendação dos vereadores do PCP, João Ferreira e Carlos Moura, sobre esta matéria. O assunto deu azo a uma encarniçada discussão envolvendo questões políticas, jurídicas e administrativas. No final, e mesmo com alterações à proposta, a mesma acabou chumbada pela maioria socialista.

Mas deu para ver que o mandato se iniciou com as forças políticas cheias de vitalidade retórica e não desejando escusar-se a pelejas. Em causa estava a constatação de que, com o argumento de quererem fazer obras, muitos senhorios estão a fazer-se valer da nova lei para escorraçar os seus inquilinos. Se as habitações representam dramas pessoais e familiares, o fecho de estabelecimentos assume uma visibilidade bem maior. Reconheceram os representantes de todas as forças políticas, mesmo o PSD e CDS – que, enquanto Governo criaram o novo regime legal -, que esta situação está a decaracterizar a identidade da cidade. São muitos e frequentes os casos de lojas com história de décadas a terem que encerrar.

Os eleitos comunistas queriam, por isso, que o executivo desse “instruções aos serviços do município para que estes na recepção de pedidos de informação prévia e ou de licenciamento para as referidas obras e outras alterações tenham em conta a situação dos inquilinos habitacionais e não habitacionais e que os respectivos pedidos de licenciamento sejam definidos depois de uma análise mais profunda e concreta a esa situação”. Ou seja, cada casa deveria ser analisado de forma própria. E nesta pretensão tiveram o apoio dos eleitos pelos dois partidos da direita.

Mas a ideia não agradou aos membros do executivo, a começar por Manuel Salgado, vereador que tutela a área. “A Câmara não tem instrumentos para definir e especificar que usos comerciais devem ter os estabelecimentos. Para o bem e para o mal, temos uma Lei das Rendas e temos que cumprir a lei”, disse Salgado, invocando ainda o estrito cumprimento dos regulamentos. “Os serviços da câmara têm regras e não podem inventar outras. As balizas são muito rigorosas”. Tanto o Manuel Salgado, como Fernando Medina e ainda João Afonso recrimimaram a recomendação como sendo ferida de legalidade, por defender uma “apreciação política e não técnica”.

Manuel Salgado disse ser “apologista de que as lojas históricas não sejam removidas” e garantiu estar “atento a isso”. E até garantiu que os serviços por si dirigidos têm tido especial atenção para garantir que as obras de remodelação profunda não são meros expedientes para expulsar os lojistas-inquilinos de longa data. Quando disse que nada mais podia fazer senão cumprir o Regulamento Municipal de Urbanização e Edificação de Lisboa, o PCP alterou a sua recomendação para que ela contivesse uma proposta de alteração do dito regulamento nos artigos que dicessem respeito a este assunto. Mas a mesma acabou chumbada, apesar do apoio do resto da oposição – na qual se contaram as estreias dos vereadores do PSD Fernando Seara e Teresa Leal Coelho.


 Texto: Samuel Alemão

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