quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ambientalistas abandonam conferência climática da ONU. Polónia demite ministro do Ambiente durante negociações climáticas




Mais cedo para casa: ambientalistas abandonam estádio onde está a decorrer a conferência climática da ONU

Ambientalistas abandonam conferência climática da ONU

Acção em protesto contra lentidão das negociações para um novo tratado para combater o aquecimento global.
Várias organizações ambientalistas internacionais – incluindo a Greenpeace, Amigos da Terra e WWF – abandonaram a conferência climática da ONU que está a decorrer em Varsóvia, em protesto contra a lentidão nas negociações.
É o primeiro protesto do género, envolvendo simultaneamente várias organizações não-governamentais (ONG), na história das conferências climáticas da ONU, desde 1992, quando foi adoptada a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. As ONG não participam do processo decisório em si da convenção, mas são parte integrante de muitas discussões oficiais.

A conferência de Varsóvia é um ponto de passagem no caminho rumo a um possível novo tratado climático em 2015 para reduzir as emissões globais de carbono e combater o aquecimento global. Mas as negociações estão a avançar com muita dificuldade, sequestradas pela divisão clássica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Uma das pedras no sapato é a discussão sobre como os países ricos financiarão os mais pobres para lidarem com os efeitos das alterações climáticas. Também em causa está o calendário do que deve acontecer entre agora e 2015, especialmente os compromissos que devem ser assumidos pelos diferentes países.

Nos documentos em discussão em Varsóvia até esta quinta-feira apenas há menção para que sejam apresentadas propostas ou promessas até 2015. Mas o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, apelou aos países para apresentarem compromissos concretos até Setembro do próximo ano. Nessa altura, chefes de Estado e de Governo vão reunir-se em Nova Iorque para discutir o assunto, num evento promovido por Ban Ki-Moon à margem das negociações oficiais.

A conferência de Varsóvia tem sido marcada por uma série de episódios que acrescentam mais cepticismo sobre o resultado das negociações. O Japão, por exemplo, recuou nas suas metas de emissões de CO2: até à semana passada, o país prometia reduzir as emissões em 25% até 2020, em relação a 1990; agora diz que vai aumentá-las em 3%.

A Polónia, anfitriã da conferência, também tem sido criticada pelos ambientalistas, por promover o carvão – de que depende para produzir 90% da sua electricidade – num evento paralelo à reunião da ONU. Além disso, o ministro do Ambiente polaco, que preside à conferência de Varsóvia, foi demitido durante o próprio evento, no âmbito de uma remodelação ministerial anunciada pelo Governo na última quarta-feira.

“O Governo polaco fez de tudo para transformar estas negociações num show da indústria do carvão”, critica Kumi Naidoo, director da Greenpeace, num comunicado. “Além dos recuos do Japão, Austrália e Canadá, e da ausência de uma liderança significativa de outros países, os governos deram aqui uma bofetada na face dos que sofrem dos efeitos das alterações climáticas”, acrescenta.

Membros de organizações ambientalistas e humanitárias, como a Greenpeace, WWF, Amigos da Terra, Oxfam e Christian Aid, deixaram o estádio onde decorre a conferência vestindo camisolas com a inscrição “Nós voltaremos”.

Já a Rede de Acção Climática Europeia, que reúne organizações não-governamentais da UE, preferiu permanecer na conferência, apesar de compartilhar das razões do protesto. “O papel das ONG europeias é importante nesta fase”, justifica Francisco Ferreira, da associação portuguesa Quercus. A decisão de permanecer, acrescenta Francisco Ferreira, também leva em conta o facto de a UE, apesar de tudo, ter vindo a fazer um esforço maior do que muitos países no combate às alterações climáticas.

A conferência climática de Varsóvia está agendada para terminar nesta sexta-feira.

“Justificar a mudança do ministro com a necessidade de promover a exploração de mais um combustível fóssil na Polónia é algo que não tem explicação”, comenta Maciej Muskat, da organização ambientalista Greenpeace, num comunicado.
Os combustíveis fósseis são o principal vilão do aquecimento global.
Marcin Korolec (à direita) vai "presidir" as negociações climáticas até ao fim 


Polónia demite ministro do Ambiente durante negociações climáticas
Governante está a presidir à conferência da ONU sobre alterações climáticas em Varsóvia.
O ministro do Ambiente da Polónia, Marcin Korolec, foi demitido esta quarta-feira, num momento em que preside à conferência anual das Nações Unidas sobre alterações climáticas, na própria capital do país.
A saída de Korolec foi anunciada esta quarta-feira pelo primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, no âmbito de uma remodelação governamental. A principal mudança foi a substituição do ministro das Finanças, mas também foram nomeados novos responsáveis para as áreas da Ciência e Ensino Superior, Desporto e Administração.
O primeiro-ministro justificou a remodelação com a necessidade de “energia renovada” para o desenvolvimento do país. Mas a demissão do ministro do Ambiente foi anunciada numa conjuntura singular, quando quase duas centenas de países estão a discutir, na Polónia, os passos para se chegar a um novo acordo climático global em 2015.
Normalmente, as conferências anuais da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas são presididas pelo ministro do Ambiente do país anfitrião. Korolec vai continuar a liderar as negociações, que se prolongam até sexta-feira. Mas já não estará à frente das questões ambientais do país quando o evento terminar.

Prioridade é exploração de gás de xisto
O seu substituto, Maciej Grabowski, disse que a sua prioridade será a exploração de gás de xisto, uma forma de combustível fóssil que está a revolucionar o mercado mundial da energia. “Temos a possibilidade de nos tornarmos um país líder nesta área nos próximos meses”, afirmou, citado pela agência Reuters, numa conferência de imprensa esta quarta-feira, na qual o primeiro-ministro comunicou a remodelação.
“Justificar a mudança do ministro com a necessidade de promover a exploração de mais um combustível fóssil na Polónia é algo que não tem explicação”, comenta Maciej Muskat, da organização ambientalista Greenpeace, num comunicado.
Os combustíveis fósseis são o principal vilão do aquecimento global. E reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) – um dos objectivos das negociações em curso em Varsóvia – passa em grande medida pela utilização de fontes de energia alternativas ao petróleo, carvão e gás natural.
A Polónia, no entanto, depende umbilicalmente do carvão, combustível que é responsável por 90% da produção eléctrica do país. O Governo tem-se mostrado, por isso, contrário a uma elevação da meta de redução de emissões da União Europeia – que neste momento é de 20% até 2020.
Na semana passada, ao mesmo tempo em que começava a conferência climática da ONU, o Governo polaco promoveu um evento separado sobre a exploração do carvão.

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