O optimismo de
António Costa voltou a ser “irritante”
Garantir que “não
perderemos o controlo da situação” é encorajador. Afirmar, como António Costa
afirmou, que tudo está bem expõe um optimismo “ligeiramente irritante”, para
usar a expressão de Marcelo Rebelo de Sousa, que nem é real nem produtivo
MANUEL CARVALHO
23 de Março de
2020, 23:19
Há razões de
sobra para que, neste momento de grandes dificuldades e desafios para o país,
sejamos contidos nas críticas ao governo, ao Ministério da Saúde ou à
Direcção-Geral da Saúde. Temos de reconhecer que o combate ao novo coronavírus
está a ser feito num território novo, imprevisto e para o qual não é possível
aplicar conhecimentos e experiências anteriores. Mas entre o discurso prudente
que ouvimos ao primeiro-ministro no momento em que declarou o apoio do Governo
ao estado de emergência e as suas declarações desta segunda-feira, quando
afirmou que “até agora não faltou nada e não é previsível que venha a faltar o
que quer que seja” no combate ao vírus, há uma diferença que impõe um juízo:
António Costa fica melhor na primeira versão.
Sabemos que o
Governo está, como todos nós, sujeito a uma enorme pressão, a um tremendo
desgaste e a uma impressionante carga de trabalho. Sabemos também que tem feito
muito para dar resposta aos problemas. Sabemos, nomeadamente, que fez compras
de testes e de ventiladores, que reforçou a capacidade de acolher doentes
infectados com o novo coronavírus, que aumentou o quadro de pessoal dos médicos
e de enfermeiros. Mas, sabemos também que esse esforço é insuficiente. Sabemos
que os médicos, quem mais defende os cidadãos neste momento, estão muitas vezes
indefesos perante a ameaça do vírus. Sabemos que há hospitais que pedem
acetatos para fazerem óculos de protecção. Que não há luvas ou máscaras de
protecção. Sabemos que há falta de capacidade de fazer testes.
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