Inverno
“extremamente quente e seco” não deixa sossegar para o que aí vem
No final de
Fevereiro, 22,4% do território estava em situação de seca, 7,3% do qual estava
mesmo em seca extrema. O Sul é a região mais afectada, com preponderância, como
vem sendo habitual, para o Baixo Alentejo e o Algarve.
Patrícia Carvalho
Patrícia Carvalho
21 de Março de 2020, 7:00
Os meses de
Dezembro, Janeiro e Fevereiro trouxeram a Portugal um Inverno “extremamente
quente e seco”, indica o mais recente boletim climatológico sazonal do
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Temperaturas acima da média,
o mês de Fevereiro mais quente desde 1931 e 22,4% do território em alguma
espécie de seca (7,3% em seca extrema) não deixam ninguém sossegado em relação
ao que aí vem. A Primavera, que começou esta sexta-feira, até trouxe chuva, mas
o país está de novo à espera que os próximos meses sejam de muita precipitação,
para evitar mais um ano de seca.
No dia 23 de
Fevereiro a Lousã chegou aos 26,9 graus Celsius e isto está muito longe de ser
uma temperatura normal para o tradicional Inverno português. Só que um Inverno
tradicional é algo que existe cada vez menos e ver a estação mais fria e
chuvosa do ano transformar-se numa época mais quente e com menos chuva, ainda
que com períodos ocasionais de precipitação para lá do normal, é aquilo para
que nos andam a preparar as projecções dos especialistas em alterações
climáticas há já alguns anos.
Este ano, os
dados apontam, de novo, para um desses novos Invernos que mais frequentemente
passarão a ser os nossos. O IPMA indica que foi o segundo mais quente desde
1931, só ultrapassado pelo de 1990, mas que se olharmos para os meses
individualmente, Fevereiro foi mesmo o mais quente dos últimos 89 anos.
No geral, o valor
médio da temperatura média do ar dos três meses analisados foi de 11 graus
Celsius, o que corresponde a uma anomalia de 1,47 graus (ou seja, a temperatura
média esteve acima 1,47 graus em relação ao intervalo de tempo analisado). Já
se olharmos para o valor médio da temperatura máxima percebemos que, com 15,67
graus Celsius, ele foi o mais alto desde 1931, enquanto o valor médio da
temperatura mínima (6,33º C), ainda que estando também acima do normal, ficou
no último lugar do pódio, sendo o terceiro valor mais alto do intervalo.
Diferença entre
Norte e Sul acentuou-se
No que diz
respeito à precipitação, os três meses também registaram uma média inferior à
do período analisado, com os 275,1 milímetros (mm) de chuva registados a não
irem além de 78% do valor médio. Contudo, a situação não foi uniforme em todo o
território nem nos três meses analisados. Com as tempestades que assolaram o
país em Dezembro, este mês acabou por ter um volume de precipitação superior
aos valores médios - na Guarda, a 16 de Dezembro, foram registados 141,1 mm de
chuva, o valor mais alto de toda a estação - , mas não no Baixo Alentejo e no
Algarve. E como os dois meses seguintes ficaram abaixo da média, a diferença
entre Norte e Sul acentuou-se, e parte do território chegou ao final do Inverno
em situação de seca.
O boletim do IPMA
(um registo habitual, feito em todas as estações do ano), indica que no final
de Fevereiro apenas 37,5% do território se encontrava em situação considerada
“normal”, estando 0,8% em situação de chuva moderada e 9,1% com chuva fraca.
Havia 11% em seca fraca, 15,1% em seca moderada, 19,2% em seca severa e 7,3% em
seca extrema. O Baixo Alentejo e o Algarve são áreas mais afectadas por esta
situação, embora todo o Sul do país, e parte do centro, se encontra abrangido
por uma qualquer situação de seca.
Ricardo Deus,
chefe do departamento de Clima e Alterações Climáticas do IPMA, diz que “a
expectativa é que nos próximos dois meses, em que é normal ter precipitação até
com valores acima do normal, possa trazer precipitação que permita aumentar um
bocadinho as reservas de água que temos nas albufeiras”. Mas não arrisca
apostar se assim será até, porque, admite: “Futurologia no clima é muito
ingrato. Os indicadores de longo prazo para a precipitação não são muito
claros. Estatisticamente, não são significativos, o que quer dizer que, em
termos de precipitação, [os próximos meses] poderão não ser nada de
excepcional”, afirma.
tp.ocilbup@ohlavrac.aicirtap
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