|
While Rutte avoided fanning the flames in the dispute, he made clear the Netherlands would stick to its position on corona bonds. "We're not alone," he said. |
|
ANÁLISE
CORONAVÍRUS
Merkel conseguiu
evitar o pior. Resta saber por quanto tempo
A chanceler
salvou in extremis o Conselho Europeu. António Costa tornou-se viral. David
Sassoli lamentou que haja ainda quem não tenha entendido que a Europa nunca
mais será a mesma.
TERESA DE SOUSA
27 de Março de
2020, 23:26
1. Esperava-se
que corresse mal. Correu pior. A única réstia de esperança é que poderia ter
corrido ainda pior. Mas continua a ser legítimo dizer que não parece haver
número de infectados ou de mortos, cenários catastróficos para a economia,
números do desemprego a dispararem a uma velocidade raramente vista,
cidades-fantasmas, angústia generalizada quanto ao futuro, que consiga levar os
líderes dos 27 países da União Europeia a agirem como europeus. Foi triste a
imagem que o terceiro Conselho Europeu por teleconferência deu de si próprio. E
não foi por culpa de todos.
Também é legítima
uma discussão sobre dívida conjunta ou sobre o montante de crédito que o
Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) deve conceder aos Estados-membros. Ela
foi, certamente, intensa na última reunião do Eurogrupo que precedeu a cimeira
e que, perante a constatação de divisões insanáveis, preferiu passar aos
líderes a responsabilidade da decisão. Não é essa a questão essencial. O que é
mais perigoso na situação que a Europa vive neste momento e na sua incapacidade
de reagir em conjunto é que alguns dos seus líderes (ainda) não mudaram a sua
forma de pensar. Pensam hoje o que pensavam antes da pandemia.
António Costa:
“Excedi-me? Estão a brincar comigo?”
2. O
primeiro-ministro português referiu quatro países que se opuseram à emissão de
dívida conjunta para enfrentar a reconstrução económica e social da Europa.
Depois corrigiu: três irredutíveis e um quarto que aceita o debate. Não revelou
quais foram. Não lhe compete. Mas a forma como decorreu o Conselho, num clima
tão tempestuoso que ia levando à ruptura, permite algumas conclusões.
Que os Países
Baixos se opõem furiosamente aos eurobonds, seja qual for a forma que revistam,
já sabíamos, e não houve qualquer esforço de Mark Rutte em desmenti-lo. Foram,
aliás, as declarações do seu ministro das Finanças que levaram António Costa a
dizer o que disse durante a conferência de imprensa final do Conselho Europeu,
classificando-as de “repugnantes”. As suas palavras tornaram-se virais,
provavelmente porque exprimem um sentimento partilhado em muitos países
europeus. Na sexta-feira, o primeiro-ministro holandês não as quis comentar,
mas sentiu-se obrigado a esclarecer que as palavras do seu ministro terão sido
mal interpretadas – qualquer coisa entre “não escolheu bem as palavras” e “não
o interpretaram bem”. Rutte também disse que eram “muitos” os países que
pensavam como ele sobre a emissão de dívida. Hoje, sabemos que “muitos” quer
dizer quatro, mesmo que haja ainda alguns líderes europeus que tenham preferido
um relativo silêncio. Mesmo assim, nas últimas horas, mais três países juntaram
a sua assinatura aos nove chefes de Estado e de Governo que, na véspera da
cimeira, enviaram uma carta conjunta a Charles Michel, defendendo que a Europa
precisa de recorrer a todos os instrumentos à sua disposição para enfrentar
esta crise, incluindo a emissão de dívida. Entre eles, estão países ricos do
Norte, como a Bélgica ou o Luxemburgo, mas também a França, a Itália e a
Espanha, respectivamente a segunda, terceira e quarta economias do euro, ou
Portugal, Irlanda e Grécia e, a partir de sexta-feira, Malta, Chipre e
Lituânia.
3. O choque
frontal que quase levou o Conselho Europeu à ruptura foi, como seria de prever,
entre Mark Rutte e os primeiros-ministros dos dois países onde o sofrimento
atingiu já as proporções de uma tragédia humana: Giuseppe Conte e Pedro
Sánchez. Nem um nem outro estavam disponíveis para assinar uma Declaração
conjunta cheia de palavras vazias, espelhando apenas o “menor denominador
comum”, ou seja, o recurso ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) em
determinadas condições e a exclusão de “coronabonds”. A ruptura acabou por ser
evitada in extremis pela chanceler alemã através de uma intervenção considerada
em Lisboa como “construtiva e moderada”, ainda muito longe de ceder no que diz
respeito à emissão de dívida conjunta, mas capaz de evitar o pior. O argumento
de Angela Merkel em relação aos “coronabonds” não é igual ao “nunca, jamais” de
Rutte ou do chanceler austríaco Sebastian Kurz. O seu argumento é que não se
deve prometer o que não se tem a certeza de poder cumprir. Mesmo assim, a sua
intervenção permitiu aliviar a tensão e encontrar um acordo em torno do ponto
14.º da Declaração, onde nenhuma solução é mencionada para a reconstrução
económica pós-pandemia, nem nenhuma é rejeitada. O Eurogrupo volta a ser
mandatado para apresentar propostas concretas em duas semanas. “As propostas
devem ter em conta a natureza sem precedentes do choque da covid-19, que afecta
os nossos países todos”. “A nossa resposta decorrerá passo a passo, à medida
que for necessária, com novas acções e de uma forma inclusiva, à luz dos
desenvolvimentos e de forma a dar uma resposta abrangente.”
A Alemanha, como
Merkel voltou a dizer no final da reunião, prefere o recurso ao MEE. Mas uma
das razões pelas quais a Itália, entre outros países, se opõe a este mecanismo
de resgate europeu (240 mil milhões dos 410 de que dispõe, que correspondem ao
limite máximo de 2 por cento do PIB de cada país), está nas condicionalidades
que impõe para a concessão de empréstimos – vistas como uma espécie de
“programas de ajustamento” aplicados pela troika durante a crise das dívidas
soberanas, com a mesma natureza estigmatizante. Nenhum país, de Portugal a
Itália, quer voltar ao tempo da resposta à crise financeira de 2008, com as
suas hesitações, as suas decisões no último minuto, as suas “estratégias de
punição”, a sua execução em tempo recorde, impedindo as economias de respirar e
saldando-se em custos sociais elevados. Sexta-feira, António Costa voltou a
insistir nesta comparação.
Também esta
sexta-feira, o Financial Times resumia bem a discussão que envolveu os lideres
europeus. “Praticamente todos os países sairão desta crise com as suas dívidas
inflacionadas e um défice mais pesado. Perante um pano de fundo desta natureza,
discutir quem sairá com finanças ligeiramente mais saudáveis seria como
vangloriar-se de ter a cara mais limpa depois de um combate na lama.”
4. O Presidente
francês e o primeiro-ministro português insistiram no risco de vida que a
Europa corre. Não estarão a exagerar. Se esta é a maior crise que os europeus
enfrentam depois da II Guerra – como diz Merkel -, se esta é uma “guerra”
contra um inimigo comum que não escolha quem ataca, como voltou a dizer esta
sexta-feira António Costa, então a resposta só pode ter uma dimensão
equivalente. Também esta sexta-feira, o Presidente do Parlamento Europeu, o
italiano David Sassoli, manifestando a sua desilusão perante os fracos
resultados do Conselho Europeu, lembrou que “ninguém conseguirá escapar a esta
emergência sozinho”. “A Europa que vai emergir desta crise não será a mesma. Mas
há quem ainda não tenha compreendido isso.”
|
Dutch try
to calm north-south economic storm over coronavirus
Wounds
still raw from eurozone crisis reopened as Portuguese PM condemns ‘repugnant’
comments.
By HANS VON
DER BURCHARD, IVO OLIVEIRA AND ELINE SCHAART 3/27/20, 8:08 PM CET Updated
3/28/20, 7:55 AM CET
The
Netherlands tried Friday to calm outrage in southern Europe over its stance on
the economic response to the coronavirus after a Dutch minister's comments were
branded "repugnant" by Portuguese Prime Minister António Costa.
In an
unusually blunt rebuke to a fellow European Union member, Costa lashed out at
Dutch Finance Minister Wopke Hoekstra after a tense videoconference with fellow
EU national leaders on Thursday night. Spain also weighed in on Friday to
publicly chide Hoekstra in a north-south quarrel that reopened wounds still raw
from the eurozone debt crisis a decade ago.
The divide
has crystalized in a debate over whether the European Union should issue so-called
corona bonds — a proposed, joint debt instrument which all member countries
would guarantee. Nine countries including France, Spain, Italy and Portugal
have backed the idea while Germany and the Netherlands have rejected it.
Hoekstra
reportedly called for Brussels to investigate why some countries did not have
enough financial room for maneuver to weather the economic impact of the
crisis, which has claimed thousands of European lives and put the Continent on
lockdown.
"That
statement is repugnant in the framework of the European Union. And that's
exactly the right expression for it —repugnant," a visibly irritated Costa
declared. "No one has any more time to hear Dutch finance ministers as we
heard in 2008, 2009, 2010 and so forth.”
António Costa
made an unusually blunt rebuke to a fellow European Union member | Patricia De
Melo Moreira/AFP via Getty Images
Costa also
described the remarks as "senseless" and added, "this recurrent
pettiness completely undermines what the spirit of the European Union is.”
Hoekstra
made the comments in a video call with other EU ministers on Monday, calling
for the European Commission to prepare a report on which EU countries have
built up "financial buffers" in recent years, diplomats said. He
suggested the report should include a section on lessons learned for countries
that did not have such buffers in place, they said.
That view
provoked anger among southern European countries such as Spain, Italy and
Portugal, which were hit hard by the debt crisis and argue that austerity
policies forced upon them by the likes of the Netherlands and Germany left them
with little flexibility to build up such buffers.
The dispute
reflects broader resentment among both southern Europeans, who feel they are
often unfairly lectured by German, Dutch and Nordic leaders on financial
housekeeping, and their northern neighbors, who argue that they should not be
required to bail out governments who pursue what they see as irresponsible
fiscal policies.
Asked about
Costa's criticism on Friday, Dutch Prime Minister Mark Rutte tried to cool
things down. "I'll just let it go for now. It doesn't make much sense to
comment," he told reporters.
A Dutch
diplomat said the intention had not been to point fingers at other countries.
"The question asked was to see what lessons could be drawn for the future.
The minister did not name or single out any country," the diplomat said.
But Costa
stood by his criticism on Friday. Asked if he had gone too far, he replied:
“Are you kidding me?”
“Either the
EU does what it needs to be done or it will end,” he said. If anyone went too
far, Costa said, it was the Dutch minister.
“The last
thing a responsible politician can do when we see the dramas in Italy, Spain
and in all the other countries, is to not understand that the priority of
priorities is to fight this virus," Costa said.
Spanish
Foreign Minister Arancha González joined the criticism on Friday, writing on
Twitter: "Wopke Hoekstra, we are in this EU boat together. We hit an
unexpected iceberg. We all share the same risk right now. No time for
discussions about alleged 1st & 2nd class tickets."
While Rutte
avoided fanning the flames in the dispute, he made clear the Netherlands would
stick to its position on corona bonds. "We're not alone," he said.
"There
really was a difference of opinion between a number of more northern and
southern countries, along the well-known geographical lines, but nothing that
cannot be solved," he said, referring to Thursday's videoconference of EU
leaders.
Sem comentários:
Enviar um comentário