Coronavírus, o
dia seguinte
A actual
catástrofe na perspectiva Humana que representa o surto de coronavírus traz
óptimas notícias para o Planeta na perspectiva ecológica.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
16 de Março de
2020, 20:07
No passado dia 1
de Março, a NASA publicou uma comparação de imagens, verdadeiramente
impressionantes, entre os níveis de poluição de dióxido de azoto (N02) entre
2019 e 2020 no mesmo período na China central. Este período em 2020 corresponde
ao período de abrandamento da economia e da produção industrial motivados pela
quarentena do coronavírus. A diferença é abismal e provavelmente este último
período corresponde a uma das raras ocasiões nas três últimas décadas de
crescimento acelerado, onde a China se transformou na “fábrica do mundo”, em
que os seus habitantes viram o céu e se lembraram que habitam, como hóspedes, o
Planeta Terra.
Esse mesmo
Planeta que, segundo a NASA, teria que se quadruplicar, ou mesmo de se repetir
cinco vezes, para ter capacidade de absorver os níveis de consumo actuais da
sociedade americana.
A actual
catástrofe na perspectiva Humana que representa o surto de coronavírus traz
óptimas notícias para o Planeta na perspectiva ecológica. Com a paralisação da
espiral produtiva, a alteração dos níveis de consumo e a interrupção do modelo
(totalmente insustentável) do crescimento infinito e ilimitado, e também da
orgia global de consumo, o Planeta pode afrouxar um pouco a máscara que é
obrigado a utilizar devido ao vírus humano, e finalmente ter um pouco a ilusão
de poder respirar.
Vamos,
finalmente, aprender alguma coisa, parar para reflectir, durante esta pausa a
que fomos obrigados por este ‘factor externo’, microscópica mensagem emitida
pelo macro organismo onde estamos inseridos?
Na última crise,
a de 2008, não aprendemos absolutamente nada, pois a pegada de carbono não
parou de aumentar, apesar de nos restarem apenas dez anos para minimizar um
cataclismo sem retorno, de proporções bíblicas, através das alterações do
clima.
Se o nosso
‘episódio’ corona representa no tempo humano um importante e dramático
acontecimento, no tempo planetário ele é um insignificante ponto,
super-milimétrico e Uber-microscópico. Embora os efeitos da actividade humana
sejam evidentemente nocivos para o organismo planetário, a actual crise
ecológica e climática constitui um episódio na história da Terra.
O que está
ameaçada é a civilização humana e o ciclo de vida neste período planetário. O
planeta continuará, depois deste período de tosse convulsa, a ser provocado
pelo vírus humano. Cabe-nos, portanto, a nós decidir e escolher no curtíssimo
tempo que nos resta.
Uma última
ilustração da fragilidade e insustentabilidade do sistema e do modelo: no caos
e império do medo que reina no sistema das teias financeiras e económicas, os
únicos oráculos e ‘experts’ para onde os líderes mundiais se podem virar são os
virologistas.
Historiador de Arquitectura
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