sábado, 14 de março de 2020

Medidas extremas da China vão ter de ser copiadas? OMS diz que resultaram


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Entre Jinping e Trump

Na China, a capacidade de controlo de Xi Jinping vai ao ponto de conseguir medir a temperatura dos distribuidores de comida a cada duas horas e, na embalagem, é obrigatório que constem igualmente os valores da temperatura de quem confeccionou a refeição, bem como o seu contacto. Os passos de cada cidadão são controlados por uma aplicação instalada no telemóvel. Em contrapartida, cada cidadão tem, por exemplo, garantidas cinco máscaras gratuitas por semana. Por oposição ao exemplo italiano e ao que se passa nos Estados Unidos, com Donald Trump a recusar responsabilizar-se pelo que quer que seja que esteja relacionado com “o vírus estrangeiro” e a mostrar-se incapaz de tornar acessíveis os cuidados de saúde de que os norte-americanos precisam, não falta já quem questione se uma ditadura não estará mais bem preparada para conter o vírus. “Se se confirmar o aparente sucesso que a China está a ter a controlar isto, por contraste com outros países democráticos, mais gente pode começar a concluir que, afinal, o autoritarismo pode dar jeito, mesmo que em sacrifício de alguns direitos”, preocupa-se Aguiar-Conraria. O facto de a China ter, por via do seu extraordinário desempenho económico, “deitado por terra aquela ideia dos anos 80 e 90 de que eram os países com democracias mais sólidas que tinham melhores performances económicas”, não ajuda a pôr travão a tais ameaças aos regimes democráticos.https://ovoodocorvo.blogspot.com/2020/03/o-virus-do-medo-ja-contagiou-as.html

Medidas extremas da China vão ter de ser copiadas? OMS diz que resultaram

A China, onde tudo começou no final de 2019, aplicou a partir de meados de janeiro medidas inéditas para conter a epidemia: fechou cidades e isolou mais de 50 milhões dos seus cidadãos e construiu dois hospitais em duas semanas. A OMS diz que surtiu efeito. Resta saber como vai ser no resto do mundo.

Filomena Naves
14 Março 2020 — 00:29

As medidas de exceção que as autoridades chinesas impuseram no país a partir da segunda metade de janeiro, para tentar conter a epidemia provocada pelo novo coronavírus, isolando várias cidades e mais de 50 milhões de habitantes, conseguiram inverter ali a escalada do covid-19. É a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) que o atesta sem equívocos no seu relatório do final de fevereiro, no qual relata os resultados da sua missão à China, na sequência da epidemia.

O vírus já tinha entretanto escapado do seu epicentro inicial, a cidade de Wuhan, para outras regiões da Ásia, e para o resto mundo.

Inverteram-se agora as tendências. Enquanto a China reporta sistematicamente desde há duas ou três semanas números diários cada vez mais baixos de novos doentes - foram apenas 22 nesta sexta-feira -, o resto do mundo, e sobretudo a Europa, está mergulhado numa luta sem precedentes para travar a pandemia, com medidas inéditas em países democráticos em tempos de paz.

É o caso da quarentena decretada pelo governo de Itália em todo o seu território, no que pode ser, talvez, uma antevisão do que aí vem para outros países do mundo. Resta saber se o aparente sucesso das medidas de força tomadas na China pode ser replicado - e de que forma - nos países ocidentais de tradição democrática.

Em Itália, onde as autoridades de saúde não conseguiram travar logo no início a progressão da epidemia, os números tornaram-se rapidamente alarmantes e não há ainda efeitos visíveis da decisão extrema do governo de Giuseppe Conte, de fechar tudo no país, à exceção das farmácias, dos supermercados e dos bancos.

Com mais de 15 mil pessoas infetadas, das quais já morreram mais de mil (há outras 1153 em estado grave ou crítico), a Itália é agora o país do mundo com a situação mais grave, seguido do Irão, com 11 364 casos (só ontem registou mais 1289) e da Coreia do Sul, com um total de 7979 doentes. Neste último, no entanto, o número de novos casos diários já está a baixar.

A Coreia do Sul chegou a ser o principal foco da epidemia de covid-19, logo a seguir à China. Mas no dia 13 de março, o número de pacientes curados superou ali, pela primeira vez, o dos novos casos. Motivo: medidas expeditas de contenção da doença, sem necessidade de fechar tudo. Em vez disso, as autoridades têm estado a aplicar centenas de milhares de testes de diagnóstico à população e a seguir sistematicamente as cadeias de transmissão através de telemóveis e tecnologias via satélite, aplicando uma rigorosa quarentena a alguns milhares de pessoas. Parece estar a resultar.

Já na Europa, as coisas estão a complicar-se, não apenas em Itália, mas também noutros países, com números crescentes de novos casos diários, como acontece, por exemplo, em Espanha, o que levou a OMS a declarar que a Europa se tornou agora o epicentro da epidemia.

Altamente contagioso
O SARS-CoV-2 é o terceiro coronavírus a infetar humanos desde o início do milénio. Não é o mais mortal, mas é sem dúvida o mais contagioso, e não deixa de ter uma taxa de mortalidade preocupante de 3,4%, segundo a OMS. É por causa disso que está a mudar por completo o nosso dia-a-dia.

O primeiro coronavírus a saltar a barreira de espécies neste milénio foi o agora designado Sars-cov-1. Em 2002 emergiu também na China, a partir de morcegos, via civeta (uma espécie de gato selvagem), e até ao início de 2004 infetou 8096 pessoas, das quais 774 morreram - a sua taxa de mortalidade era de 9,6%.

Na década seguinte, em 2012, surgiu o MERS, outro coronavírus com origem em morcegos, que emergiu no Médio Oriente através de outro mamífero: o camelo. Este é muito menos contagioso, mas muito mais mortal: infetou até hoje 2494 pessoas, causando 858 mortes, no que é uma taxa de mortalidade de 34,4%.

Cada um deles desencadeou uma corrida ao desenvolvimento de vacinas e medicamentos, que terminados os surtos, esmoreceram sem terem dado origem a esses fármacos. Dada as semelhanças genéticas em cerca de 80% entre o Sars-coV-1 e o novo coronavírus, teria sido possível estar agora mais perto de uma vacina, se aquele trabalho não tivesse sido interrompido, consideram os especialistas. E essa é, sem dúvida, uma das lições a tirar para o futuro

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