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Entre Jinping e Trump
Na China, a capacidade de controlo de Xi Jinping vai ao ponto de conseguir medir a temperatura dos distribuidores de comida a cada duas horas e, na embalagem, é obrigatório que constem igualmente os valores da temperatura de quem confeccionou a refeição, bem como o seu contacto. Os passos de cada cidadão são controlados por uma aplicação instalada no telemóvel. Em contrapartida, cada cidadão tem, por exemplo, garantidas cinco máscaras gratuitas por semana. Por oposição ao exemplo italiano e ao que se passa nos Estados Unidos, com Donald Trump a recusar responsabilizar-se pelo que quer que seja que esteja relacionado com “o vírus estrangeiro” e a mostrar-se incapaz de tornar acessíveis os cuidados de saúde de que os norte-americanos precisam, não falta já quem questione se uma ditadura não estará mais bem preparada para conter o vírus. “Se se confirmar o aparente sucesso que a China está a ter a controlar isto, por contraste com outros países democráticos, mais gente pode começar a concluir que, afinal, o autoritarismo pode dar jeito, mesmo que em sacrifício de alguns direitos”, preocupa-se Aguiar-Conraria. O facto de a China ter, por via do seu extraordinário desempenho económico, “deitado por terra aquela ideia dos anos 80 e 90 de que eram os países com democracias mais sólidas que tinham melhores performances económicas”, não ajuda a pôr travão a tais ameaças aos regimes democráticos.https://ovoodocorvo.blogspot.com/2020/03/o-virus-do-medo-ja-contagiou-as.html
Medidas extremas da China vão ter de ser copiadas? OMS diz que resultaram
A China, onde
tudo começou no final de 2019, aplicou a partir de meados de janeiro medidas
inéditas para conter a epidemia: fechou cidades e isolou mais de 50 milhões dos
seus cidadãos e construiu dois hospitais em duas semanas. A OMS diz que surtiu
efeito. Resta saber como vai ser no resto do mundo.
Filomena Naves
14 Março 2020 —
00:29
As medidas de
exceção que as autoridades chinesas impuseram no país a partir da segunda
metade de janeiro, para tentar conter a epidemia provocada pelo novo
coronavírus, isolando várias cidades e mais de 50 milhões de habitantes,
conseguiram inverter ali a escalada do covid-19. É a própria Organização
Mundial da Saúde (OMS) que o atesta sem equívocos no seu relatório do final de
fevereiro, no qual relata os resultados da sua missão à China, na sequência da
epidemia.
O vírus já tinha
entretanto escapado do seu epicentro inicial, a cidade de Wuhan, para outras
regiões da Ásia, e para o resto mundo.
Inverteram-se
agora as tendências. Enquanto a China reporta sistematicamente desde há duas ou
três semanas números diários cada vez mais baixos de novos doentes - foram
apenas 22 nesta sexta-feira -, o resto do mundo, e sobretudo a Europa, está
mergulhado numa luta sem precedentes para travar a pandemia, com medidas
inéditas em países democráticos em tempos de paz.
É o caso da
quarentena decretada pelo governo de Itália em todo o seu território, no que
pode ser, talvez, uma antevisão do que aí vem para outros países do mundo.
Resta saber se o aparente sucesso das medidas de força tomadas na China pode
ser replicado - e de que forma - nos países ocidentais de tradição democrática.
Em Itália, onde
as autoridades de saúde não conseguiram travar logo no início a progressão da
epidemia, os números tornaram-se rapidamente alarmantes e não há ainda efeitos
visíveis da decisão extrema do governo de Giuseppe Conte, de fechar tudo no
país, à exceção das farmácias, dos supermercados e dos bancos.
Com mais de 15
mil pessoas infetadas, das quais já morreram mais de mil (há outras 1153 em
estado grave ou crítico), a Itália é agora o país do mundo com a situação mais
grave, seguido do Irão, com 11 364 casos (só ontem registou mais 1289) e da
Coreia do Sul, com um total de 7979 doentes. Neste último, no entanto, o número
de novos casos diários já está a baixar.
A Coreia do Sul
chegou a ser o principal foco da epidemia de covid-19, logo a seguir à China.
Mas no dia 13 de março, o número de pacientes curados superou ali, pela
primeira vez, o dos novos casos. Motivo: medidas expeditas de contenção da
doença, sem necessidade de fechar tudo. Em vez disso, as autoridades têm estado
a aplicar centenas de milhares de testes de diagnóstico à população e a seguir
sistematicamente as cadeias de transmissão através de telemóveis e tecnologias
via satélite, aplicando uma rigorosa quarentena a alguns milhares de pessoas.
Parece estar a resultar.
Já na Europa, as
coisas estão a complicar-se, não apenas em Itália, mas também noutros países,
com números crescentes de novos casos diários, como acontece, por exemplo, em
Espanha, o que levou a OMS a declarar que a Europa se tornou agora o epicentro
da epidemia.
Altamente
contagioso
O SARS-CoV-2 é o
terceiro coronavírus a infetar humanos desde o início do milénio. Não é o mais
mortal, mas é sem dúvida o mais contagioso, e não deixa de ter uma taxa de
mortalidade preocupante de 3,4%, segundo a OMS. É por causa disso que está a
mudar por completo o nosso dia-a-dia.
O primeiro
coronavírus a saltar a barreira de espécies neste milénio foi o agora designado
Sars-cov-1. Em 2002 emergiu também na China, a partir de morcegos, via civeta
(uma espécie de gato selvagem), e até ao início de 2004 infetou 8096 pessoas,
das quais 774 morreram - a sua taxa de mortalidade era de 9,6%.
Na década
seguinte, em 2012, surgiu o MERS, outro coronavírus com origem em morcegos, que
emergiu no Médio Oriente através de outro mamífero: o camelo. Este é muito
menos contagioso, mas muito mais mortal: infetou até hoje 2494 pessoas,
causando 858 mortes, no que é uma taxa de mortalidade de 34,4%.
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