“Com
a chegada ao Governo da coligação PSD-CDS, Summavielle enfrentou
muitas críticas por ter aceitado o cargo de director da DGPC, a
convite do então secretário de Estado da Cultura, Francisco José
Viegas. Comentava-se nos corredores da Ajuda e fora deles que tinha
sido escolhido pelo escritor porque ambos eram maçons. Militante de
base do PS, maçon que não frequenta muito as sessões e
“republicano fora de época” – assim era parte do retrato que
de si mesmo fez na referida entrevista de 2012 -, rejeitou sempre tal
associação.”
(
… ) “Agora não faltará quem defenda que são as mesmas
filiações maçónicas, que tanto João Soares como Elísio
Summavielle assumem publicamente, a explicar a sua entrada no CCB.
Outros argumentarão que a presidência do CCB é um cargo de
confiança política.”
LUCINDA
CANELAS / PÚBLICO / 1-3-2016
Ministro
da Cultura afasta António Lamas do CCB e nomeia Elísio Summavielle,
outro homem do património
LUCINDA
CANELAS 29/02/2016 - 21:59 (actualizado às 23:13) / PÚBLICO
João
Soares cumpriu o prometido na sexta-feira e afastou o presidente do
CCB. Para seu substituto escolheu um dos seus adjuntos, um técnico
do património com quem tem vindo a trabalhar desde 1990.
O
ultimato foi apresentado na sexta-feira e cumprido três dias depois.
A 26 de Fevereiro, depois da apresentação do Orçamento de Estado
para a Cultura no Parlamento, João Soares dissera aos jornalistas
que, caso não lhe chegasse até esta segunda-feira qualquer pedido
de demissão do presidente do Centro Cultural de Belém (CCB), iria
usar dos instrumentos legais à sua disposição para o afastar. E
foi precisamente o que fez esta segunda-feira.
Depois
de um dia com a agenda carregada no Alentejo e em Lisboa, o ministro
da Cultura recebeu já de noite, no seu gabinete, António Lamas, “a
quem entregou cópia do despacho da sua exoneração do cargo de
presidente do Centro Cultural de Belém”, informa o comunicado que
chegou às redacções às 22h. “O novo presidente do Centro
Cultural de Belém será o Dr. Elísio Summavielle”, lê-se a
fechar a breve nota do gabinete de João Soares.
O
PÚBLICO não conseguiu ainda obter qualquer reacção de Lamas nem
de Summavielle. Também não foi possível ainda determinar se o
Estado terá de pagar alguma indemnização ao antigo presidente do
CCB, cujo mandato, se cumprido até ao fim, só deveria terminar em
Outubro de 2017.
O
braço de ferro
Para
o lugar ocupado pelo ex-presidente da Parques de Sintra - Monte da
Luz desde Outubro de 2014 irá agora Elísio Summavielle, 59 anos, um
técnico superior formado em História e militante socialista que já
passou por diversos organismos públicos ligados ao património desde
a década de 1980, ocupando várias vezes cargos de direcção.
Summavielle era agora adjunto de João Soares.
Na
sexta-feira, e sem querer avançar um nome, o ministro dissera já
aos deputados ter encontrado um substituto para Lamas: "[É] uma
solução alternativa, capaz, de alguém com experiência, bastante
mais jovem, com provas dadas, nomeadamente ao nível de
responsabilidades públicas num ministério.”
António
Lamas, 69 anos, assumira a presidência em Outubro de 2014, a convite
do governo de Passos Coelho, mas fizera questão de lembrar ao
PÚBLICO, na semana passada, que não militava em partido algum e que
já exercera funções de gestor público por nomeação de governos
PS, PSD e de coligação PSD-CDS. Com o convite do anterior governo,
Lamas assumira também o encargo de criar um plano estratégico para
a gestão do chamado eixo Belém-Ajuda, a área monumental mais
visitada do país, entregue ao ainda governo de coligação CDS-PSD
em Agosto do ano passado. Esse plano, que visava a gestão integrada
daquele espaço urbano – três dezenas de locais e equipamentos de
interesse turístico entre monumentos, museus e jardins –, foi
concebido por uma estrutura de missão chefiada pelo próprio Lamas,
equipa que o actual executivo socialista decidiu extinguir.
Em
Conselho de Ministros, e segundo uma resolução publicada em Diário
da República (DR) na passada quarta-feira, 24 de Fevereiro, o
governo de António Costa considerou que esta estrutura poderia vir a
“comprometer a missão e o papel” do CCB “no quadro da sua
intervenção prioritária”, a do apoio à criação artística
contemporânea e à sua divulgação. Uma preocupação que era já
comum a muitos agentes do meio cultural, que vêm criticando a
programação cada vez menos relevante da casa.
No
mesmo texto do DR, muito breve, sublinhava-se ainda que nesta tomada
de posição pesara o facto de a equipa do então presidente do CCB
não ter ouvido a Câmara Municipal de Lisboa, um dos principais
agentes no terreno, no decorrer dos trabalhos que levaram ao novo
projecto para Belém. Acusação que Lamas viria a refutar de forma
peremptória, sem avançar nomes dos vereadores e dos técnicos com
quem ele e a sua equipa haviam reunido diversas vezes.
Antes
destas declarações de António Lamas, já o ministro da Cultura
dissera numa entrevista ao semanário Expresso (20 de Fevereiro) que
o presidente do CCB devia tirar as “devidas consequências” de
ver extinta a equipa que chefiara no eixo Belém-Ajuda, deixando nas
entrelinhas que esperava dele um pedido de demissão. Um pedido que
António Lamas garantiu ao PÚBLICO não estar disponível para
apresentar. O braço de ferro terá terminado agora.
Património
e política
Elísio
Summavielle começou a trabalhar na área do património desde que em
meados da década de 1980 se tornou técnico superior do Instituto
Português do Património Cultural, o IPPC, organismo de que a actual
Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) é herdeira e a que
António Lamas presidiu entre 1987 e 1990.
Foi
precisamente em 1990 que, profissionalmente, os caminhos de
Summavielle e do actual ministro da Cultura se cruzaram pela primeira
vez. João Soares era vereador da cultura e requisitou-o ao IPPC para
seu assessor. No ano seguinte, o agora presidente do CCB tornou-se
chefe da divisão de património cultural da autarquia, sendo
reconduzido em 1994, ano da Lisboa Capital Europeia da Cultura, em
cuja sociedade foi representante da câmara (1993-1994).
Da
Câmara Municipal de Lisboa Summavielle passou para a já extinta
Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), onde
foi subdirector entre 1996 e 1999. Com a experiência adquirida na
DGEMN e no antigo IPPC, este socialista que nunca escondeu ambições
políticas chegou a liderar, depois, os três organismos que se
ocuparam do património: primeiro o Instituto Português do
Património Arquitectónico, em 2005, seguido do Instituto de Gestão
do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), onde chegou
em 2007, e da presente DGPC, por cuja direcção teve uma passagem
fugaz, entre Fevereiro e Novembro de 2012. Menos de um mês depois de
deixar a direcção deste megaorganismo que ajudou a conceber,
fundindo os institutos que se ocupavam do património e dos museus,
era candidato à presidência da Câmara Municipal de Mafra pelo PS,
eleição que perdeu para Hélder Sousa Silva e para o PSD.
Na
entrevista que dera ao PÚBLICO em Agosto de 2012, três meses antes
de se afastar da DGPC, deixara bem claro que chefiar uma autarquia
estava nos seus planos: “Dos 272 concelhos que conheço no país há
pelo menos 20 onde eu não me importaria de ir a uma eleição
local”, disse na altura.
Pelo
meio, entre 2009 e 2011, as suas responsabilidades no aparelho de
Estado tinham-se avolumado ao aceitar ser secretário de Estado da
Cultura, num período em que à frente do ministério estava a agora
deputada socialista Gabriela Canavilhas.
Com
a chegada ao Governo da coligação PSD-CDS, Summavielle enfrentou
muitas críticas por ter aceitado o cargo de director da DGPC, a
convite do então secretário de Estado da Cultura, Francisco José
Viegas. Comentava-se nos corredores da Ajuda e fora deles que tinha
sido escolhido pelo escritor porque ambos eram maçons. Militante de
base do PS, maçon que não frequenta muito as sessões e
“republicano fora de época” – assim era parte do retrato que
de si mesmo fez na referida entrevista de 2012 -, rejeitou sempre tal
associação.
Quando,
menos de um ano depois, apresentou a sua demissão ao substituto de
Viegas, Jorge Barreto Xavier, evocou “razões pessoais” para o
afastamento, defendendo que assumira o cargo num “cenário
irrepetível” – o convite fora feito por um secretário de Estado
de quem era amigo há mais de 20 anos e que colocara “inequivocamente
o património no centro da sua acção [política]”.
Agora
não faltará quem defenda que são as mesmas filiações maçónicas,
que tanto João Soares como Elísio Summavielle assumem publicamente,
a explicar a sua entrada no CCB. Outros argumentarão que a
presidência do CCB é um cargo de confiança política.
Summavielle
fazia já parte da equipa do ministro na Ajuda, que o requisitara à
DGPC para seu adjunto.
O
que significará para o eixo Belém-Ajuda a escolha de o substituto
de António Lamas ter recaído sobre um técnico com uma já longa
carreira no património? O tempo o dirá.
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